metropoles -16/01/2024 14:01
Diversas categorias de servidores estão se mobilizando e
começando suas paralisações em resposta à resistência
do governo federal em conceder reajuste salarial em 2024. Algumas delas já
iniciaram suas greves, ainda que de modo pontual. É o caso de agentes de órgãos
ambientais, de funcionários do Banco
Central (BC), de auditores-fiscais da Receita Federal e de
agentes da fiscalização sanitária. As universidades também avaliam um movimento
grevista no primeiro semestre letivo de 2024.
Outras carreiras ainda realizam assembleias junto aos
servidores, para definir paralisação e outros movimentos.
No último dia 10, as entidades enviaram ofício ao Ministério da Gestão e da Inovação em
Serviços Públicos (MGI) propondo a recomposição salarial em três
parcelas: a primeira de 9%, a segunda de 7,5% e a terceira também de 7,5%, a
serem implementadas, respectivamente, nos meses de maio de 2024, 2025 e 2026.
Segundo apurado pela reportagem, ainda não houve nenhuma
resposta do governo à contraproposta. As reivindicações dos servidores são
analisadas em reuniões periódicas da Mesa
Nacional de Negociação Permanente, retomada no ano passado. O governo ainda
não definiu a data de realização da primeira reunião da Mesa deste ano, mas a
expectativa é que ela ocorra apenas após o feriado do Carnaval.
“Na medida em que o governo não dá uma resposta efetiva para
a nossa contraproposta, a tendência é que se avolume a insatisfação, e isso
pode deflagrar uma greve geral”, disse o presidente do Fórum Nacional Permanente das Carreiras Típicas
de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, ao Metrópoles nesta
terça-feira (16/1).
Última greve aconteceu em 2012
A última greve geral registrada no serviço público ocorreu
em 2012, com quase 360 mil servidores paralisados no auge da mobilização.
Na época, início do ajuste fiscal, os servidores demonstraram
insatisfação com a postura adotada pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT),
que chegou a popularizar a expressão “sangue azul” para se referir à elite do
funcionalismo. As declarações da petista acabaram gerando grande indisposição
de servidores em relação ao seu governo.
No último dia 10, servidores do Banco Central fizeram uma
paralisação por 24 horas, levando a um “apagão” dos serviços da autoridade
monetária. De acordo com o Sindicato Nacional dos Funcionários do BC (Sinal), a greve foi “um
sucesso”.
“Menos de 30% dos funcionários trabalharam naquele dia”,
disse o presidente do Sinal, Fabio Faiad. “Nosso próximo indicativo é esperar a
reunião do dia 8 com o governo, e, a depender do que ocorrer, passando o
Carnaval, a gente vai decidir greve por tempo indeterminado.”
No dia 8 de fevereiro, ocorrerá reunião da mesa específica
dos servidores do BC com o governo.
Entre as reivindicações dos funcionários da autoridade
monetária, estão bônus por produtividade, reajuste na remuneração,
exigência de nível superior para cargo técnico e mudança de nome do cargo de
analista para auditor.
No caso dos órgãos ambientais, o anúncio de paralisação veio
no início de janeiro, iniciado pelos servidores do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Eles pedem reestruturação de carreiras. A paralisação afeta
operações de fiscalização ambiental na Amazônia;
fiscalização em terras indígenas, como a Yanomami; vistorias de processos de
licenciamento ambiental; prevenção e combate a incêndios florestais; e
atendimentos emergenciais.
Já a greve dos auditores-fiscais está em curso desde
novembro e segue sem data para terminar. Como ocorre em todas as áreas da
Receita Federal, respeita o mínimo de 30% para o funcionamento dos serviços
essenciais.
Essa paralisação ameaça os julgamentos do Conselho de
Administração de Recursos Fiscais (Carf), o conselho de recursos dos
contribuintes, e a liberação de cargas e a fiscalização em grandes aeroportos
internacionais e portos do país.
O que diz o governo sobre reajuste
O governo Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) não pretende conceder aumento aos servidores
em 2024, em função da restrição orçamentária.
Na prática, a proposta oficial apresentada no fim do ano
passado congela os salários dos servidores federais neste ano e promete
alterações apenas em 2025 e 2026, oferecendo aumento apenas em auxílios para o
corrente ano.
Segundo essa proposta, o auxílio-alimentação será elevado de
R$ 658 para R$ 1.000,00; o per capita referente ao auxílio-saúde passará do
valor médio de R$ 144,00 para R$ 215,00; e o auxílio-creche irá de R$ 321,00
para R$ 484,90. Isso representa 51,06% de aumento nos auxílios.
Essas correções serão feitas a partir de 1º maio, data em
que é celebrado o Dia do Trabalhador e mês escolhido pela gestão petista para
os aumentos.
A justificativa oficial para a não concessão de reajuste
salarial em 2024 é que não há espaço orçamentário. A equipe econômica pena para
atingir a meta fiscal zero, como estipulado pelo ministro Fernando Haddad.
Além disso, o governo frisa que já atendeu os servidores do
Executivo federal ao conceder, em 2023, um aumento salarial linear de 9%. Esse
percentual precisou ser autorizado pelo Congresso, com recursos adicionais no
Orçamento. O auxílio-alimentação também aumentou em 43%, passando de R$ 458
para R$ 658 mensais.