noticias ao minuto -12/01/2025 23:07
A expectativa de preços mais firmes de produtos agropecuários utilizados na cesta básica deve pressionar a inflação de alimentos neste ano. Carnes, café e açúcar são as commodities que mais preocupam quanto à pressão inflacionária em 2025, segundo analistas de mercado ouvidos pelo Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado).
As commodities softs, de forma consolidada, devem ter
pressão intermediária sobre a inflação, assim como o leite, enquanto os grãos
tendem a ter impacto neutro em virtude da perspectiva de preços estáveis.
O movimento tende a repetir o já observado no ano passado
com uma inflação de alimentos resistente, o que preocupa o governo em virtude
da pressão sobre a inflação geral e, consequente, atraso no ciclo de corte de
juros. Os números mais recentes divulgados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) mostram que os preços de alimentação e bebidas
aumentaram pelo quarto mês seguido. O grupo Alimentação e bebidas saiu de uma
elevação de 1,34% em novembro para uma alta de 1,47% em dezembro, resultando
numa contribuição de 0,32 ponto porcentual para a taxa de 0,34% registrada pelo
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) no último mês.
O principal impacto da aceleração da inflação de alimentos
deve vir das proteínas, aponta a analista da Tendências Consultoria, Gabriela
Faria, economista responsável por agropecuária e biocombustíveis.
"A inflação será impulsionada pelo aumento expressivo
dos preços das carnes, estimado em pelo menos 16,6% no valor pago ao produtor,
com repasse à indústria e ao consumidor", diz. Café e açúcar também devem
contribuir com uma inflação de alimentos mais forte com produções limitadas,
segundo a economista. Em contrapartida, do lado dos grãos, o efeito dos preços
sobre a inflação tende a ser neutro, sem expectativa de altas acentuadas nas
cotações de soja e milho.
A Tendência Consultoria projeta aumento de 9,1% no IPCA
alimentos de 2024 e de 6,2% para este ano, com viés de alta. Faria cita também
o óleo de soja, leite e as commodities softs como itens de atenção quanto a
potencial inflacionário neste ano, além de hortaliças, frutas e verduras, que
têm maior suscetibilidade a variações climáticas e peso relevante na cesta
básica.
O momento atual é de atenção também sobre o desenvolvimento
das lavouras de hortifrútis, afetadas pela seca histórica do ano passado,
aponta o gerente da consultoria Agro do Itaú BBA, Cesar de Castro Alves.
"É preciso observar o acumulado de chuvas nos próximos
dois meses e os efeitos sobre a produção de hortifrútis, que, apesar da rápida
recuperação das lavouras, podem ter pressão momentânea sobre inflação em caso
de perdas nas lavouras", destaca Alves.
Ele concorda com os demais analistas de que as proteínas e
as commodities softs são os produtos mais preocupantes quanto à pressão
inflacionária. "A alta do café ainda não foi repassada ao varejo e
poderemos ter novas máximas históricas. Dos produtos básicos, o trigo vai
depender muito do dólar, já o arroz tende a ter uma ótima safra e o feijão deve
ficar com produção dentro da média", acrescenta.
O sócio-diretor da consultoria MB Agro, José Carlos
Hausknecht, observa que o câmbio será determinante para a inflação de alimentos
neste ano. "Se o dólar se mantiver acima de R$ 6, a pressão sobre a
inflação de alimentos será maior levando a uma política monetária mais
restritiva. Do ponto de vista fiscal, o mercado não vê firmeza nas medidas do
governo, o que gera incerteza, e somado aos preços sustentados de commodities
agrícolas reflete em maior pressão sobre inflação", avalia.