metropoles -07/11/2024 14:02
A eleição que consagrou o retorno do republicano Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos promete trazer impactos nas relações diplomáticas com o Brasil e outros países. Especialistas ouvidos pelo Metrópoles avaliam que o resultado fortalece nações comandadas por líderes de extrema direita e pode influenciar os conflitos em curso no Oriente Médio e no Leste Europeu.
Para Juliana Fratini, doutora em ciências sociais pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a volta de Trump à
presidência vai favorecer as relações com Israel, cujo primeiro-ministro,
Benjamin Netanyahu, é alinhado ideologicamente ao republicano. Os dois líderes
conversaram nessa quarta-feira (6/11), após a vitória de Trump.
Outra figura que pode ser beneficiada é o presidente
argentino, Javier
Milei. A especialista pontua que, apesar de divergirem sobre questões
econômicas, os dois guardam semelhanças em pautas de costumes. “Não existe um
alinhamento específico, mas o Milei, assim como o Trump, é anticultura ‘woke’ e
de defesa de minorias”, avalia Fratini.
Rodrigo Reis, especialista em relações internacionais,
ressalta que a vitória de Trump reforça a onda de governos ultraconservadores,
que há vozes como Netanyahu, de Israel, Narendra Modi, da Índia, e Viktor
Orban, da Hungria.
“O Trump entra nessa classe de estadistas que têm
posicionamento muito claro e colaboram entre si. Na época do presidente [Jair]
Bolsonaro, a gente viu muito desse estreitamento de relações entre governos de
direita mundiais. E uma certa colaboração, um apoio para a renovação desses
mandatos”, pontua Reis.
Por outro lado, segundo Fratini, a vitória
de Trump deve tensionar relações já enfraquecidas com alguns países,
como Rússia, China, Venezuela, Nicarágua e Cuba.
“Em todas as circunstâncias, a América não vai se posicionar
a favor da Rússia, mesmo se tivesse sido a Kamala [Harris] eleita. Porque a
Rússia é vista como uma potência nuclear e uma ditadura também”, observa. “A
China também é um país malvisto pelos americanos, até porque existe uma
concorrência econômica global entre esses dois países”, complementa.
Relação com o Brasil
Na avaliação dos especialistas, a eleição nos Estados Unidos
pode ter impacto negativo na relação com o Brasil. Durante a corrida eleitoral,
o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) disse apoiar a candidatura da democrata Kamala
Harris.
“O Trump foi um aliado do Bolsonaro no passado, e o Lula, de
alguma forma, manifestou o seu posicionamento pró-Kamala, ainda durante as
campanhas, o que de certo modo pode implicar ali algum tensionamento na própria
relação presidencial, na diplomacia presidencial”, pondera Ariane Roder,
cientista política do Coppead/UFRJ e especialista em relações internacionais.
Ela frisa ainda que tanto Lula quanto o PT ficarão atentos
ao “fortalecimento da extrema direita global”.
Além de questões de ideologia no espectro político, os
líderes divergem em temas relevantes ao Brasil, como a preservação do meio
ambiente. “Trump tem uma característica mais negacionista em relação a essa
pauta, então a tendência por parte dos Estados Unidos é um esvaziamento dessa
agenda, ou seja, não participação nos foros internacionais sobre esse debate e
também, de alguma forma, fazendo discursos que enfraqueçam as medidas que estão
sendo adotadas”, avalia Ariane Roder.
As relações comerciais, no entanto, não devem ser afetadas,
apesar de isso “esbarrar” em questões de direitos humanos.