metropoles -08/09/2024 10:53
As queimadas que estão atingindo o Pantanal têm
preocupado autoridades sobre o futuro do bioma. Na última quarta-feira
(4/9), a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina
Silva, afirmou que o Pantanal pode acabar até o fim do século caso sejam
mantidas as atuais tendências. A declaração gerou controvérsia durante os
últimos dias. Mas afinal, o que aconteceria se o Pantanal acabasse?
Segundo dados do Instituto Nacional
de Pesquisa Espaciais (Inpe), neste ano foram registrados 9.478 focos de
incêndios no Pantanal. Na comissão de Meio Ambiente (CMA), do Senado, a
ministra Marina Silva pontuou preocupação com a elevada degradação do bioma.
“Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno
(queimadas) em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o
Pantanal até o fim deste século. Isso tem um nome: baixa precipitação, alto
processo de evapotranspiração, não conseguindo alcançar a cota de cheia, nem
dos rios nem da planície alagada.”
O especialista em meio ambiente Charles Daer analisa que,
mantidas a estiagem e as queimadas na região, não é exagero prever um fim para
o Pantanal até o final do século. “Tudo isso pode levar ao fim do bioma. O
horizonte de tempo é muito longo. Se esse cenário for mantido (degradação do
Pantanal), ele é sim problemático para o futuro”, frisa o ambientalista.
O Pantanal acolhe 264 espécies de peixes, 652 de aves, 102
de mamíferos, 177 de répteis e 40 de anfíbios. O professor de biologia Marcello
Lasneaux explica que, além das espécies próprias, o Pantanal é formado por
animais da floresta amazônica, Cerrado e campos. Ele ressalta que o bioma serve
de “corredor” para muitos animais de outras regiões, e o possível fim do bioma
acarretaria em uma perda considerável da biodiversidade e da abundância da
fauna brasileira.
“Isso deverá desfavorecer certas espécies, bem como causar
explosão demográfica de outras. Além disso, haverá escassez de água e aumento
da vulnerabilidade das populações locais, agravando problemas socioeconômicos
na região”, esclarece Lasneaux.
Futuro
O ambientalista Charles Daer lembra que a desertificação está
atuando em diversas planícies no mundo, mas que ainda é muito cedo para afirmar
que o Brasil vai virar um grande deserto. Daer detalha que as avaliações atuais
são baseadas em modelos, que indicam uma redução das chuvas e aumento da
temperatura para os próximos anos.
“Olhando o recorte atual, no qual dependemos de água para a
geração de energia, podemos ter um problema. Vamos precisar de energia para
lidar com as altas temperaturas. O Brasil dificilmente vai virar um grande
deserto, mas a situação vai ficar bem crítica”, prevê.
Lasneaux traz a visão que a desertificação é como um câncer
que se alastra quase silencionamente. “Se não for contido, pode sucumbir um
país inteiro (…) Nossas melhores imagens do espetáculo que a natureza nos
proporciona estarão disponíveis apenas digitalizadas para as gerações futuras”,
destaca o biólogo.