folhapress -24/09/2024 14:04
As forças de Israel promoveram nesta terça (24) o segundo
dia de grandes ataques militares contra posições do Hezbollah no Líbano. O
grupo fundamentalista aliado do Hamas na guerra contra o Estado judeu, por sua
vez, lançou dezenas de foguetes contra o norte do rival.
Segundo as IDF (Forças de Defesa de Israel, na sigla em
inglês), em 24 horas foram atingidos 1.500 alvos do Hezbollah, com o emprego de
2.000 bombas e mísseis lançados por aviões. Em Beirute, pela terceira vez desde
a escalada da crise, um esconderijo de lideranças do grupo foi alvejado.
A ação ocorreu em um subúrbio no sul da capital libanesa.
Segundo informações extraoficiais, morreu no ataque oo chefe da unidade de
mísseis do Hezbollah, Ibrahim Qubaisi. Com estimados 160 mil unidades desses
armamentos, o grupo é a mais poderosa força não estatal do mundo no campo.
O governo libanês, que coabita com o poderio militar
superior do Hezbollah, que é também um partido político, diz que ao menos 6
pessoas morreram e 15, ficaram feridas no bombardeio.
"Nós temos três tarefas no Líbano. Afastar terroristas
da fronteira, degradar a capacidade de lançamento de armas do Hezbollah e acaba
com sua infraestrutura na região, permitindo que os 60 mil civis israelenses
que tiveram de sair de casa voltem", disse à Folha o porta-voz militar
Rafael Rozenshein.
Na segunda, Tel Aviv havia lançado o mais mortífero ataque
em solo libanês desde a guerra civil do país árabe (1975-1990), matando 558
pessoas segundo as autoridades de saúde do vizinho. Ainda não há um balanço
amplo sobre o que ocorreu nesta terça.
A troca de fogo começou cedo. Por volta das 3h (21h de
segunda em Brasília), sirenes soaram em parte da região norte de Israel. Até as
15h (9h em Brasília), elas soaram mais 18 vezes. Ao menos 20 foguetes foram
abatidos na primeira leva, segundo a Força Aérea israelense, e 60 no começo da
tarde.
Segundo os fundamentalistas, uma base aérea israelense foi
atingida por um de seus mais novos foguetes, o Fadi-3, que tem alcance superior
aos 100 km de sua versão imediatamente anterior. As IDF não comentaram.
A rotina de terror segue dos dois lados da fronteira. O
êxodo de civis do sul libanês, alertados a deixar casas próximas de posições do
Hezbollah por meio de telefonemas automáticos e transmissões pirata de rádio
por Israel, segue.
No Estado judeu, moradores da região de Haifa relataram que
houve danos na queda de destroços de drones e foguetes, por sua vez.
Israel e o Hezbollah, grupo que é bancado pelo Irã assim
como o Hamas, vivem em atrito desde o conflito de oito anos atrás. Mas o ataque
terrorista do Hamas no 7 de outubro de 2023 levou os libaneses a escalar suas
ações, lançando mísseis contra o Estado judeu já no dia seguinte à ação.
Ao longo dos meses, houve uma troca de fogo com momentos de
maior tensão, como quando Israel matou o número 2 do grupo em Beirute, mas de
forma geral houve comedimento: guerra aberta não interessa a ninguém, a começar
os iranianos, em posição frágil.
Com a guerra em Gaza longe de acabar, mas também sem
momentos tão agudos, o foco do governo de Binyamin Netanyahu foi ao norte.
Críticos dizem que ele fez isso para manter o ritmo de conflito e afastar o
risco de enfrentar uma eleição que poderia perder.
O governo nega, dizendo que incluiu como prioridade militar
o retorno dos moradores, que alguns estimam em até 80 mil, à região norte do
país porque a situação é insustentável. Nesta terça, o presidente israelense,
Isaac Herzog, disse que Tel Aviv não tem interesse territorial no Líbano -país
cujo sul já ocupou nos anos 1980.
Seja como for, Israel começou a pressionar o Hezbollah já na
semana passada, com a temporada de pagers e walkie-talkies explosivos nas mãos
de seus integrantes, seguido por um ataque que dizimou a cúpula a Força Radwan,
unidade encarregada de infiltrações em Israel.
Isso foi seguido por um aumento da atividade do grupo
fundamentalista e, na segunda e na terça, os golpes mais duros da aviação
israelense.
A tensão leva ao temor óbvio de um conflito que se espalhe e
envolva mais intensamente outros prepostos de Teerã na região, como a Síria ou
os houthis do Iêmen, e a própria teocracia.
O tema dominou as falas da abertura da Assembleia-Geral da
ONU nesta terça, com tanto o secretário-geral da entidade quanto o presidente
iraniano dizendo que "o Líbano não pode virar uma outra Gaza".