agencia brasil -23/11/2024 00:58
A elevação dos gastos com a Previdência Social fez o governo
bloquear mais de R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024, anunciaram na noite desta
sexta-feira (22) os ministérios do Planejamento e Orçamento e da Fazenda.
O volume de recursos congelados subiu de R$ 13,3 bilhões para R$ 19,3 bilhões.
Os números constam da nova edição do Relatório Bimestral de
Receitas e Despesas, documento que orienta a execução do Orçamento enviado
hoje ao Congresso Nacional.
O valor foi superior aos cerca de R$ 5 bilhões anunciados na
quinta-feira (21) pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Segundo o relatório, a verba contingenciada permanece zerada.
Dessa forma, o total bloqueado está em R$ 19,3 bilhões.
Tanto o contingenciamento como o bloqueio representam cortes
temporários de gastos. O novo arcabouço fiscal, no entanto, estabeleceu
motivações diferentes. O bloqueio ocorre quando os gastos do governo crescem
mais que o limite de 70% do crescimento da receita acima da inflação. O
contingenciamento ocorre quando há falta de receitas que comprometem o
cumprimento da meta de resultado primário (resultado das contas do governo sem
os juros da dívida pública).
Em relação ao bloqueio, os principais aumentos de despesas
que justificaram a elevação de R$ 6 bilhões foram as altas de R$ 7,7 bilhões
nas estimativas de gastos com a Previdência Social e de R$ 612,1 milhões nos
gastos com o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Essas elevações foram parcialmente compensadas pela previsão
de queda de R$ 1,9 bilhão nas estimativas de gastos com pessoal, por causa da
revisão das despesas com abono pecuniário, e de R$ 2,6 bilhões com subsídios e
subvenções.
Déficit primário
Em relação ao déficit primário, o relatório reduziu, de R$
68,8 bilhões para R$ 65,3 bilhões, a previsão de resultado negativo nas contas
públicas. A redução decorre porque a estimativa para as despesas fora do novo
arcabouço fiscal caiu de R$ 40,5 bilhões para R$ 36,6 bilhões, diminuição de R$
3,9 bilhões.
As despesas fora do arcabouço fiscal são os créditos
extraordinários para a reconstrução do Rio Grande do Sul, que caiu de R$ 38,6
bilhões para R$ 33,6 bilhões. Em contrapartida, os créditos extraordinários
para o combate a incêndios florestais e o enfrentamento às mudanças climáticas
subiram de R$ 514 milhões para R$ 1,45 bilhão, após decisão do Supremo Tribunal
Federal que autorizou a exclusão desses gastos da meta de resultado primário.
O déficit primário representa a diferença entre as receitas
e os gastos do governo sem os juros da dívida pública. O arcabouço fiscal
estabelece meta de déficit zero para este ano, desconsiderando as exceções dos
créditos extraordinários e do pagamento de precatórios, com margem de
tolerância de até R$ 28,76 bilhões para mais ou para menos.
A nova versão do relatório aumentou, de R$ 28,35 bilhões
para R$ 28,74 bilhões, a estimativa de déficit primário considerada no
arcabouço fiscal. Como a diferença, de R$ 388,5 milhões, não supera a margem de
tolerância, não houve contingenciamento.
Esse aumento de R$ 388,5 bilhões decorre da diminuição de R$
3,75 bilhões na receita líquida (receita do governo descontada o repasse aos
estados e municípios). Em troca, a estimativa de despesas primárias caiu R$
7,28 bilhões, considerando tanto os R$ 6 bilhões bloqueados como a diminuição
da estimativa de R$ 1,17 bilhão em gastos discricionários (não obrigatórios)
por causa de recursos que não conseguirão ser gastos até o fim do ano.
Apesar da diminuição na estimativa de receitas, o ministro
Fernando Haddad disse que a arrecadação está cumprindo as expectativas em 2024
porque a previsão de déficit primário está dentro da margem de tolerância. “Nós
estamos desde o começo do ano reafirmando, contra todos os prognósticos, [que]
não vai haver alteração de meta do resultado primário. Nós estamos já no último
mês do ano, praticamente, convencidos de que temos condições de cumprir a meta
estabelecida no ano passado”, disse na quinta-feira (21).
Corte de gastos
O bloqueio desta sexta-feira não tem a ver com o pacote de
corte de gastos a ser anunciado pelo governo na próxima semana . O
congelamento de recursos abrange o Orçamento de 2024, enquanto as medidas de
revisão de gastos obrigatórios pretendem economizar recursos para 2025 e 2026.