Heródoto Barbeiro -18/02/2024 16:42
O desejo de controlar os meios de comunicação foi tão
intenso no Brasil. Isso não está fora do cenário internacional. Vários países
do mundo, dirigidos por líderes autoritários, sejam de direita ou de esquerda,
fazem a censura abertamente. Alegam que é preciso impedir que fake news
perturbem a paz social e política do país.
Os que insistem em divulgar notícias contrárias ao governo
são rotulados como traidores da pátria, agentes estrangeiros infiltrados e, por
isso, merecem o maior castigo. O mais comum é a prisão sem direito à defesa e a
saberem exatamente o porquê de estarem sendo mantidos em verdadeiras masmorras.
Sofrem torturas psicológicas e físicas. Os locais são insalubres, a alimentação
precária e banho de sol só quando é permitido pelo feitor responsável pelo
presídio.
Familiares são impedidos de falar livremente com seus
parentes. Os advogados são ameaçados e raramente têm acesso aos processos para
planejar a defesa de seus clientes. Os defensores dos direitos humanos são
rotulados de lesa-pátria.
Bater na porta da Justiça, nem pensar. Os tribunais estão
com suas portas abertas, mas os magistrados não ousam peitar o governo
autoritário. Ou por receio de represálias, ou porque concordam com as
diretrizes do regime. Pesa sobre os críticos do governo a pecha que estão a
serviço de potências estrangeiras. E isso é agravado com a guerra que se
disputa na Europa e ameaça alcançar outros continentes.
As ideologias totalitárias constroem narrativas de que só
elas são capazes de erigir uma sociedade mais justa e conduzir a pátria à
glória. Além dos jornalistas, líderes da oposição, os professores também estão
sob a mira da censura. Não podem livremente indicar autores que não se afinem
com a ideologia do Estado. Renasce o Index Librorum Prohibitorum da Idade Média.
Do outro lado, a seção incumbida de fazer a propaganda
oficial publica livros aos borbotões e os distribui nas escolas e bibliotecas
de todo o país.
O governo não poupa dinheiro para manter a vigilância sobre
os veículos de comunicação. Nada, ou quase nada, escapa da ação dos sensores a
serviço do chefe. Os jornais são empastelados ou ameaçados e são mais fáceis de
controlar.
A maior dificuldade é a criatividade popular, plural,
capilar e quase impossível de impedir que se espalhe. Especialmente as músicas
de Carnaval. Pelo menos 400 músicas são censuradas sob o pretexto que o
conteúdo era contrário aos interesses da pátria. Outra desculpa é que são
contra a moral e a sensibilidade social.
O Departamento de Imprensa e Propaganda desenvolve o seu
trabalho arduamente e não para de censurar, mesmo no auge do governo do ditador
Getúlio Vargas em 1942. O rádio, principal veículo de massa, tem mais de uma
centena de programas tirados do ar e paira sobre todos a ameaça de perder a
concessão federal.
A outra face da censura é a exaltação do chefe do governo, o
culto à personalidade inspirado no modelo que Mussolini implantou na Itália.
Não há como resistir à ação do DIP, encarregado de fazer a propaganda do regime
autoritário que perdura até 1945. Nem mesmo o Supremo Tribunal Federal pode
resistir às imposições do ditador.