metropoles -25/10/2024 11:52
Cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS) foram afastados, por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ), após a Polícia Federal (PF) descobrir um suposto esquema de venda de sentenças judiciais. Como resultado da investigação, foi deflagrada nesta quinta-feira (24/10) a Operação Ultima Ratio.
Os desembargadores são Sérgio Fernandes Martins, presidente
do TJMS, Vladimir Abreu da Silva, Alexandre Aguiar Bastos, Sideni Soncini
Pimentel e Marco José de Brito Rodrigues. Eles estão afastados por um prazo
inicial de 180 dias, deverão usar tornozeleira eletrônica e estão proibidos
de acessar as dependências de órgãos públicos e de se comunicar entre si.
A PF chegou ao esquema a partir de outras duas operações
deflagradas no passado para investigar casos de corrupção, mas que obtiveram
elementos e materiais apreendidos que evidenciaram a suposta venda de sentenças por desembargadores do
estado. A relação entre os inquéritos e o afunilamento das diligências vêm
desde 2017, pelo menos.
Operações interligadas
Tudo começou com a deflagração da Operação Lama Asfáltica,
em 2017, que investigava organização criminosa suspeita de desviar recursos,
fraudar licitações e superfaturar obras em Mato Grosso do Sul. O prejuízo causado teria sido em torno
de R$ 235 milhões. A investigação feita, à época, interceptou telefonemas cujo
conteúdo teve de ser encaminhado ao STJ.
O motivo do encaminhamento foi devido às ligações sugerirem
suposta participação de conselheiros do Tribunal de Contas de Mato Grosso do
Sul (TCE-MS) na organização criminosa. Após analisar as interceptações, o STJ
autorizou a instauração do inquérito para investigar os conselheiros, e isso
resultou na Operação Mineração de Ouro, deflagrada em junho de 2021.
Ao todo, 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos
em Campo Grande (MS), Sidrolândia (MS) e Brasília (DF), com o
intuito de esclarecer a suspeita de venda de decisões, enriquecimento ilícito,
lavagem de dinheiro e contratação de funcionários fantasmas. E, mais uma vez, a
PF obteve elementos para desdobrar a investigação em outra direção.
Os materiais apreendidos em 2021 sugeriam a venda de
sentenças não só por parte de conselheiros do TCE, mas também de
desembargadores do TJMS. A partir disso, a PF deu início à investigação que desencadeou
na Operação Ultima Ratio, deflagrada nesta quinta e cujo nome refere-se ao
termo do direito segundo o qual a Justiça é o último recurso do poder público
para parar a criminalidade.
Suspeitas contra os desembargadores
Segundo a PF, 44 mandados de busca e apreensão foram cumpridos,
nesta quinta-feira, contra os cinco desembargadores, servidores públicos, nove
advogados e empresários suspeitos de terem se beneficiado do esquema. Além da
venda de sentenças, eles são investigados por lavagem de dinheiro, organização
criminosa, extorsão e falsificação de escrituras públicas.
Foram afastados, ainda, dos respectivos postos o conselheiro
do TCE-MS, Osmar Domingues Jeronymo, e seu sobrinho, que é servidor do TJMS,
Danillo Moyra Jeronymo. A PF investiga, também, um juiz de primeira instância,
outros dois desembargadores aposentados e um procurador de Justiça.
Segundo a Receita Federal, que auxilia nas diligências, “há
indícios de envolvimento de advogados e filhos de autoridades. Foram
identificadas, por exemplo, situações em que o magistrado responsável pela
decisão já havia sido sócio do advogado da parte interessada”.
Conforme os autos, lobistas, advogados e servidores de
influência se reuniram com desembargadores para obter decisões favoráveis,
prejudicando as demais partes do processo. Em alguns casos, foram proferidas
decisões em causas envolvendo propriedades rurais milionárias.