agencia brasil -14/06/2023 23:29
Após mais de cinco anos sem analisar casos de quebra de
decoro, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar do Senado deu andamento, nesta
quarta-feira (14), a 13 pedidos de abertura de processos administrativos contra
senadores da República.
Das 13 representações analisadas, seis foram arquivadas
envolvendo os senadores Davi Alcolumbre (União-AP), Jayme Campos (União-MT),
Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Humberto Costa (PT-PE) e Damares Alves (PRB-DF), além
do ex-senador Paulo Rocha (PT-PA).
Outros seis pedidos para abertura de processos disciplinares
foram aceitos, sendo dois contra o senador Jorge Kajuru (PSB-GO) e um contra os
senadores Cid Gomes (PDT-CE), Chico Rodrigues (PSB-RR), Styvenson Valentim
(PO-RN) e Randolfe Rodrigues (REDE-AP). Um último processo contra o senador
Flávio Bolsonaro teve a análise adiada para próxima sessão do Conselho.
Casos arquivados ou adiados
No caso do senador Alcolumbre, ex-presidente do Senado e
atual presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a representação
foi apresentada em 2020 por um juiz do amapá, Wilson Koressawa, na
condição de cidadão. Ele acusou o parlamentar de “extravio dos
pedidos de impeachment contra ministros do STF”. Na época, Alcolumbre
sofria pressão de senadores e setores da sociedade para analisar pedidos
de impeachment de ministros do Supremo.
Ao arquivar o caso, o presidente do Conselho de Ética,
senador Jayme Campos (União-MT) alegou que o autor do requerimento não atendeu
ao “requisito que exige a presença de justa causa para abertura de processo
disciplinar com contemporaneidade entre os fatos narrados e a legislatura atual
como condição de admissibilidade”.
Já a representação arquivada contra Flávio
Bolsonaro foi apresentada em dezembro de 2020 pelo ex-deputado federal
Alexandre Frota.
Frota acusou Flávio de tentar interferir nas investigações
do suposto caso de desvios de salários de assessores do parlamentar, prática
conhecida como rachadinha. Para o presidente da comissão, Jayme Campos, a
representação não identificou os fatos que são imputados ao senador.
A segunda representação contra o senador Flávio Bolsonaro
teve a análise adiada para próxima sessão, que ainda não tem data marcada.
Trata-se do pedido de abertura de processo apresentado pelo PT, PSOL e Rede
devido a “sua ligação forte e longeva com as milícias no Rio de Janeiro”. A
representação cita a relação do então senador com Adriano Magalhães Nóbrega,
acusado de chefiar uma milícia na Zona Oeste do Rio. A representação alega que
Adriano foi homenageado por Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro
em 2003 e 2005. O senador nega envolvimento com o crime organizado.
Segundo o presidente da Comissão, Jayme Campos, a análise
foi adiada porque o processo recebeu um aditamento no final da última
legislatura e, por isso, “o parecer da Advocacia Geral do Senado sobre a
solicitação do aditamento ainda não foi emitida”.
Outro caso arquivado foi contra o próprio presidente do
Conselho, Jayme Campos. Em setembro de 2020, os partidos PROS e Republicamos
acusaram o senador mato-grossense de agredir um eleitor que cobrava a prefeita
de Várzea Grande, Lucimar Campos, esposa do senador.
Quem rejeitou a denúncia foi o senador Otto Alencar
(PSD-BA), que arquivou o caso argumentando que o processo excedeu o prazo de 5
dias úteis para exame preliminar da admissão da denúncia pelo Conselho de
Ética.
Outro processo arquivado foi contra o senador Humberto Costa
(PT-PE). Ele foi acusado de ter acesso a decisões judiciais antes que elas se
tornassem públicas. Segundo a representação do deputado federal José Medeiros
(PL-MT), o petista comentou nas redes sociais que Lula estaria voltando um dia
antes da decisão que anulou as condenações do atual presidente da República.
Segundo o presidente do Conselho, Jayme Campos, Medeiros não apresentou todos
os requisitos exigidos para abertura do caso.
José Medeiros ainda representou contra o ex-senador
Paulo Rocha (PT-AP), mas o caso foi rejeitado por falta de requisitos mínimos
na peça apresentada.
Por último, foi arquivada a denúncia contra a senadora
Damares Alves (RP-DF). A representação do PSOL acusou a ex-ministra de Direitos
Humanos do governo Bolsonaro de ter utilizado “a máquina pública como um
instrumento para uma política etnocida e racista contra os Povos Indígenas e,
em particular, contra o Povo Yanomami, defendendo expressamente a prática de
garimpo ilegal em terras indígenas”. A denúncia foi rejeitada sob o argumento
de que o fato apontado foi anterior ao mandato atual da parlamentar.
Pedidos aceitos
O primeiro pedido aceito pelo Conselho de Ética do Senado
foi contra o senador Cid Gomes (PDT-CE) por ter afirmando, em outubro de 2019,
que o atual presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), seria
“achacador” e chantagista. O relator sorteado para esse caso foi o senador Davi
Alcolumbre (União-AP).
O senador Kajuru teve os dois processos contra ele aceitos.
Um deles alega que Kajuru fez ilações falsas sobre supostos casos de corrupção
de parlamentares. O outro pedido aceito aponta que o senador goiano quebrou o
decoro parlamentar ao divulgar uma gravação telefônica com o ex-presidente
Bolsonaro. Os casos contra Kajuru serão relatados, respectivamente, pelos
senadores Otto Alencar (PSD-BA) e Zenaide Maia (PSD-RN).
Foi admitida pelo presidente do Conselho, Jayme Campos,
a representação contra o senador Chico Rodrigues. O processo disciplinar foi
motivado pelo fato de o senador roraimense ter sido flagrado em operação
da Polícia Federal com dinheiro na cueca. O senador Renan Calheiros (MDB-AL)
foi sorteado como relator desse caso.
Também foi aceito o processo contra o atual líder do governo
no Congresso, senador Randolfe Rodrigues. Ele é acusado de quebra de decoro
parlamentar por proferir ofensas contra o presidente Jair Bolsonaro, usando
termos como “ladrão” e “genocida”. O senador Omar Aziz (MDB-AM) é quem vai
relatar o processo contra Randolfe.
Já o senador Styvenson Valentim foi acusado pela então
deputada federal Joice Hasselmann de ofender a honra dela ao ironizar o caso de
violência sofrido pela ex-parlamentar em julho de 2021. Segundo a
representação, o senador teria afirmado que a deputada foi agredida porque
teria traído o companheiro ou usado drogas. O relator sorteado para o processo
contra Styvenson foi o senador Dr. Hiran (PP-RR).
O colegiado pode determinar advertência e censura. Nos casos
de perda temporária do mandato ou cassação, as penas precisam ser aprovadas
pelo plenário da Casa.
Colegiado
A última sessão do Conselho de Ética do Senado que analisou
algum processo contra parlamentar foi em setembro de 2017. O colegiado ficou
parado até setembro de 2019, quando uma nova composição foi formada. Porém, não
foi dado andamento a nenhum processo. Com a pandemia, os trabalhos ficaram
parados até serem retomados com a instalação do novo conselho no último dia 28
de março de 2023.