g1 -23/05/2022 19:18
Após anunciar
a desistência de sua pré-candidatura à Presidência nesta segunda-feira
(23), o ex-governador de São Paulo João Doria afirmou
que não vai deixar o PSDB.
"Eu não vou sair do PSDB. Eu disse isso hoje
na minha manifestação na hora do almoço. Eu continuo a exercitar aquilo que
representou minha vontade de estar no PSDB. Eu só tive um
partido, tenho 22 anos de PSDB. Eu não mudei de
partido, não mudo de partido e não vou mudar de partido", disse.
Segundo o ex-governador, sua decisão de não levar à Justiça
o impasse após sua vitória nas prévias do partido foi um "gesto pelo
país".
"Eu tenho a compreensão de que, neste momento, o meu
gesto pode ajudar o partido. E meu gesto pode ajudar meu país. Se isso puder
ser interpretado desta maneira, é o que desejo. E pra isso eu não preciso
advogar, ainda que tivesse direito, pelo resultado das prévias, que nos deu a
vitória. Ter gestos e atitudes pode representar algo construtivo, bom para o
Brasil."
Doria anunciou a desistência de sua pré-candidatura em
pronunciamento na Zona Sul de São Paulo no início da tarde. O ex-governador
enfrentava resistências internas no PSDB e de partidos
da chamada terceira via.
"Para as eleições deste ano me retiro da disputa com o
coração ferido, mas com a alma leve", disse mais cedo.
A decisão do tucano foi anunciada um dia antes de a
executiva do PSDB se
reunir para definir como o partido se posicionará na disputa presidencial de
outubro.
Doria foi escolhido como pré-candidato em eleição interna do
partido ao derrotar o ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite . A
vitória na disputa interna gerou tensões com a ala do PSDB que defendia a
candidatura de Leite.
No final de março, o ex-governador de São Paulo chegou a
ameaçar desistência de sua pré-candidatura, mas voltou atrás e fez o lançamento
no mesmo dia. O movimento foi
lido como uma espécie de contra-ataque aos apoiadores de Leite.
Em seu pronunciamento, o ex-governador afirmou que o Brasil
"precisa de uma alternativa para oferecer aos eleitores que não querem os
extremos". "Hoje, neste 23 de maio, serenamente, entendo que não sou
a escolha da cúpula do PSDB. Aceito esta
realidade de cabeça erguida", afirmou o ex-governador.
Presente no anúncio de Doria, o presidente nacional do PSDB, Bruno
Araújo, defendeu
uma candidatura única com MDB e Cidadania para
as eleições de outubro.
"Nós temos um entendimento de diálogo com o Cidadania e
com o MDB e
nós vamos dar um passo à frente agora. A construção agora não é só definir o
nome - e o nome de Simone é um nome posto nessa construção -, mas agora
precisamos construir um projeto de compromisso de programa com o Brasil",
disse Araújo.
Momentos depois da desistência do ex-governador, Simone
Tebet (MDB) afirmou
que espera contar com "sugestões" de Doria para o programa
de governo dela.
"Doria nunca foi adversário. Sempre foi aliado. Sua
contribuição com a luta pela vacina jamais será esquecida. Vamos conversar e
receber suas sugestões para nosso programa de governo", disse em nota.
Segundo apurou o Blog da Julia Dualibi, Doria
teria dito a aliados que ficou aliviado com a decisão e que deve se dedicar a
um projeto empresarial.
Vitória nas prévias e conflitos
Em novembro do ano passado, Doria foi escolhido como
pré-candidato do PSDB à
Presidência da República ao derrotar, em eleição interna, o ex-governador do
Rio Grande do Sul Eduardo Leite e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto.
Na ocasião, após
um processo tumultuado, o ex-governador de São Paulo recebeu 53,99% dos
votos, enquanto Leite obteve 44,66% e Virgílio, 1,35%.
Desde então, Doria tenta se manter como candidato, apesar
dos rachas internos no partido. No dia 15 de maio, ele chegou a enviar
uma carta ao presidente do PSDB, Bruno Araújo, em que subia o tom ao
reafirmar que não desistiria da candidatura e que poderia judicializar a
situação, caso fosse abandonado pela sigla.
Terceira via
Apesar de ter realizado as prévias, o PSDB manteve
contato com outras legendas, como o MDB e o Cidadania, a fim de
construir uma candidatura única de centro ao Palácio do Planalto, que tem sido
chamada de "terceira via". Seria uma alternativa aos nomes do
presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Lula (PT).
Bruno Araújo tem dito que as articulações com outras siglas
de centro contaram com a "anuência" de João Doria.
As conversas em torno de uma candidatura única da terceira
via, entretanto, não têm avançado. Recentemente, o União Brasil,
presidido pelo deputado Luciano Bivar (PE), que estava participando das
negociações, anunciou
o desembarque do partido do grupo. Segundo Bivar, o União Brasil terá
candidatura própria no pleito de outubro.
O impasse dentro do PSDB e a indicação,
por meio de pesquisas eleitorais, de uma disputa polarizada entre Lula e
Bolsonaro levaram o ex-ministro das Relações Exteriores e ex-senador Aloysio
Nunes a anunciar
apoio ao petista na disputa.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo",
Aloysio Nunes, que é filiado ao PSDB há décadas,
disse que Doria “não tem apoio consistente dentro do próprio PSDB”.
E declarou que Lula é o candidato capaz de derrotar Jair
Bolsonaro. "Não há hesitação possível. Vou apoiá-lo [Lula] no primeiro
turno”, afirmou Nunes.