r7 -14/08/2024 14:31
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem falado em
promover uma espécie de segundo turno na Venezuela para resolver a disputa entre o ditador Nicolás Maduro e a oposição.
Até o momento, a ideia não foi mencionada publicamente. A reportagem apurou que
o presidente já fez comentários sobre isso com ministros do governo.
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A hipótese de uma nova eleição vem sendo vendida como uma
espécie de “segundo turno”, somente entre Maduro e o opositor Edmundo González
Urrutia.
No fim de semana, María Corina Machado, maior aliada de
Urrutia, jogou um balde de água fria na proposta. “De onde tiraram essa ideia
de uma nova eleição? Aqui já houve uma”, disse. “A eleição foi sob os termos do
regime, com uma campanha desigual. E nós ganhamos. A única saída é fazer Maduro
entender que sua melhor opção é uma saída negociada.”
O impasse vem desde a eleição de 28 de julho. O Conselho
Nacional Eleitoral (CNE), dominado pelo governo, declarou Maduro vencedor, mas
não mostrou as atas das urnas e ninguém sabe de onde vieram os seus votos. A
oposição afirma que houve fraude e que o candidato Edmundo González Urrutia
teria sido eleito.
Urrutia e María Corina tiveram acesso a mais de 80% das atas
de votação. Os dados foram examinados por agências de monitoramento eleitoral e
jornais independentes, que atestaram a vitória da oposição. Foi o suficiente
para convencer os EUA a reconhecerem Urrutia como vencedor - outros países,
como Argentina, Equador e Peru, também fizeram o mesmo.
Ajuda
Brasil, Colômbia e México, no entanto, optaram por não
condenar o resultado e pediram que o chavismo mostrasse as atas - embora sem
prazo definido. Com a cautela, o governo brasileiro estaria buscando uma saída
diplomática para o impasse político.
Maduro prometeu divulgar as atas de votação, o que não teria
sido feito antes, segundo ele, porque o CNE estava sofrendo “ciberataques”.
Enquanto isso, ele entrou com uma ação no Tribunal Superior de Justiça (TSJ),
também controlado por ele, para ser certificado como presidente eleito e
intensificou a repressão aos protestos da oposição.
Desde o dia 28 de julho, 24 pessoas morreram e mais de 2 mil
foram presas. Segundo Maduro, os detidos serão enviados para dois presídios de
segurança máxima que seriam construídos especialmente para a ocasião. Maduro
pediu e a Procuradoria-Geral abriu uma investigação penal contra Urrutia e
María Corina por “instigação à insurreição” e “conspiração”. Ambos rejeitaram
ofertas de asilo político e mergulharam na clandestinidade.
Transparência
Supondo que Maduro entregue as atas de votação, o que parece
cada vez mais improvável, a maior dificuldade seria montar uma apuração
independente, o que deixa o Brasil insistindo em uma posição frágil. Diplomatas
franceses e americanos, consultados pela reportagem, fazem ressalvas à ideia
brasileira de que o processo deve ser feito pelos venezuelanos.
A alegação é de que, pela realidade em Caracas, seria
impossível obter dados detalhados e transparentes das instituições
venezuelanas, por serem subservientes a Maduro. Por isso, Estados Unidos e
União Europeia pedem que a recontagem seja feita por comissões independentes de
fora da Venezuela.