metropoles -08/08/2024 09:02
Quase 10 meses após o nascimento, as gêmeas siamesas Lara e Larissa deixaram o hospital
pela primeira vez nessa quarta-feira (6/8), em Goiânia (GO). O caso delas é
considerado um dos mais raros do Brasil e, por isso, desafia os médicos, que
ainda não conseguem prever quando será possível separá-las.
Desde que nasceram, as irmãs enfrentaram uma série de
complicações. Elas chegaram a ficar mais de cinco meses na Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) e passaram por várias intercorrências. Só agora as pequenas
estabilizaram o quadro de saúde, a ponto de receberem alta e poderem ir para
casa.
As recém-nascidas são unidas pelo tórax e compartilham
vários órgãos, como fígado, intestinos grosso e delgado, genitálias. Elas
evacuam pelo mesmo orifício. Além disso, as irmãs possuem apenas três pernas –
cada uma delas tem uma e a terceira, segundo a equipe médica, sai pelas costas.
Vida no hospital
A mãe, Kátia Márcia Cardoso, de 37 anos, é quem acompanha as
filhas desde o início. Ela é paraense, vivia com a família em Parauapebas (PA) até descobrir no ano passado que as
filhas nasceriam siamesas e que, por isso, precisariam de tratamento especial.
Antes mesmo do parto, a mãe buscou auxílio junto ao médico
goiano Zacharias Calil, que é reconhecido internacionalmente por
fazer cirurgias em crianças siamesas. Com mais de 30 semanas de gestação, Kátia
se deslocou para Goiânia, em setembro de 2023, e as filhas nasceram no dia 11
de outubro.
“Minha vida, desde então, foi dentro do hospital. Agora,
consegui alugar um apartamento perto, a 1 km do hospital, graças à ajuda de
algumas pessoas, e vamos viver por aqui, pois elas continuarão em observação. O
que eu puder fazer para elas não voltarem para o hospital eu vou fazer”, diz
ela.
Zacharias Calil explica que ainda não é possível que as
gêmeas retornem para o Pará. Elas terão de seguir em Goiânia pelos próximos
anos, até que atinjam as condições necessárias para serem submetidas ao
procedimento de separação.
“Ainda não temos previsão de quando isso acontecerá. É um
dos casos mais complexos que já peguei. Larissa tem cardiopatia, precisa de
oxigênio para respirar, portanto é um quadro muito delicado. Só de conseguir a
estabilização necessária para retirá-las do hospital já é uma vitória”, afirma
o médico.
Caso raro
Siameses unidos pelo tórax estão entre os casos mais raros
da pediatria e, por isso, também estão entre as cirurgias
infantis mais complexas de todas. Apenas 2% dos siameses apresentam essa
configuração. Eles só ficam atrás de crianças unidas pela cabeça, que
correspondem a 1% dos casos.
Durante os meses de internação no Hospital Estadual da
Criança e do Adolescente de Goiás (Hecad), Lara e Larissa tiveram paradas
cardiorrespiratórias, úlceras de pressão, traqueíte, hipertensão pulmonar,
distúrbios hidroeletrolíticos e outros. Além disso, segundo a unidade de saúde,
elas têm síndrome do pé torto congênito e se alimentam por sonda.
Kátia, a mãe, diz estar esperançosa e confiante na
possibilidade de separação das filhas. “Sofri quando descobri, porque é algo
que a gente nunca espera, mas estou preparada para enfrentar tudo”, diz ela.
Cada uma das gêmeas pesa, hoje, em torno de 3,9 kg.
Zacharias Calil, que já fez 22 cirurgias de separação em
siameses, diz que ainda não enxerga possibilidades em curto prazo, a não ser
que surja alguma emergência. “Elas precisam ganhar peso, ficar mais resistentes
e passar por avaliações periódicas”, explica.
Quem puder e quiser ajudar a família pode entrar em contato
com a mãe pelo perfil que ela criou no Instagram.