metropoles -08/07/2024 00:44
A regulamentação da Reforma Tributária, por meio do Projeto
de Lei Complementar nº 68/2024, é a maior prioridade da Câmara dos Deputados no
momento e deve ser votada em Plenário antes do recesso parlamentar, que começa
em 18 de julho. Entre as polêmicas do relatório apresentado pelo grupo de
trabalho, está a inclusão dos veículos automotores no rol do Imposto Seletivo,
conhecido como “imposto do pecado”, que também incide sobre outros itens, como
bebidas alcoólicas e açucaradas.
O principal ponto da reforma é a unificação dos cinco
impostos cobrados atualmente no país (ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins), que darão
origem ao Imposto sobre Valor Agregado (IVA) dual, com duas frentes de cobrança
(CBS federal e IBS subnacional), e ao Imposto Seletivo.
A entrada do setor é polêmica, segundo a Associação Nacional
dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), porque o Imposto Seletivo
tem como princípio reduzir o consumo de produtos considerados nocivos à saúde.
E, conforme a entidade, esse imposto adicional atrasará a
renovação da frota brasileira, inibindo o acesso dos consumidores aos
automóveis novos, mantendo por mais tempo nas ruas os veículos antigos, mais
poluentes e menos seguros.
Para ter uma ideia, um carro do ano 2000 polui 20 vezes mais
que um zero-quilômetro.
“O Brasil já possui uma das maiores cargas tributárias do
planeta sobre a compra de veículos. Depois de tantos anos lutando pela
eliminação do IPI, não faz o menor sentido criar um imposto adicional, que se
somaria ao IVA, tornando os veículos vendidos no Brasil inacessíveis a uma
grande parcela da população”, afirma nota da Anfavea.
Esse aumento, acrescenta a associação, afetará não apenas o
consumidor privado. Isso porque o valor de veículos necessários para atender a
população, como ambulâncias e viaturas de bombeiros por exemplo, também pesará
para o Estado, que acabará demorando mais para substituir esses automóveis,
deixando a população à mercê de conduções velhas. Sem contar pequenos
empreendedores que precisam de veículos para impulsionar os negócios.
“Isso porque o Imposto Seletivo engloba todos os automóveis
e veículos comerciais, incluindo vans, picapes, caminhonetes, veículos urbanos
de carga (VUCs) e caminhões de até 5 toneladas sem fazer distinção do tipo de
usuário, do emprego e do público que adquirirá esses veículos”, explica Márcio
de Lima Leite, presidente da Anfavea.
Proconve
O Programa de controle de emissões veiculares (Proconve) foi
instituído a partir da Resolução Conama nº 18, de 6 de maio de 1986, com o
objetivo de reduzir os níveis de emissão de poluentes por veículos automotores
para atender os Padrões de Qualidade do Ar, especialmente nos centros urbanos;
entre outras evoluções.
“Desde que a iniciativa foi criada, a redução das emissões
dos principais poluentes urbanos foi de 95% de monóxido de carbono, 98% de
hidrocarbonetos, 96% de óxidos de nitrogênio e 87% de aldeídos. No próximo ano,
a oitava fase do Proconve para veículos leves reduzirá as emissões a níveis
ínfimos”, pontua o presidente da Anfavea.
Há quatro décadas os carros nacionais vêm passando por uma
radical transformação, acelerada por grandes investimentos da indústria e pelas
legislações brasileiras de emissões, eficiência energética e segurança
veicular, as quais são as mais avançadas dentre todos os países em
desenvolvimento.
Os carros tiveram uma melhoria de 15% na eficiência
energética durante o Inovar Auto, outros 18% após o Rota 2030 e terão uma nova
redução de 11% no consumo com o programa Mover, fazendo do Brasil o país com a
frota mais descarbonizada do planeta.
Hoje, nas concessionárias, graças à etiquetagem veicular, o
consumidor pode verificar o consumo dos carros novos e o nível de emissão de
CO2.
Assim, a entrada do setor no Imposto Seletivo teria grande
impacto ambiental à saúde da população provocada por uma frota envelhecida, que
está a anos-luz de distância dos modelos novos em termos de sustentabilidade e
segurança. E, pior, uma frota sem inspeção veicular, que garantiria um mínimo
de manutenção dos padrões originais dos veículos.