agencia brasil -09/09/2023 19:40
Enquanto equipes de resgate buscam por desaparecidos em
cidades gaúchas afetadas pela passagem de um ciclone extratropical, que causou
temporais e alagamentos esta semana, organizações de assistência aos atingidos
têm uma preocupação: a segurança alimentar dos milhares de desabrigados e
desalojados, e dos próprios voluntários. Além disso, há um alarme para um
problema futuro: pequenos agricultores perderam suas lavouras, o que pode
colocar em risco a oferta de alimentos na região.
De acordo com balanço das 12h deste sábado (9) da Defesa
Civil do Rio Grande do Sul, são 41 mortes confirmadas e 46 pessoas
desaparecidos. O número de municípios afetados chega a 87. São 3,1 mil pessoas
desabrigadas e 8,2 mil desalojadas.
Algumas das cidades mais afetadas são Muçum, Roca Sales,
Nova Bassano, Estrela, Ibiraiaras, Passo Fundo, Mato Castelhano, Encantado,
Lajeado e Arroio do Meio.
Diversas campanhas foram lançadas para arrecadar materiais
de primeira necessidade e alimentos não perecíveis. No entanto, como grande
parte da estrutura das cidades foi devastada, há dificuldade até para preparar
os alimentos para as famílias atingidas.
"Falta local para armazenamento adequado [da
comida]", alerta Jacira Dias Ruiz, secretária-executiva da Caritas
Regional RS. "Uma demanda importante é espaço para fazer comida quente e
mais nutritiva. Nos municípios onde os danos foram graves, não tem onde
cozinhar", contou à Agência Brasil.
O presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional do Rio Grande do Sul (Consea-RS), Juliano de Sá, articula a
montagem de cozinhas de campanha para minimizar a situação.
“É um problema urgente, são mais de 10 mil famílias e
centenas de voluntários que estão com dificuldades para alimentação. As doações
chegam em alimentos não perecíveis ou em lanches, porém, as pessoas não têm
como cozinhar. Estamos tentando articular a montagem de cozinhas de campanha
para produção de alimentos para distribuição no formato de marmitas.”
“Conversei por telefone com o ministro Wellington Dias, do
Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, e ele se comprometeu em
garantir alimentos para as cozinhas que conseguirmos organizar. Conversei
também com a Secretaria de Assistência Social do Rio Gande do Sul, que se
comprometeu em ajudar a viabilizar a logística”, relata Juliano de Sá.
Agricultura
A preocupação com pequenos agricultores motivou o Instituto
Cultural Padre Josimo (ICPJ) a lançar uma campanha para a aquisição de sementes
que serão doadas aos produtores rurais.
“A situação é desesperadora e caótica. Perdas inestimáveis e
irreparáveis. Perderam plantios, animais, galpões, máquinas, casas”, descreveu
à Agência Brasil o Frei Sérgio Görgen, diretor do ICPJ. “Com a
campanha vamos tentar repor um pouco do que perderam e levar conforto e
solidariedade”, completa.
“A situação está bem difícil, pois agricultores perderam
tudo o que plantaram. Isso terá consequências a curto e médio prazo no que se
refere à produção de alimentos e criação de animais. Será necessária uma
política de reparo para essas famílias voltarem a trabalhar, algo que levará um
certo tempo até se reestabelecerem as coisas”, avalia o presidente do
Consea-RS.
Por causa da dificuldade de acesso às áreas mais afetadas –
mais notadamente na Região dos Vales, no centro do estado, que reúne quatro
vales de rios: Vale do Jacuí, Vale do Rio Pardo, Vale do Taquari e Vale do Caí
– os organizadores da campanha não conseguem dizer exatamente quantos pequenos
produtores precisam de ajuda.
A campanha Missão: Sementes de Solidariedade é uma
extensão emergencial de um programa que existe há alguns anos e leva sementes e
insumos agroecológicos para comunidades camponesas. Neste ano, a ação já havia
sido concluída, mas após relatos de agricultores tendo perdido suas lavouras, a
ação voltou à ativa.
Além do ICPJ, participam da mobilização o Movimento dos
Pequenos Agricultores (MPA), Cáritas Brasileira e Cáritas RS, Instituto Koinós,
Comissão Pastoral da Terra (CPT-RS), Movimento dos Atingidos e Atingidas Por
Barragens (MAB) e Justiça, Paz e Integridade da Criação (JPIC/Franciscanos).
“Na próxima semana começaremos a preparação das pessoas que
entrarão em contato com as famílias camponesas para identificar necessidades
para que possamos adquirir e distribuir as sementes e, se possível, algum
equipamento para replantar os roçados”, detalha Jacira Dias Ruiz.
“Entendemos que é uma forma de plantar um pouco de esperança
para essas famílias. Uma forma de terem comida e continuarem colocando
alimentos em nossas mesas também”, ressalta a representante da Cáritas RS.
Comitiva federal
O presidente em exercício, Geraldo Alckmin, anunciou o repasse de recursos da União para as prefeituras do
Rio Grande do Sul com as situações de calamidade e de emergência devidamente
reconhecidas. Para cálculo do repasse, o governo vai considerar o valor de R$
800 por pessoa afetada pelas consequências da passagem do ciclone
extratropical. Uma comitiva do governo federal visitará o estado no domingo
(10).
Campanha de doação
Campanha Sementes de Solidariedade
Pix (CNPJ) da Cáritas Brasileira: 33654419001007
Depósito bancário: Conta Corrente 55.450-2, Agência 1248-3
(Banco do Brasil)
Defesa Civil
O chefe da Casa Militar e Proteção e Defesa Civil, coronel
Luciano Chaves Boeira, ressaltou que alguns itens estão sendo mais demandados
pelas famílias atingidas. “Roupas íntimas, fraldas e roupas de cama (como
lençóis, travesseiros, cobertores e fronhas) talvez sejam a grande ajuda
humanitária para os municípios neste momento”.
As entregas podem ser feitas em pontos de referência da
Defesa Civil e quartéis do Corpo de Bombeiros. Todas as doações precisam estar
em boas condições de uso, além de higienizadas.
O chefe da Divisão de Relações Comunitárias da Defesa Civil,
tenente-coronel Luís Omar, afirma ser importante identificar, nas embalagens, o
que está sendo doado a fim de facilitar o trabalho.
“Quanto mais organizado o material chega para nós, mais rapidamente
podemos direcionar”, explicou.