folhapress -06/09/2025 16:04
A crise entre Estados Unidos e Venezuela escalou nesta sexta-feira (5) com a revelação de que Donald Trump ordenou o envio de dez caças avançados F-35 para Porto Rico, território americano no Caribe, para participar do que Washington chama de missão contra o narcotráfico.
Os aviões vão participar de ações contra cartéis de drogas,
segundo relatos múltiplos feitos à mídia americana pelo Pentágono que a Folha
de S.Paulo ouviu também do Departamento de Estado. Como armas de última geração
com especialização em ataque em terra, os F-35 supostamente serão empregados
contra bases.
Isso elevaria ainda mais a tensão na região, exacerbada
desde que Trump enviou uma frota naval considerável, com sete embarcações e 4.500
fuzileiros, para lidar com a questão do tráfico. Até aqui, os EUA operavam de
forma conjunta com forças nacionais em operações policiais contra o problema,
não sozinhos e com militares.
Na terça-feira (2), Trump anunciou ter destruído um pequeno
barco que, segundo ele, levava drogas para os EUA da Venezuela. O regime do
ditador Nicolás Maduro, indiciado sob acusação de tráfico em Nova York desde
2020, reagiu e disse que o vídeo da ação era fake.
Não ficou provada montagem por IA. Desde o começo da semana,
Maduro afirma que o interesse dos EUA é derrubá-lo e colocar um governo
marionete em Caracas, a fim de ter acesso livre às maiores reservas de petróleo
do planeta.
Os venezuelanos têm recursos limitados para reagir
militarmente aos EUA, e só a frota de sete embarcações enviadas por Washington
têm mais poder de fogo do que todas as forças de Maduro.
Isso dito, a ditadura de Caracas pode infligir danos assimétricos, usando por
exemplo mísseis antinavio de desenho chinês e iraniano que opera.
Na noite de quinta-feira (4), os venezuelanos foram acusados
de provocar os americanos ao promover o sobrevoo de um dos navios de Washington
na região, o destróier Jason Dunham, por dois de seus antigos F-16 -caças
comprados dos EUA quando os países tinham boas relações.
Maduro tem à disposição material melhor, os caças russos
Su-30, mas aparentemente quiseram evitar o risco de ver um deles derrubado.
Este é um problema claro da saturação do teatro da costa venezuelana com navios
e aviões: alguém pode disparar por erro, levando a novas etapas de conflito.
O envio dos F-35, de todo modo, sugere que a campanha
militar contra cartéis que operam na Venezuela pode ter uma nova etapa. O
México, que também lida com a questão, já disse que não aceitará ataques
diretos a seu território, mas a dúvida fica sobre a intenção de Trump.
No seu primeiro mandato, de 2017 a 2021, o republicano
ensaiou uma operação militar contra Maduro, usando os então governos aliados no
Brasil e na Colômbia. Não deu certo. Buscou, então, apoiar a oposição local,
também sem sucesso.
A ação de Trump leva a outras preocupações, essas na seara
do direito internacional. Quando explodiu o barco com supostos traficantes,
matando 11 pessoas, o fez sem nenhuma abordagem policial à embarcação.
Assim, cometeu um ato de guerra, só que os EUA não estão em
conflito declarado com a Venezuela. Para entidades como a Human Rights Watch,
ele só poderia agir autorizado pelo Congresso, onde a oposição democrata já diz
que questionará o governo sobre a legalidade da ação.
Trump disse que o barco era do cartel Tren de Aragua,
classificado de terrorista por Washington, o que justificaria a ação de forma
análoga aos ataques à Al Qaeda ao longo dos anos.
O Departamento de Defesa, agora renomeado como Departamento
da Guerra, dá de ombros, equiparando sua ação a ataques preventivos como no
caso da destruição de instalações nucleares no Irã, em maio. O secretário Pete
Hegseth já disse também que o foco é Maduro, "um chefão de um
narco-Estado".
FP