folhapress -02/08/2024 14:35
Os EUA reconheceram a vitória de Edmundo González
Urrutia na contestada eleição presidencial venezuelana realizada no último
domingo (28). O gesto é um passo adiante na postura que vinha sendo adotada por
Washington, que até agora se limitava a cobrar a apresentação de documentos que
corroborassem a declaração de Nicolás Maduro.
"Parabenizamos Edmundo González Urrutia por sua campanha
bem-sucedida. Agora é o momento para os partidos venezuelanos iniciarem
discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica de acordo com a lei
eleitoral venezuelana e os desejos do povo venezuelano", afirmou o
secretário de Estado americano, Antony Blinken, em nota divulgada na noite
desta quinta-feira (1º).
O diplomata diz ainda que os EUA vão apoiar o processo de
restabelecimento das normas democráticas na Venezuela e que está pronto
"para considerar maneiras de reforçá-lo conjuntamente com nossos parceiros
internacionais".
O CNE (Conselho Nacional Eleitoral), órgão responsável pelas
eleições e controlado pelo chavismo, declarou o ditador Nicolás Maduro vencedor
com 51% dos votos contra 44% de González, mas ainda não apresentou os
documentos que comprovariam esses números.
Washington, assim como outros países, vinha exigindo que o CNE divulgasse as
atas, o que ainda não foi feito. Questionados se reconheciam uma vitória da
oposição, membros do governo americano vinham sendo evasivos até agora, limitando-se
a cobrar a apresentação dos documentos.
"Infelizmente, o processamento desses votos e o anúncio
dos resultados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) controlado por Maduro
foram profundamente falhos, resultando em um resultado anunciado que não representa
a vontade do povo venezuelano", diz Blinken na nota.
O secretário de Estado afirma que a ausência de evidências
que confirmem a vitória de Maduro e as irregularidades apontadas pela missão de
observação independente do Carter Centre "retiraram qualquer credibilidade
do resultado anunciado pelo CNE".
Blinken afirma que, segundo mais de 80% das atas eleitorais
divulgadas pela oposição venezuelana, González foi o vencedor "por uma
margem insuperável". "Observadores independentes corroboraram esses
fatos, e esse resultado também foi apoiado por pesquisas de boca de urna e
contagens rápidas no dia da eleição", diz o diplomata.
"Dada a esmagadora evidência, é claro para os Estados
Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano, que Edmundo González Urrutia
obteve a maioria dos votos na eleição presidencial de 28 de julho na
Venezuela", completa.
Blinken também classifica as ameaças feitas por Maduro
contra González e a líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, como
"uma tentativa antidemocrática de reprimir a participação política e
manter o poder".
O secretário de Estado afirma que mesmo antes da eleição os
EUA estavam em contato com outros países aliados e ressalta que, embora as
abordagens tomadas por cada um após o pleito tenham sido diferentes,
"nenhum concluiu que Nicolás Maduro recebeu a maioria dos votos nesta
eleição".
O Brasil é um dos países que vinham mantendo consultas com
Washington sobre o tema. Na terça, os presidentes Joe Biden e Lula chegaram a
conversar por telefone. Até agora, a postura de Brasília vem sendo cobrar a
apresentação das atas, sem se manifestar sobre qual lado teria saído vencedor.
O petista afirmou que não via "nada de anormal",
enquanto seu partido divulgou uma nota em que afirmou que o processo eleitoral
venezuelano foi democrático e soberano. Nesta quinta, o brasileiro, em conjunto
com os presidentes do México e da Colômbia, divulgou uma nota conjunta em que
pede a divulgação de atas e uma verificação imparcial dos resultados da eleição
na Venezuela.