estadao -17/07/2025 09:14
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria,
Comércio e Serviços (Mdic), Geraldo Alckmin, disse nesta quarta-feira, 16, que
o governo brasileiro quer uma negociação urgente, mas não vê problema se for
preciso tentar prorrogar o início da vigência das tarifas impostas pelos
Estados Unidos. As novas cobranças começam a partir de 1.º de agosto, segundo
anúncio do presidente americano, Donald Trump.
"Nós queremos negociação, é urgente. O bom é que se
resolva nos próximos dias", disse Alckmin a jornalistas após reunião com o
presidente da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil), Abrão
Neto, ontem na sede do Mdic. "Se houver necessidade nessa negociação de
prorrogar (o prazo para início das tarifas), não vejo problema."
Mais cedo, Alckmin gravou um vídeo com os presidentes da
Câmara, Hugo Mota (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União
Brasil-AP), em que defendem uma atuação conjunta entre governo e Congresso para
reverter as tarifas impostas pelos EUA.
"Estamos prontos para estar na retaguarda do Executivo
para que, nas decisões necessárias à ação do parlamento, nós possamos agir com
rapidez, com agilidade, para que o Brasil possa sair mais forte desta
crise", diz Motta no vídeo.
Comitê interministerial
A criação do Comitê Interministerial de Negociação e
Contramedidas Econômicas e Comerciais foi oficializada no decreto que regula a
Lei da Reciprocidade Econômica (Lei 15.122/25). Como primeira missão, o grupo
deverá ouvir os setores empresariais para detectar as implicações do anúncio,
pelos EUA, de tarifas de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, a
partir do dia 1.º de agosto.
Ontem, foram realizadas três reuniões com o setor produtivo
para discutir ações contra as tarifas anunciadas pelos EUA. Até aqui, a
principal proposta do empresariado é de buscar pelo menos mais 90 dias de
discussão e evitar retaliações o quanto for possível. Representantes do setor
agropecuário pediram cautela ao Executivo nas negociações e que as tratativas
sejam esgotadas até 31 de julho.
PIB
O tarifaço de Trump pode reduzir em 0,16% o Produto Interno
Bruto (PIB) do Brasil e da China, além de provocar uma queda de 0,12% na
economia global e uma retração de 2,1% no comércio mundial (US$ 483 bilhões),
segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a partir de
fontes oficiais e estudos econômicos (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística; Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços; e
Universidade Federal de Minas Gerais).
Segundo o estudo, estimam-se ainda queda de R$ 52 bilhões
nas exportações brasileiras e diminuição de 110 mil empregos no País. Já o PIB
americano poderia cair 0,37% a partir das barreiras tarifárias impostas a
Brasil, China e 14 outros países, além das taxas impostas à importação de
automóveis e aço de qualquer lugar.
"É um perde-perde para todos, mas principalmente para
os americanos. A indústria brasileira tem nos EUA seu principal mercado, por
isso a situação é tão preocupante. É do interesse de todos avançar nas negociações",
afirma o presidente da CNI, Ricardo Alban.