metropoles -22/08/2024 17:23
Muitas pessoas continuam sendo vítimas de estelionatos e
golpes. Os criminosos se aproveitam da vulnerabilidade das vítimas para obter
vantagens financeiras indevidas. Por que as vítimas caem? Porque não vivem
pensando em maldades, desconfiando de tudo. Agem de boa-fé, querendo ajudar o
próximo ou em ser solidárias.
Duas vítimas que caíram no golpe do “bilhete premiado”
declararam em audiência, quando eu atuava como juiz criminal, que foram
interpeladas na rua por um senhor aparentemente muito humilde, que lhes pedia
ajuda para receber um “bilhete premiado” na CEF, sob a promessa de boa
recompensa. Segundo elas, o teatro do golpista foi perfeito: uma perdeu R$ 70
mil e a outra, 15 mil euros. Elas disseram que demoraram a acreditar que tinham
sido vítimas do golpe do “bilhete premiado”, tamanha era a lábia do
estelionatário.
Em outro caso, envolvendo o “golpe da bolinha”, em que a
vítima faz uma aposta para adivinhar onde a bolinha está escondida, em três
espaços, perguntei ao réu estelionatário como as vítimas nunca descobriam onde
a bolinha estava escondida. Ele disse literalmente: “O mundo está cheio de
otários, doutor!”
É impressionante como tem aumentado o número de golpes
praticados por telefone. A todo momento as pessoas recebem mensagens falsas. No
golpe do falso empréstimo, as vítimas são convencidas a fornecer informações
pessoais e a realizar depósitos antecipados para a liberação de crédito, que
nunca ocorre.
No golpe do WhatsApp, os golpistas clonam números de
telefone e utilizam perfis falsos para solicitar dinheiro aos contatos da
vítima.
No golpe da falsa Central de Atendimento, os criminosos se
fazem passar por funcionários de centrais de atendimento bancárias. Eles pedem
dados pessoais das vítimas e subtraem dinheiro de suas contas. No golpe do Pix,
criminosos oferecem descontos ou promoções falsas para induzir as vítimas a
realizarem transferências via Pix.
No golpe do mecânico ou do eletricista, o criminoso telefona
pedindo dinheiro para as pessoas, dizendo ser sobrinho, primo ou outro parente
que está chegando de viagem a Brasília e precisa de dinheiro para pagar o
mecânico e o eletricista na beira da estrada. Normalmente o estelionatário fala
ao telefone: “Tio, tia, estou chegando, vou ficar hospedado na sua casa, mas
preciso de dinheiro emprestado, de um Pix ou transferência bancária, para pagar
o conserto do carro. O mecânico e o eletricista não aceitam cartão de crédito.
Não consigo pagar pelo celular, porque está com sinal fraco na beira da
estrada.” Acreditando que o sobrinho ou o parente realmente está chegando de
viagem, as vítimas transferem dinheiro para o estelionatário.
As mulheres também devem tomar cuidado com os
estelionatários sentimentais, dos falsos pretendentes que se aproximam para dar
golpe e subtrair seus pertences. Uma das vítimas, com curso superior, excelente
emprego e bem instruída, declarou em audiência: “Ele parecia ser a melhor
pessoa do mundo. Mas em três meses de relacionamento, subtraiu todo o dinheiro
que eu possuía em aplicações e ainda me convenceu a fazer empréstimos que
ultrapassam hoje a R$ 400 mil, e depois sumiu. Acabou com a minha vida!”
O golpe do “falso sequestro” de familiar também já extorquiu
dinheiro de muitas vítimas. No momento, estão usando o nome do INSS, pedindo
dados pessoais das vítimas para atualização de cadastro. Na verdade, querem
esses dados para subtrair-lhes dinheiro e usar seus cartões de crédito.
O golpe da “compra com o cartão de crédito” também tem
aumentado. O estelionatário telefona para a vítima pedindo para ela confirmar
se fez determinada compra com o seu cartão. A vítima diz que não fez nenhuma
compra.
O criminoso pede para ela atualizar seus dados pessoais e
senha, subtrai seu dinheiro e ainda usa o cartão da vítima para aplicar outros
golpes.
A prevenção é a chave para combater esses crimes. Confirme
sempre a identidade de quem solicita informações pessoais ou financeiras ou de
quem se aproxima. Use canais oficiais para entrar em contato com instituições.
Cuidado com links e mensagens. Não compartilhe senhas ou códigos de segurança
por telefone ou mensagens.
Mantenha sempre a calma e verifique a veracidade das
informações antes de agir em situações de emergência. Faça sempre boletim de
ocorrência policial, solicitando providências. Não é preciso passar o dia
pensando em maldades, mas desconfie sempre de situações anormais.
Roberval Belinati é primeiro vice-presidente do TJDFT,
ex-presidente do TRE-DF, ex-presidente da 2ª Turma Criminal do TJDFT e
professor universitário