metropoles -24/03/2024 20:22
Após a Câmara dos Deputados aprovar o Projeto de Lei (PL) nº 2.253/22, que acaba com o
benefício das saídas temporárias para presos, as chamadas saidinhas, cabe
ao presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) avaliar o destino do texto. Sob a
resistência de entidades e pressionado em relação à segurança pública, o
governo precisa balancear bem os efeitos de sancionar ou vetar as mudanças
propostas pelo Parlamento.
Na quarta-feira (20/3), o texto foi aprovado por unanimidade
em votação simbólica pelo plenário da Câmara. Parlamentares da base escolheram
não interferir no pleito; assim, o governo liberou a bancada para votar
conforme sua vontade.
“Isso não é uma pauta de governo. Foi uma iniciativa do
deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), a Câmara votou, o Senado reformou e a Câmara
ratificou as emendas do Senado. Portanto, é uma decisão soberana da Câmara”,
destacou o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), após a
aprovação.
“Eu acho que nós não devemos polemizar isso. A Câmara que
aprovou, portanto, a responsabilidade é dela”, completou.
Durante a votação, a bancada do PT na Câmara optou por não se pronunciar sobre o
tema. A avaliação do partido foi que manifestações contrárias ao fim das
saidinhas poderiam prejudicar a popularidade do governo — que já está em queda,
de acordo com pesquisas divulgadas recentemente.
Tema sensível
O fim das saidinhas mexe com uma área sensível, na qual o
governo já vem patinando: a segurança pública.
O assunto ganhou força na mídia após a fuga de dois detentos
da Penitenciária Federal de Mossoró, a primeira da história dos presídios
federais brasileiros. Deibson Cabral e Rogério da Silva, que são ligados à
facção criminosa do Comando Vermelho (CV), seguem foragidos após mais de um mês da fuga.
Mais de 500 policiais de forças federais e estaduais atuam
nas buscas pelo fugitivos. Nesta semana, o Ministério da Justiça e
Segurança Pública prorrogou o uso de agentes da Força Nacional para
reforçar a caçada. O governo já gastou mais de R$ 800 mil na manutenção de 111
agentes no local.
De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, durante a
reunião com o presidente Lula e ministros, o titular da Justiça, Ricardo
Lewandowski, minimizou a responsabilidade federal em relação aos problemas da
segurança pública, ressaltando que o tema compete, principalmente, aos estados
e municípios.
Resistência ao PL
Diante da sensibilidade em torno do assunto, eventual veto
ao PL poderia trazer mais desgaste à imagem do Planalto. No entanto, setores da
sociedade e do próprio governo demonstram resistência à matéria.
Entidades defendem que as saídas temporárias são um
importante instrumento para a ressocialização de presos. O Ministério Público Federal (MPF) já se manifestou contra o fim
do benefício, argumentando que a proposta é “flagrantemente
inconstitucional”.
Além disso, uma nota técnica do Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP), ligado ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública,
apontou que a medida terá “reflexos incomensuráveis” à reintegração social dos
presos e ao sistema prisional. O documento pode ser usado para embasar um
possível veto à matéria.
Entenda a mudança
Atualmente, a Lei de Execução Penal permite que presos em
regime semiaberto sejam beneficiados com a saída temporária, cumprindo
requisitos como bom comportamento. As saidinhas costumam ocorrer em datas
comemorativas, como Dia das Mães, Páscoa e Natal.
Com o texto aprovado, esse benefício acaba. As únicas
exceções são para detentos que estudam e trabalham. Nesses casos, eles terão
direito a saídas temporárias para cumprir a carga horária de cursos
profissionalizantes, ensino médio ou superior.
Detentos que tenham cometido crimes hediondos não têm
direito ao benefício. Os presos precisam informar o endereço onde permanecerão
durante a noite, e são proibidos de frequentar locais como bares e casas
noturnas.