metropoles -21/09/2023 22:57
A defesa do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) se manifestou, nesta quinta-feira (21/9), sobre o
suposto conteúdo da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. Em
nota, representantes do ex-mandatário afirmam que ele “jamais tomou qualquer
atitude que afrontasse os limites e garantias estabelecidas pela Constituição
e, via de efeito, o Estado Democrático de Direito”. A manifestação ocorre após
a imprensa noticiar que o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teria afirmado, em
delação premiada à Polícia Federal (PF), que o
ex-chefe do Executivo federal se reuniu com a cúpula das Forças Armadas e
ministros no ano passado, com o tema intervenção militar em pauta. A intenção
seria impedir a troca de governo.
“A defesa do Presidente Jair Bolsonaro, diante das notícias
veiculadas pela mídia na data de hoje sobre o suposto conteúdo de uma
colaboração premiada, esclarece que: 1. Durante todo o seu governo jamais
compactuou com qualquer movimento ou projeto que não tivesse respaldo em lei,
ou seja, sempre jogou dentro das quatro linhas da Constituição Federal”, diz a
nota divulgada à imprensa.
Sem citar diretamente Cid, os advogados de Bolsonaro
defenderam ainda que pretendem adotar “medidas judiciais cabíveis contra toda e
qualquer manifestação caluniosa, que porventura extrapolem [sic] o conteúdo de
uma colaboração que corre em segredo de Justiça, e que a defesa sequer ainda
teve acesso”. A delação de Mauro Cid
Ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro
Cid ficou preso por quatro meses, sob acusação de ter liderado esquema de
adulteração de cartões de vacina. Ele foi solto neste mês e, diante de uma situação
jurídica complicada, resolveu fechar acordo de delação premiada com a Polícia
Federal, entre o fim de agosto e o início de setembro.
Cid teria delatado que Bolsonaro, após sua derrota, fez uma
reunião com comandantes militares, no fim de 2022, para debater a viabilidade
de um golpe de Estado.
A reunião que o então presidente teve com a cúpula das
Forças Armadas e seus ministros mais próximos não resultou em uma proposta de
golpe, porque a ideia de intervenção militar não foi aceita por unanimidade.
Cid ainda teria citado à PF nomes como o do almirante de
esquadra da Marinha Almir Garnier. O comandante da Força teria afirmado ao
ex-presidente que suas tropas estariam prontas para responder à convocação de
Bolsonaro. O Comando do Exército, no entanto, teria ficado contra a ideia de
golpe e contra o consequente impedimento da posse do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT).
Na delação, Cid ressaltou que participou da reunião com o
então assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe
Martins, que teria lhe repassado uma suposta minuta de golpe (que previa
convocação de novas eleições e prisão de adversários políticos).
Reunião com militares
A reunião entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a
cúpulas das Forças Armadas delatada por Mauro Cid já vinha sendo citada por
aliados e apoiadores do ex-mandatário.
Informações sobre o encontro estão na delação do
tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e foram
confirmadas pelo Metrópoles.
Em dezembro de 2022, o influenciador e empresário Paulo
Generoso, sócio de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), escreveu em suas redes sociais
sobre o plano de golpe com a suposta participação do ex-presidente.
Na ocasião, o empresário, que apoiou os atos de janeiro,
afirmou que houve uma reunião com o alto comando das Forças Armadas.
E que Bolsonaro “pediu apoio para barrar o avanço do
Judiciário sobre os outros poderes e que a posse de Lula fosse adiada por seis
meses até que a equipe de juristas fizesse uma investigação sobre favorecimento
a Lula”.
Segundo Generoso, o então comandante do Exército, Marco
Antônio Freire Gomes, foi contra o plano golpista.
“Freire Gomes foi contra e disse que não valia a pena ter 20
anos de problemas por 20 dias de glória e falou que não apoiaria ou atenderia o
chamado do presidente pra moderar a situação mesmo após Bolsonaro apresentar
vários indícios de parcialidade em favor de Lula pelo TSE [Tribunal Superior
Eleitoral] e STF [Supremo Tribunal Federal]”, contou.
Reunião na Defesa
O ministro da Defesa, José Múcio, avaliou, em entrevista
nesta quinta-feira (21/9), que as Forças Armadas, enquanto instituição,
garantiram “a manutenção da democracia” e que avanços golpistas após a derrota
do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) nas eleições foram “atitudes isoladas de componentes
das Forças”.
O ministro do governo Lula lamentou o “manto de suspeição”
que recaiu sobre a instituição após Mauro
Cid delatar reunião de comandantes militares com o ex-presidente para falar de
golpe.
“Não mexe conosco [diretamente], porque se trata de pessoas
que pertenceram, que estão na reserva, os citados, mas nós desejamos muito que
tudo seja esclarecido. Evidentemente esse ambiente que a gente vive nos
constrange e essa aura de suspeição coletiva nos incomoda”, disse Múcio, ao
chegar a seu ministério nesta quinta.
Ele disse que pretende conversar com os atuais comandantes
sobre a revelação, mas repetiu algumas vezes que o problema diz respeito a
militares que trabalharam no governo Bolsonaro. “Essas coisas que saíram hoje
são em relação ao governo passado, comandantes passados, não mexe com ninguém
que está na ativa”, seguiu ele.
“Ficamos sempre torcendo que essas coisas tenham fim, porque
você pode imaginar o que é trabalhar com um manto de suspeição, é muito ruim.
quem não tem nada a ver com isso se sente incomodado. Mas tudo vai chegar a um
bom fim. Tenho certeza cristalina de que o
golpe não interessou, em momento nenhum, às Forças Armadas. São
atitudes isoladas de componentes das Forças, mas nós devemos ao Exército, à
Marinha e à Aeronáutica a manutenção da nossa democracia”, destacou Múcio.