metropoles -12/07/2025 19:45
A estudante trans Carmen de Oliveira Alves teria sido morta pelo namorado Marcos Yuri Amorim porque ele não queria assumir a relação, afirmou o delegado Miguel Rocha, responsável pela investigação do caso que ocorreu em Ilha Solteira, no interior de São Paulo.
Carmen
está desaparecida desde o dia 12 de junho, após fazer uma prova do curso de
zootecnia e ser vista pela última vez na saída do Campus Ilha Solteira da
Universidade Estadual Paulista (Unesp).
A suspeita é que ela tenha sido vítima de feminicídio. O corpo ainda não foi
encontrado.
Na quinta-feira (10/7), dois
suspeitos foram presos temporariamente: Marcos, namorado da vítima, e o
policial militar ambiental da reserva, Roberto Carlos Oliveira. Segundo Rocha,
os homens estavam envolvidos em uma relação amorosa e teriam trabalhado em
conjunto para matar a estudante e ocultar o corpo.
A investigação mostrou que Carmen montou um dossiê contra
Marcos Yuri com provas de crimes cometidos por ele na região, como roubo e
furto. A estudante teria usado o documento para pressionar o namorado.
“Acredito que ela estaria pressionando ele para assumir o
relacionamento, coisa que ele não aceitava. Segundo a análise do notebook, a
análise das testemunhas que foram ouvidas, a gente determinou que havia uma
recusa do Yuri de assumir o relacionamento e isso acabou motivando o crime”,
disse o delegado.
Polícia segue buscas pelo corpo
Durante as investigações, o sigilo telefônico de Carmen
foi quebrado e a polícia percebeu que ela nunca saiu de Ilha Solteira.
Antes de sumir, o rastreamento do celular da estudante
apontou que o último lugar em que ela esteve foi na casa do namorado, em
um assentamento da cidade, chamado Estrela da Ilha.
Nessa sexta (11/7), a polícia esteve no local
cumprindo mandados de busca para localizar o corpo de Carmen.
A Guarda Municipal e o Canil da Polícia Militar
foram acionados para auxiliar nas buscas.
Um drone também está sendo usado para varredura, já
que se trata de uma área extensa.
Também foram realizadas perícias nas casas e
veículos dos suspeitos. O objetivo é localizar possíveis vestígios de sangue
que possam explicar o que aconteceu com Carmen.
A polícia trabalha com a suspeita de que o corpo de
Carmen possa ter sido lançado em um rio da cidade. Por isso, a Marinha do
Brasil foi acionada e, se necessário, mergulhadores também serão chamados.
“Mas isso seria numa outra etapa. Por enquanto, seriam só
buscas visuais nos rios, nas margens aqui nas proximidades do local aqui”,
afirmou o delegado.
Família e universidade lamentam o caso
Em nota publicada em um perfil no Instagram que divulga
informações sobre o desaparecimento de Carmen, a família da estudante
demonstrou a angústia sentida pelo caso. “Desde o início dessa jornada, há
praticamente um mês atrás, nossas vidas foram brutalmente abaladas e, a partir
de então, todos os dias nós buscamos, procuramos, manifestamos por respostas e
sofremos com a angústia dos dias irem passando e as respostas não aparecerem”,
diz o texto.
Conforme a família, a universitária é “uma mulher amada,
estudiosa, trabalhadora e muito querida”. Os familiares também a descrevem como
uma pessoa alegre, divertida e com muitos sonhos e metas para realizar. “Uma
menina que sempre foi sensível, e que sempre utilizou a arte como forma de
expressão”, afirma a publicação da noite dessa sexta.
Os parentes disseram ainda que a notícia de prisão dos
suspeitos “foi como um presságio de uma batalha longa que teremos pela frente”.
Eles destacaram a sensibilidade do caso por envolver uma mulher trans e negra.
“Sabemos que a Justiça brasileira caminha de forma muito lenta principalmente
quando não se tem a materialidade do fato e por se tratar de uma mulher trans e
preta, onde infelizmente as leis de defesa das pessoas da comunidade LGBTQIAP+
são falhas”.
“Queremos reiterar que o nosso luto só será vivido quando
obtermos a resposta da pergunta que que gritamos a um mês: Onde está a
Carmen?”, finalizou a nota.
Também em publicação nas redes sociais, a Unesp, onde Carmen
estudava zootecnia, lamentou a suspeita de feminicídio e prestou solidariedade
à família da vítima. “A prisão temporária de dois suspeitos e a hipótese de
feminicídio reforçam a gravidade da situação e mantêm toda a comunidade
universitária na expectativa de que os fatos sejam plenamente esclarecidos.
Reiteramos nosso repúdio a toda forma de violência e nosso respeito à
diversidade. A Universidade reafirma seu compromisso com a defesa da vida e da
dignidade humana”, diz a nota.
A universidade não se manifestou sobre uma possível expulsão
de Marcos Yuri, que também é aluno da instituição.