metropoles -19/10/2024 12:46
Novembro vai ter um gosto amargo para Jair Bolsonaro e alguns
de seus ex-ministros: a Polícia
Federal vai indiciar, em meados do mês, o ex-presidente; os
ex-ministros e generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto;
o ex-comandante da Marinha e almirante Almir
Garnier Santos; o ex-ministro Anderson
Torres; e o ex-ministro Paulo
Sérgio Nogueira, entre outros. Os seis serão indiciados no inquérito que
apura a tentativa de golpe de Estado, após a derrota para Lula, em 2022.
A Polícia Federal tem elementos que mostram a participação
dos cinco na trama golpista colocada em prática ao longo de 2022, e, em
especial, após o resultado do segundo turno da eleição daquele ano.
Mensagens encontradas recentemente pela PF ligam Bolsonaro à
minuta golpista que implementava instrumentos jurídicos que permitiram
contestar o resultado das eleições, à margem da Constituição. No texto,
encontrado posteriormente com o ex-ajudante
de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, constava o decreto de Estado de Sítio e
de uma Operação de Garantia da Lei e da Ordem.
A situação de Bolsonaro também foi agravada pela confirmação
dos ex-comandantes do Exército, general Marco Antonio Freire Gomes, e da Força
Aérea Brasileira (FAB), tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Júnior, de que
Bolsonaro os pressionou a aderir a um golpe de Estado para se manter no poder.
O ex-comandante da Marinha Almir Garnier foi o único dos
três chefes militares a, segundo a investigação da PF, colocar suas tropas à
disposição para uma intentona golpista. O ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio
Nogueira, é listado como pertencente ao núcleo de oficiais de alta patente que
teriam se valido do cargo “para influenciar e incitar o apoio aos demais
núcleos de atuação, por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas,
para a consumação do golpe de Estado”.
Já Anderson Torres, fora a omissão no 8 de Janeiro — quando
ele, mesmo sendo secretário de Segurança e sabendo do risco de invasão das
sedes dos Três Poderes, decidiu tirar férias e deixar Brasília —, será
indiciado por ter servido, nas palavras dos ex-comandantes militares, como
“tradutor jurídico” da minuta golpista.
Augusto Heleno e Braga Netto
Contra o ex-ministro do Gabinete de Segurança
Institucional Augusto
Heleno, uma das principais provas encontradas pela Polícia Federal foram
anotações de teor golpista em uma agenda apreendida em sua casa. O compilado
reunia medidas que poderiam ser adotadas pelo governo Bolsonaro, por exemplo,
para frear a Polícia Federal e o Supremo,
prevendo até a prisão de delegados que se dispusessem a cumprir ordens
judiciais consideradas ilegais pelo governo.
A Polícia Federal encontrou provas documentais e colheu
depoimentos confirmando que o ex-ministro da Defesa e candidato derrotado à
Vice-Presidência, Walter Braga Netto, tentou pressionar o ex-comandante do
Exército Freire Gomes a aderir ao golpe de Estado. Numa das mensagens, ele
chama o general de “cagão” por não ser golpista.
A PF também encontrou no celular de Braga Netto mensagens
trocadas em dezembro de 2022 entre ele e Ailton Gonçalves Moraes Barros, amigo
de Bolsonaro, com orientações para que o ex-comandante da Aeronáutica Baptista
Júnior fosse atacado, pela mesma razão.
Diante da resistência de Baptista Júnior em aderir aos
planos golpistas, Braga Netto o classificou como “traidor da pátria”, enquanto
fazia elogios a Garnier, comandante da Marinha, em concordância com o golpismo
bolsonarista.
Todos os seis negam que tenham participado de qualquer plano
ilegal ou golpista.