r7 -08/08/2024 19:12
O ditador Daniel Ortega, da Nicarágua, expulsou o embaixador brasileiro no país, Breno de Souza Brasil Dias da
Costa. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria expulsado
nesta quinta-feira (8) a embaixadora da Nicarágua em Brasília, Fulvia Patricia
Castro Matus. A informação foi confirmada com fontes no Itamaraty. As decisões
ocorrem em meio ao esfriamento das relações entre os dois países.
O presidente conversou com o ministro das Relações
Exteriores, Mauro Vieira, antes da reunião ministerial desta quinta (8) e debateu as
eventuais saídas políticas e diplomáticas para o caso. Por fim, definiu
expulsar a embaixadora da Nicarágua como resposta ao ato de Ortega. A
nicaraguense Fulvia Patricia Castro Matus recebeu agrément do Brasil em maio
deste ano. Agrément é o consentimento dado por um país para que um diplomata
seja nomeado no território estrangeiro.
Lula tentou interceder em defesa do bispo católico Rolando
Álvarez, preso pela ditadura nicaraguense por críticas ao regime. O movimento
em defesa do religioso, segundo o próprio petista, partiu de um pedido do Papa
Francisco. Ortega não retornou o contato do brasileiro. Em resposta, Lula
orientou que o embaixador não participasse mais de atividades que envolvessem o
governo nicaraguense. A ausência teria sido a gota d’água para Ortega.
A princípio, a ditadura apenas sinalizou que expulsaria o
embaixador brasileiro. Como, em um primeiro momento, não houve comunicação
oficial da decisão, o Ministério das Relações Exteriores interpretou que havia
espaço para negociações. A atuação da diplomacia brasileira, no entanto, não
surtiu efeito. A indicação de Breno de Souza Brasil Dias da Costa para o posto
nicaraguense foi aprovada pelo Senado em dezembro de 2021.
Como mostrou de forma exclusiva o R7, o embaixador deve deixar o país ainda nesta quinta-feira
(8). Lula comentou o assunto há duas semanas, em entrevista a agências
internacionais de notícia.
“A Nicarágua, veja, virou um problema não para outros
países, virou um problema para a Nicarágua. Faz tempo que eu não converso com o
Daniel Ortega, porque quando eu fui conversar com o Papa Francisco, o Papa
Francisco pediu para eu conversar com o Daniel Ortega sobre um bispo que estava
preso lá. O dado concreto é que o Daniel Ortega não atendeu o telefonema e não
quis falar comigo. Então, nunca mais eu falei com ele, nunca mais. Ou seja, eu
acho que é uma bobagem”, declarou. Quem é Ortega?
Ortega chegou ao poder pela primeira vez em 1979, quando o
presidente Anastasio Somoza Debayle, que liderou o país em duas oportunidades
(1967-1972 e 1974-1979), foi retirado do cargo durante a Revolução Sandinista.
Antes disso, era um conhecido guerrilheiro, preso repetidas vezes por crimes
que incluem um assalto à mão armada a uma filial de um banco norte-americano em
solo nicaraguense.
O ditador foi solto em 1974, junto com outros prisioneiros,
em troca da liberdade de rivais políticos que haviam sido sequestrados por
sandinistas. Apenas em 1984, cinco anos após os sandinistas tomarem o poder e
organizem uma junta governativa apenas com aliados do próprio grupo político,
Ortega foi eleito presidente do país. Também na década de 1980, a Revolução
Sandinista tornou o governo uma frente ampla e aberta a outras vertentes da
Nicarágua.