folhapress -26/09/2024 15:16
Assinado neste mês, o decreto que muda regras para
terceirizados no setor público federal vai afetar 73 mil profissionais. As
mudanças entraram em vigor desde a publicação do documento, mas o aumento de
salários, um dos pontos visados, ainda pode levar cinco anos até surtir efeito,
de acordo com Roberto Pojo, secretário de Gestão e Inovação do governo federal.
Hoje, a média salarial dos terceirizados é de R$ 1.940,
segundo dados de maio deste ano da CGU (Controladoria-Geral da União). A medida
visa combater uma prática comum entre empresas de terceirização: reduzir a
remuneração dos funcionários para vencer licitações no governo.
De acordo com denúncia do Ministério Público do Trabalho à
pasta, chegava-se a pagar aos funcionários até metade do piso salarial da
categoria, diz o secretário.
Com a nova norma, essa cifra precisa ser de valor igual ou
superior ao piso da categoria nos contratos com funcionários que tenham
dedicação exclusiva e atuem em serviços contínuos, como limpeza e segurança.
"O grande ponto do Ministério Público era o artifício
de [uma empresa] vencer um processo licitatório pagando metade do valor do piso
daquela categoria", diz Pojo. "O decreto não iria inventar um novo
conjunto de regramentos, mas reforça o conjunto que já existe."
Os contratos com esses profissionais têm validade de até
cinco anos, mas são renovados anualmente. Como o salário do funcionário só pode
ser alterado após o fim desse período de cinco anos, deve levar um tempo para
que todas as empresas cumpram a exigência de remuneração prevista pelas novas
regras.
O MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços
Públicos) ainda não tem uma estimativa de qual será o custo dessas mudanças. Os
custos salariais são das empresas contratadas.
Vigilantes, que podem atuar tanto na segurança quanto na
vigia de prédios públicos, são o principal grupo de funcionários terceirizados,
com 12,9 mil contratados, segundo dados da CGU. Em seguida vêm os faxineiros,
com 12,8 mil, e operadores de telemarketing, que somam 7.100.
De acordo com o secretário, o MGI vai fiscalizar a
implementação das mudanças. Todos os contratos serão cadastrados em um sistema
interno da pasta, com objetivo de facilitar o acesso às informações de salário
dos funcionários terceirizados. O Ministério Público e os sindicatos também vão
apoiar esse trabalho da gestão.
"Dinheiro público não pode ser usado para custear uma
atividade precária, mas, sim, para comprar de empresas que são responsáveis
socialmente, que respeitam o salário mínimo. Muitas vezes, isso conflita com o
preço da licitação", diz Cibele Franzese, professora de administração
pública da FGV-SP e membro do Movimento Pessoas à Frente, que atua na melhoria
do serviço público.
Segundo a professora, fazer as empresas se adaptarem às
novas regras em cidades com setor privado mais enxuto será um desafio na
implementação do decreto.
O documento prevê, por exemplo, que os contratos exijam
mecanismos para receber e encaminhar denúncias de assédio e discriminação no
ambiente de trabalho.
No entanto, mesmo órgãos do governo federal ainda têm
dificuldade para desenvolver plataformas com esse objetivo, de acordo com a
professora. Para empresas de terceirização de pequeno porte, o desafio será
ainda maior.
De acordo com Roberto Pojo, do MGI, o programa de
integridade da CGU visa guiar a criação desses mecanismos. O programa busca
prevenir e detectar práticas irregulares que envolvem a administração pública,
incluindo assédio e discriminação.
"Já existem ações que devemos tomar, mas estimulamos em
cada organização um ambiente em que, se ocorrer o assédio, haja instâncias
seguras para fazer denúncias. Isso vai além do decreto", diz.
Segundo Cibele Franzese, as mudanças devem reduzir o número de companhias
trabalhando com o governo, uma vez que nem todas poderão cumprir as regras
previstas no decreto. Por outro lado, a compra será mais qualificada.
"Um pequeno empresário que não quer arriscar o nome
contratando pessoas jurídicas pode não conseguir reduzir seus custos para
entrar em uma licitação agora. Mas, com as mudanças, pode ser que sua empresa
passe a ter um preço mais competitivo."
Neste ano, os terceirizados já poderão ter direito ao
recesso no fim de dezembro. O MGI publicou na última sexta (13) a primeira
instrução normativa para regulamentar essa regra do decreto, que prevê a
redução temporária de demanda e procedimentos para compensar a jornada de
trabalho, caso o funcionário precise se ausentar.