folhapress -19/09/2025 09:23
Deputados favoráveis a uma ampla anistia aos condenados por
atos golpistas, majoritariamente bolsonaristas e do PL, falam em negociar com o
relator do projeto, Paulinho da Força (Solidariedade-SP), e querem levar ao
plenário um texto que garanta o perdão ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O
grupo rejeita a redução de penas proposta pelo centrão.
Nesta quinta-feira (18), Paulinho disse que seu texto não
vai tratar de anistia, mas sim de redução de penas. Também afirmou que vai buscar
uma solução meio-termo, que seja pactuada com o Senado e o STF (Supremo
Tribunal Federal). O deputado tem boa relação com os ministros da corte,
especialmente Alexandre de Moraes.
Parlamentares bolsonaristas viram com desconfiança a escolha
de alguém próximo a Moraes, com histórico de apoio a Lula (PT) e atuação
sindical, mas dizem acreditar ser possível dialogar com Paulinho. Como mostrou
a Folha, eles preferiam um nome alinhado a Bolsonaro na relatoria, mas já
estava definido que o relator seria do centrão.
Os bolsonaristas falam em convencer o relator de que é
importante anistiar todos os condenados por crimes contra o Estado democrático
de Direito, inclusive Bolsonaro. Se isso não for possível, a ideia é apresentar
destaques ou emendas ao texto e tentar, por meio da votação no plenário, obter
maioria para a anistia ampla.
"Se o relator achar que vai apresentar um texto
conforme o desejo do STF, a gente vai lutar para colocar um destaque nesse
texto que realmente atenda às necessidades de quem está preso e condenado
injustamente. E aí vamos ver como a Câmara dos Deputados vai se portar. Se ela
vai decidir votar uma anistia que não é anistia ou se a Câmara realmente quer
pacificar o Brasil", afirmou à Folha de S.Paulo o deputado Zé Trovão
(PL-SC).
A votação expressiva de 311 deputados para aprovação da
tramitação de urgência do projeto de anistia, nesta quarta (17), animou os
deputados do PL. Para a aprovação do projeto, é necessário apenas maioria
simples (maioria dos presentes no plenário).
Líderes de partidos como União Brasil, PP, Republicanos e
PSD têm dito que suas bancadas aprovam a redução de penas, mas não dariam votos
suficientes para a anistia ampla. Enquanto o PL fala em perdoar até a
inelegibilidade de Bolsonaro, esses partidos já escolheram Tarcísio de Freitas
(Republicanos) como candidato presidencial e esperam que a redução da pena faça
com que o ex-presidente endosse seu afilhado político.
Pelas redes sociais, o líder do PL, deputado Sóstenes
Cavalcante (RJ), afirmou que o Legislativo não pode reduzir penas de
condenados. "A redução de pena é atribuição exclusiva do Poder
Judiciário", publicou.
"Ao Congresso, a Constituição é clara: cabe conceder
anistia, graça ou indulto (art. 48, VIII). E anistia significa extinção da
punibilidade. Sempre foi assim. [...] Portanto, não venham agora inventar
impedimentos só porque o tema incomoda o sistema", escreveu.
"É hora de dialogar sobre o texto que de fato devolverá
justiça e pacificação ao país, sem radicalismo, mas em um diálogo democrático,
constitucional e jurídico. [...] Garanto a todos que o PL lutará até o fim para
anistiar todos injustiçados pelo STF", publicou ainda.
Os bolsonaristas têm evitado criticar Paulinho publicamente,
apesar dos receios em relação à sua atuação. Como mostrou a Folha de S.Paulo, o
deputado já chamou os envolvidos nos atos do 8 de Janeiro de
"terroristas". Desde então, porém, Paulinho rompeu com o governo e
vem fazendo críticas duras ao petista.
Também pelas redes sociais, Sóstenes saiu em defesa do
deputado do Solidariedade, dando o tom para os correligionários. O líder
publicou que o parlamentar é um "ferrenho crítico" do governo Lula.
"Tenho plena confiança que a partir de agora vamos começar os diálogos e
fazer justiça", escreveu.
Zé Trovão, por exemplo, definiu Paulinho com um cara
sensato. "A gente espera que o texto seja construído de maneira séria, sem
brincar com pessoas que foram condenadas de maneira desproporcional", diz.
Em relação a Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão pelo
STF, o deputado afirma que a anistia deve levar em conta o voto do ministro
Luiz Fux, que absolveu o ex-presidente. "Vamos encerrar esse processo e
devolvê-lo para a primeira instância, para a instância correta."
Líder do partido Novo, o deputado Marcel Van Hattem (RS),
disse à Folha ser a favor de uma "anistia total". Segundo ele, as
falas de Paulinho mostram que talvez ele esteja "mais distante dos
acontecimentos" do que deputados da direita em relação aos condenados por
golpismo.
"A gente precisa conversar com o relator, apresentar
todos os dados. Tenho certeza de que ele vai se convencer, vai mudar de opinião
e vai chegar mais próximo, se não junto, com a nossa opinião", disse.
Se isso não acontecer, afirma Van Hattem, haverá
"condição de, no plenário, fazer emendas ou destaques de trechos com os
quais nós não concordamos".
Questionado a respeito de Bolsonaro, o líder do Novo diz que
a Câmara deve se antecipar e anistiar o ex-presidente, já que possíveis
candidatos à Presidência, como Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Romeu Zama
(Novo), já declararam que darão indulto a ele se assumirem o cargo.
"A Câmara pode pode tirar esse tema do debate
presidencial do ano que vem, pacificar as relações e dizer: o [ex-]presidente
já está anistiado."
Na mesma linha de Sóstenes, o deputado Domingos Sávio
(PL-MG) diz que a prerrogativa do Congresso é anistiar e não reduzir penas.
Mudar penas já estabelecidas, diz ele, é que poderia soar como afronta ao STF.
Na opinião do deputado, a anistia a crimes contra o Estado democrático de
Direito não seria inconstitucional, como opinam alguns ministros da corte e
especialistas.
Sávio diz ainda que a quantidade de votos favoráveis à urgência
põe em dúvida o argumento do centrão de que uma anistia ampla não seria
aprovada.