folhapress -08/07/2025 09:10
O Senado planeja votar em plenário nesta terça-feira (8) o
projeto de lei que legaliza bingos, cassinos e jogo do bicho em todo o país,
após mais de 30 anos de discussão no Congresso Nacional
O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP),
tenta destravar a votação do projeto desde o ano passado, mesmo diante de uma
resistência organizada pela bancada evangélica, que se opõe à liberação dos
jogos de azar.
Em junho de 2024, o projeto foi aprovado na CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça) com placar apertado de 14 votos a 12, em um esforço capitaneado por
Alcolumbre e pelo relator da proposta, o senador Irajá Abreu (PSD-TO).
À época presidente da comissão, Alcolumbre articulou com
partidos políticos a troca temporária de parte dos integrantes do colegiado
para aumentar a participação daqueles que se diziam a favor do texto.
Em dezembro, porém, a resistência de parte do Senado
conseguiu barrar a aprovação no plenário. O então presidente da Casa, Rodrigo
Pacheco (PSD-MG), chegou a iniciar a discussão, mas Irajá pediu para que a
votação do projeto fosse adiada, diante do risco de derrota.
Com o apoio de Alcolumbre, senadores afirmam que o relator
agora demonstra estar otimista com a aprovação do projeto. Nos últimos meses, o
presidente do Senado voltou a consultar parlamentares sobre o tema e disse que
gostaria de ver o projeto aprovado antes do recesso, que começa em duas
semanas.
A proposta permitiria a exploração de jogo do bicho; bingo
em casas próprias para isso ou em estádios de futebol; turfe (corrida de
cavalos); e cassinos em embarcações ou integrados a complexos de lazer, como
resorts e hotéis.
A legalização conta com o apoio do ministro do Turismo,
Celso Sabino (União Brasil), e de partidos do centrão e da base de Lula (PT),
como União Brasil, PP, PT e PSD. Durante a votação na CCJ do Senado, a maior
parte dos votos contrários veio do PL de Jair Bolsonaro.
"A votação mostra uma desumanidade porque está todo
mundo vendo a pandemia que está acontecendo das bets, com endividamento em
massa, perda de empregos, de casamento, famílias desesperadas", diz o
Eduardo Girão (Novo-CE), um dos senadores mais críticos ao projeto.
A discussão sobre a liberação de bingos e cassinos se dá em
meio a um intenso lobby no Congresso. O próprio relator viajou a Las Vegas em
2020 para conhecer cassinos e conversar com representantes da empresa Las Vegas
Sands, do finado magnata Sheldon Adelson (1933-2021).
Parlamentares favoráveis à legalização dos jogos de azar
afirmam que a medida poderia atrair investimentos para o país, ampliar o número
de turistas, aumentar a arrecadação do governo e coibir atividades ilícitas.
"A regulamentação adequada permitirá a implementação de
um sistema robusto de fiscalização e controle, prevenindo atividades ilícitas e
proporcionando um ambiente seguro e transparente para os jogadores",
disseram a ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) e outras três
entidades do setor, em carta enviada ao Congresso.
Em resposta a um pedido de informações do senador Flávio
Arns (PSB-PR), o Ministério do Desenvolvimento Social afirmou que a discussão
"deve considerar não apenas os potenciais benefícios econômicos da
exploração de jogos, mas também os riscos sociais".
"A experiência de outros países que implementaram
legislações semelhantes deve ser considerada, pois muitos deles enfrentaram
desafios significativos relacionados à dependência em jogos de azar, que
impactaram diretamente os serviços sociais e de saúde pública", disse a
pasta subordinada a Wellington Dias (PT).
"Por exemplo, países como o Reino Unido e a Austrália,
que possuem legislações mais consolidadas sobre jogos, apresentam estatísticas
que revelam um aumento nos casos de vício e suas consequências sociais,
exigindo um fortalecimento das políticas de assistência social."
PASSADO E FUTURO
O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados em 2022 por
246 votos a 202. Se for aprovado também pelo plenário do Senado sem mudanças, o
texto segue para sanção -o que o presidente Lula já prometeu fazer, em
entrevista à Rádio Meio, em junho do ano passado.
"Eu não sou favorável a jogo, não. Se o Congresso
aprovar e for feito um acordo entre os partidos políticos, não tem por que não
sancionar. Agora, eu acho que não é isso que vai resolver o problema do Brasil.
Essa promessa fácil de que vai gerar 2 milhões de empregos, que vai
desenvolver, não é verdade também", disse Lula.
A proposta em discussão foi sugerida em 1991 pelo então
deputado federal Renato Vianna (PMDB-SC). O texto original se restringia a
revogar decretos da década de 1940 que colocavam o jogo do bicho na
contravenção.
O ex-presidente da Câmara dos Deputados Arthur Lira (PP-AL) decidiu
aproveitar o texto do século anterior para, em 2022, ampliar o alcance do
projeto e legalizar mais jogos proibidos no Brasil, como cassinos e bingos.