cnn -23/07/2024 07:44
Uma das missões recebidas por Magda Chambriard ao ser
indicada ao comando da Petrobras foi de diminuir a dependência externa de
fertilizantes no país. Com agronegócio forte, o Brasil é o quarto maior
consumidor e líder em importações destes insumos — ou seja, ninguém o supera
quando o assunto é comprar adubo.
Segundo dados da Associação Nacional para Difusão de Adubos
(Anda), em 2023 o Brasil importou 86% do seu consumo interno. Foram 39,4
milhões de toneladas de fertilizantes compradas de outros países, frente a uma
produção nacional de 6,8 milhões (sendo que uma pequena parcela é exportada).
Na avaliação da gestão Magda e do próprio governo Lula, este
cenário deixa o país vulnerável a choques externos. Um exemplo recente é a
guerra entre Rússia e Ucrânia, que impactou preço mundo afora e levou
insegurança ao agronegócio brasileiro.
Um dos principais atos da companhia sob Magda foi a
sinalização de que planeja investir em gás natural — que é insumo para
fertilizantes nitrogenados, como amônia e ureia — da Bolívia. Questionada
pela CNN, a Petrobras detalhou as principais frentes em que a nova gestão
trabalha para acelerar a produção de adubo no país.
A empresa considera sua primeira vitória nesta frente a
aprovação do retorno das operações da fábrica de fertilizantes Araucária
Nitrogenados S.A (Ansa), no mês passado. A unidade localizada no Paraná está
hibernada desde 2020 e tem previsão de retomada de atividades no segundo
semestre de 2025.
O foco da Petrobras agora é retomar a produção na Unidade de
Fertilizantes Nitrogenados (UFN-III) em Três Lagoas (MS). A companhia avança
por um estudo de viabilidade técnica para o projeto, que está hibernado desde
2014. Iniciada em 2011, as obras da fábrica estão 81% concluídas.
Enquanto a Ansa pode produzir 720 mil toneladas por ano de
ureia e 475 mil de amônia, a UFN-III tem capacidade para 1,3 milhão de
toneladas e 800 mil toneladas, para os respectivos fertilizantes. Esta pesagem
representa quase 50% da produção
nacional atual de adubos.
Para viabilizar as operações de Ansa e UFN-III, a Petrobras
aposta na exploração de gás na Bolívia. Acontece que ambas as fábricas estão
conectadas ao Gasbol, gasoduto que começa em Rio Grande, no país vizinho, se
estende por 557 km até a fronteira e atravessa 136 municípios de cinco estados
brasileiros.
A subsidiária da Petrobras no vizinho já foi responsável por
60% da produção de gás natural boliviano e hoje opera 25% do total produzido no
país. Na viagem recente, Chambriard anunciou que a empresa
vai investir R$ 40 milhões para perfurar em 2025 um poço na área de
San Telmo Norte, onde há elevado potencial para gás natural.
A Petrobras ainda procura solucionar pendências em ativos no
Nordeste do país, para as fábricas de fertilizantes em Camaçari (BA) e
Laranjeiras (SE), que estão arrendadas para a Unigel. As partes chegaram
assinar em 2023 um contrato que visava a retomada das operações na unidade, mas
este foi
encerrado em junho deste ano.
O encerramento ocorre após o contrato ter sido alvo de
análises do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontaram que ele poderia
trazer prejuízos para a Petrobras. Em março, a Unigel havia paralisado sua
operação nas unidades, alegando preços altos de gás.