metropoles -12/10/2023 21:17
Em meio à escassez de suprimento vitais na Faixa de
Gaza, a crise humanitária tem se escalado no enclave à medida que se
intensificam os bombardeios israelenses à região, em retaliação ao
devastador ataque do Hamas no fim de semana.
Nesta quinta-feira (12/10), palestinos faziam fila em frente
a padarias e mercados na tentativa de estocar comida, após passarem a noite
cercados pelas ruínas de bairros pulverizados e sem luz, devido a um corte
quase total de energia elétrica.
Após a ofensiva do Hamas no último sábado (7/10), o governo
em Israel ordenou um “cerco total” à região, interrompendo
todo o fornecimento de comida, água, combustível e energia para o enclave,
espremido entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo. Intensos ataques aéreos
também miram infraestrutura crítica para a sobrevivência dos residentes.
Dois terços da eletricidade consumida em Gaza dependiam de
fornecimento israelense. Com o corte, o enclave passou a depender
exclusivamente de uma termelétrica local, que também ficou sem combustível na
quarta-feira, segundo autoridades palestinas. Há temor de que o corte total de
energia afete duramente os hospitais locais, já superlotados de feridos nos
ataques aéreos.
À rede Al Jazeera o repórter Nedal Samir Hamdouna, baseado
em Gaza, disse que as condições no enclave sitiado “se assemelham a um
inferno”. “Não tenho palavras para descrever como é terrível a situação aqui”,
destacou.
Interrupção de energia e água agravam crise humanitária
Nesta quinta, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) afirmou
que o pouco combustível que ainda resta em Gaza para operar geradores deve
acabar em algumas horas, afetando inclusive o funcionamento de hospitais.
“À medida que Gaza perde energia, os hospitais perdem
energia, colocando em risco os recém-nascidos em incubadoras e pacientes idosos
que recebem oxigênio. A diálise renal é interrompida e os raios X não podem ser
feitos”, disse Fabrizio Carboni, diretor regional do CICV. “Sem eletricidade,
os hospitais correm o risco de se transformar em necrotérios.”
Já a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos
(UNRWA) alertou para a crise hídrica na região. “Os abrigos estão superlotados
e têm disponibilidade limitada de alimentos, itens não alimentares e água
potável”, disse o órgão em comunicado.
“Uma crise hídrica está iminente nos abrigos de emergência
da UNRWA e ao longo da Faixa de Gaza devido à infraestrutura danificada, falta
de eletricidade necessária para operar bombas e usinas de dessalinização e
fornecimento limitado de água no mercado local”, continua o texto. “O
abastecimento de água não pode ser restabelecido devido ao bloqueio total da
Faixa de Gaza pelas autoridades israelenses.”
Mortos e descolados em Gaza
Organizações de ajuda internacional alertaram que o número
de mortos em Gaza pode aumentar ainda mais em meio ao cerco, que foi denunciado
pela ONU como uma violação do direito humanitário internacional. Em apenas seis
dias, a guerra entre Hamas e Israel já deixou mais de 2,5 mil mortos de ambos
os lados.
O número de pessoas deslocadas também aumentou cerca de 30%
só nas últimas 24 horas. Segundo o Escritório da ONU para a Coordenação de
Assuntos Humanitários, 338.934 habitantes da Faixa de Gaza, que tem população
de pouco mais de 2 milhões, estão em deslocamento.
Muitos se abrigam em escolas administradas por uma agência
de ajuda humanitária das Nações Unidas, sendo que duas delas foram atingidas
por ataques aéreos israelenses. Entre os alojados em escolas, estão 13 brasileiros
que aguardam retorno ao Brasil.
Apelos da ONU
O representante palestino na ONU, Riyad H. Mansour, fez um
apelo pelo envio de ajuda humanitária aos palestinos no enclave, a fim de que
se evite uma “catástrofe iminente”.
“Continuaremos o contato com todos, incluindo o Conselho de
Segurança, para que a comunidade internacional assuma sua responsabilidade,
entre em cena e ponha fim a este ataque contra nosso povo. Mas, mais
importante, isso requer – é claro – o envio de assistência humanitária aos 2,3
milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza. Tem que haver uma intervenção
humanitária para evitar uma catástrofe iminente”, disse Mansour.