agencia brasil -26/10/2024 17:25
Após mais de seis anos do assassinato da vereadora Marielle
Franco e do motorista Anderson Gomes, em 14 de março de 2018, os ex-policiais
militares (PMs) acusados do crime, Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, irão a júri
popular na próxima quarta-feira (30).
A data foi definida pelo juiz Gustavo Kalil, titular do
4º Tribunal do Júri, durante reunião especial no último dia 12, no Fórum
Central do Rio, com representantes do Ministério Público, os assistentes
de acusação e a defesa dos réus.
Kalil, que presidirá o julgamento, solicitou que compareçam
em plenário apenas as pessoas que efetivamente participarão do júri, para evitar
aglomeração e tumulto. Defesa e acusação terão prazo de 10 dias para as provas
orais finais.
Marielle Franco, vereadora pelo PSOL, foi assassinada
no bairro do Estácio, no Rio de Janeiro, na noite de 14 de março de 2018. Ela
voltava de um encontro de mulheres negras na Lapa, quando seu carro foi
alvejado com vários disparos. O motorista Anderson Gomes também foi
atingido e morreu.
Uma assessora da parlamentar foi ferida por estilhaços.
O crime ganhou atenção internacional e foi considerado um ataque à
democracia.
O crime deu início a uma complexa investigação, envolvendo
várias instâncias policiais. Depois de muitas reviravoltas, chegou-se à prisão
dos ex-PMs Ronnie Lessa e Elcio Queiroz. Neste ano, foram presos os irmãos
Chiquinho e Domingos Brazão, apontados como mandantes dos assassinatos, além do
ex-chefe da Polícia Civil Rivaldo Barbosa. O processo que envolve os supostos
mandantes tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).
Busca por justiça
O Instituto Marielle Franco considera o julgamento um
momento decisivo. “Foram 78 meses e mais de 2 mil dias em que nos juntamos
desde que nos tiraram Marielle e Anderson. Marchamos, gritamos, nos
emocionamos, amarramos lenços e levantamos placas em busca por justiça. A nossa
força nos trouxe até aqui e neste mês a justiça, enfim, vai começar a ser
feita”, diz em nota.
“No dia 30 de outubro, vai ter o julgamento dos acusados de
assassinarem Marielle e Anderson, por meio do júri popular. Esse é um momento
decisivo para todo mundo que luta por justiça e para quem acredita que o Brasil
precisa ser um país sério, que não permite que mulheres, pessoas negras,
LGBTQIAPN+ e faveladas sejam brutalmente assassinadas”, ressalta.
A organização não governamental (ONG) Anistia Internacional,
que acompanha o caso, considera julgamento “um passo importante em uma busca
por justiça se iniciou há mais seis anos. Porém, só haverá justiça, de fato,
quando autoridades brasileiras garantirem que todos os responsáveis pelo crime,
inclusive pelo planejamento, bem como todos os responsáveis por eventuais
desvios e obstruções das investigações, sejam também levados à justiça em
julgamentos justos, que atendam aos padrões internacionais, e responsabilizados
por seus atos”, diz a ONG em nota.
De acordo com a Anistia Internacional, o Brasil continua
sendo um dos lugares mais perigosos para defensores dos direitos humanos.
Segundo o relatório da Global Witness, em 2023, o país ocupava a segunda
posição no ranking daqueles que mais matam ativistas e
ambientalistas, com 25 mortes. Entre 2012 e 2023, 401 defensores foram
assassinados no país.
“É dever do Estado brasileiro garantir justiça e reparação
para as famílias e medidas de não repetição para que situações como esta não
voltem a acontecer”, acrescenta a ONG.
Mobilização
Neste domingo (27), a família de Marielle Franco manda
celebrar missa no Cristo Redentor. A cerimônia é organizada pela mãe, o pai e a
filha de Marielle, respectivamente, Marinete Silva, Antonio Francisco e Luyara
Franco.
No dia 30 de outubro, o Instituto Marielle Franco, a Anistia
Internacional e outras organizações parceiras que compõem o Comitê Justiça por
Marielle e Anderson realizam, ao amanhecer, ato em memória da vereadora e do
motorista, às 7h, em frente à sede do Tribunal de Justiça do Rio. Ativistas se
reunirão com faixa, cartazes e lenços, cobrando justiça e reparação. A família
de Marielle também participará do ato.