folhapress -01/08/2024 12:35
O Ministério Público da Venezuela, órgão alinhado ao regime
de Nicolás Maduro, disse nesta quarta-feira (31) que 1.064 pessoas foram presas
desde o anúncio da vitória do ditador nas eleições do último domingo (28), cujo
resultado contestado pela oposição levou milhares de pessoas às ruas.
De acordo com o Procurador-Geral, Tarek William Saab, os
detidos vão ser acusados de envolvimento com focos de violência durante os
protestos contra o regime. "Não vai ter clemência, vai ter justiça",
disse Saab enquanto mostrava vídeos de depredação de casas e espaços públicos
que afirma terem sido gravados a partir do pós-eleição.
O Ministério Público também informou a morte de um policial
em confrontos no estado de Aragua. Outros 77 ficaram feridos ao redor do país.
Já a ONG Foro Penal, que acompanha a situação de presos
políticos na Venezuela, contabilizava 429 prisões diretamente ligadas aos
protestos e pelo menos 11 mortes. A líder opositora María Corina Machado, força
política por trás da candidatura de Edmundo González, disse que são 16 mortes e
11 sequestros desde domingo.
"Essa é a resposta criminosa de Maduro ao povo
venezuelano que saiu às ruas em família, em comunidade, para defender sua
decisão soberana de ser livre. Esses crimes não ficarão impunes", disse
María Corina.
A líder opositora e González reivindicam vitória nas
eleições presidenciais, com pesquisas e análises independentes apontando que
Maduro foi derrotado nas urnas. O regime ainda não publicou as atas que
comprovariam o resultado divulgado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) no
domingo, segundo o qual Maduro teve 51% dos votos e González, 44%.
Países como Brasil, Colômbia e Estados Unidos pedem a
divulgação desses documentos para que a vitória de Maduro nas eleições possa
ser atestada, enquanto o Palácio de Miraflores afirma ter havido um ataque
hacker que impossibilita sua publicação.
Desde segunda-feira (29), protestos contra o regime em
diversas partes do país têm sido recebidos com repressão e violência por parte
das forças policiais. O chefe das Forças Armadas venezuelanas, Vladimir Padrino
López, disse que há uma tentativa de golpe de Estado em curso contra o regime
comandada por "interesses do imperialismo norte-americano".
Jorge Rodríguez, um dos nomes mais importantes do chavismo e
presidente da Assembleia Nacional controlada pelo regime, pediu a prisão de
María Corina e González por "atos de vandalismo no país". O também
radical Diosdado Cabello, outro no alto escalão chavista, disse na mesma
Assembleia que os dois líderes opositores seriam "acusados perante as
autoridades competentes pelo mais graves crimes".
A missão da ONU na Venezuela organizada pelo Conselho de
Direitos Humanos da organização e com mandato até o próximo mês de setembro,
manifestou preocupação com o cenário social.
Em nota, disse que tem conhecimento de "grupos de
segurança pública e pessoas vestidas como civis que, identificadas inicialmente
como membros dos 'colectivos', disparam com arma de foto contra pessoas que
estejam se manifestando [contra o regime]".
O chamados coletivos são grupos sociais que trabalham em
projetos de organização comunal criados na época de Hugo Chávez (1954-2013),
mas que a oposição e alguns especialistas independentes dizem que se
transformaram em grupos paramilitares que, armados, atual à margem da lei para
fazer cumprir as ordens da ditadura.
A missão da ONU diz ter informações de atos de violência
contra civis em 17 do 23 estados na Venezuela e na capital. Afirma ainda que
tem conhecimento de ao menos seis pessoas mortas e outras dezenas de feridos.