cnn -01/05/2024 18:54
O
ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não descartou a
possibilidade de violência política por parte de seu partido caso não seja
eleito nas eleições de novembro.
“Não acho que teremos isso”, disse o pré-candidato do
partido Republicano para a revista Time. “Acho que vamos ganhar. E se não
ganharmos, você sabe, depende. Sempre depende da imparcialidade das eleições”.
As declarações foram feitas em uma ampla entrevista com a
revista Time que foi publicada na terça-feira (30). A conversa também abordou
as questões de aborto e a polêmica liderança do primeiro-ministro de Israel,
Benjamin Netanyahu, entre outros temas.
Veja quatro pontos sobre a entrevista:
As conspirações eleitorais de Trump
Em declarações a Time em sua residência de Mar-a-Lago, na
Flórida, Trump diminuiu a importância de possíveis atos de violência política
similar à
do ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio americano.
“Acho que teremos uma grande vitória. E acredito que não
haverá violência”, disse Trump, que, após sua derrota em 2020, reuniu seus
apoiadores em Washington antes do ataque, e no início se recusou a pedir que
abandonassem o Capitólio dos EUA.
Mas, pressionado pela revista em uma entrevista telefônica
posterior, Trump
foi menos categórico sobre o futuro.
“Não acredito que sejam capazes de fazer as coisas que
fizeram da última vez”, disse Trump.
Ao longo da sua carreira política, Trump se recusou a
aceitar os resultados de uma eleição ou a comprometer-se a reconhecer sua
derrota.
Após ficar em segundo no Caucus de Iowa em 2016, Trump
acusou o senador do Texas Ted Cruz de fraude e pediu uma nova disputa.
Mais tarde, quando Trump competiu contra a democrata Hillary
Clinton, o republicano afirmou sem fundamento que as eleições que ele ganhou
foram “manipuladas” e se recusou repetidamente a dizer se acataria o resultado.
Neste
ano, o governador da Flórida, Ron Desantis, disse durante as primárias
republicanas que Trump não aceitaria os resultados dos caucus de Iowa
caso perdesse.
Em sua entrevista, Trump também redobrou sua promessa de
perdoar as centenas de condenados por delitos cometidos no 6 de janeiro.
Trump qualificou essas pessoas como “reféns”, embora muitas
tenham se declarado culpadas por crimes violentos ou tenham sido condenadas
pela justiça.
Time perguntou: “Consideraria perdoar cada um deles?”.
Trump respondeu: “Consideraria, sim”.
Time: “E faria mesmo isso?”
Trump: “Sim, com certeza”.
Declarações sobre aborto
As declarações de Trump à revista Time sobre o aborto
mostram limitações – e potenciais perigos políticos – de seu desejo de deixar o
futuro do acesso ao procedimento nas mãos dos governos estaduais.
Ele se recusou a dizer se vetaria uma proibição federal do
aborto, insistindo que era improvável que tal medida fosse pra frente. Em
declarações anteriores o
republicano disse que não assinaria uma proibição federal do aborto se fosse
eleito.
Ao ser perguntado pela revista Time se se sentia
“confortável” com a decisão do aborto ficar nas mãos do estado, Trump não fez
objeções.
“Não tenho porque me sentir confortável ou desconfortável”,
disse Trump. “Os estados vão tomar essa decisão. Os estados que vão ter que se
sentir confortáveis ou desconfortáveis, não eu”, complementa.
Como candidato em 2016, Trump disse que “deveria haver algum
tipo de castigo” para as mulheres que se submetem a um aborto ilegal, uma
postura que sua campanha retirou quase imediatamente.
A campanha do presidente dos Estados Unidos, Joe
Biden, aproveitou para criticar as mais recentes declarações de Trump.
“Os últimos comentários de Donald Trump não deixam dúvidas:
se for eleito, assinará uma proibição nacional do aborto, permitirá que as
mulheres que abortem sejam perseguidas e castigadas, permitirá que o governo
invada a privacidade das mulheres para controlar suas gestações e colocará em
perigo a fecundação in vitro e os métodos contraceptivos em todo o país”, disse
a diretora de campanha de Biden, Julie Chavez Rodriguez.
Trump também se apoiou nos estados quando perguntado se os
governos deveriam monitorar os casos de gravidez para saber se uma mulher
realiza o procedimento.
“Acho que podem fazer isso”, disse Trump. “Novamente, vocês
terão que falar com cada um dos estados”.
Trump volta a criticar Netanyahu
Após o ataque do Hamas a Israel, em 7 de outubro, Trump
atacou Netanyahu e culpou o primeiro-ministro israelense pelas falhas de
segurança que não impediram a ação.
Em meio aos protestos contra a guerra em Gaza que tomaram
conta dos Estados Unidos, Trump intensificou de novo suas críticas ao primeiro-ministro.
Trump declarou à Time que Netanyahu “foi justamente
criticado pelo que aconteceu em 7 de outubro” e disse que o ataque do Hamas
“ocorreu sob sua vigilância”.
Em vez disso, Trump ainda está ofendido porque Netanyahu
supostamente “abandonou” a operação militar apoiada pelos EUA, que levou à
morte do general iraniano Qasem Soleimani.
Trump também disse que uma futura solução de dois Estados
entre Israel e os palestinos “será muito, muito difícil”.
“Há quatro anos havia muitas pessoas que gostavam da ideia”,
disse Trump. “Hoje, há muito menos pessoas que gostam dessa ideia”.
Tímidos apelos a favor da libertação do jornalista do Wall
Street Journal
Foi necessário insistir, mas Trump disse pela primeira vez
que o jornalista do Wall Street Journal Evan Gershkovich “deveria ser
libertado” depois de um ano de prisão na Rússia.
Ao ser perguntado por que o ex-presidente não tinha pedido
antes a libertação de Gershkovich, Trump respondeu: “Acho que porque eu tenho
muitas outras coisas em que estou trabalhando”.
Gershkovich é um jornalista americano que foi detido na
Rússia após ser acusado de espionagem que, segundo o jornal e as autoridades
americanas, não tem fundamento.
No início deste ano, Trump permaneceu em silêncio durante
dias após a morte do líder da oposição russa Alexey Navalny numa prisão russa,
mesmo quando outros líderes mundiais condenaram rapidamente o Kremlin.
Quando Trump finalmente se pronunciou publicamente, ele não
condenou a Rússia nem o presidente Vladimir Putin, e sugeriu que estava sendo
perseguido politicamente do mesmo modo que Navalny. Mais tarde, Trump
qualificou Navalny como “muito valente” e disse que era uma “situação muito
triste”.
Quando o jornalista Jamal Khashoggi foi assassinado em 2018,
Trump se recusou a condenar o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman,
apesar de a CIA ter concluído que o governante autorizou o brutal assassinato.
Trump disse que estava “extremamente zangado e muito
infeliz” pelo assassinato de Khashoggi, mas disse que “ninguém apontou
diretamente o dedo” ao príncipe herdeiro. Além da conclusão da CIA, um
relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) também envolveu mais tarde bin
Salman.