hernandes dias lopes -10/11/2024 13:39
A falsa religião é engendrada no laboratório do enganoso
coração humano. Como declarou João Calvino, nas Institutas da Religião Crista,
o coração do homem é uma fábrica de ídolos. Um exemplo clássico dessa triste
realidade é o rei Jeroboão. Ele foi escolhido por Deus para ser o agente da
disciplina divina ao rei Salomão. Este, a despeito de sua notória sabedoria e
afamada riqueza; inobstante ter construído o templo de Jerusalém e liderado o
povo na adoração a Deus, deixou o seu coração se corromper e acabou erigindo
capelas aos deuses de suas mulheres estrangeiras e ele mesmo se prostrou diante
de divindades pagãs.
O profeta Aías encontra o jovem Jeroboão, servo de Salomão, e revela a ele que
Deus lhe daria dez das doze tribos de Israel. Exortou-o a ser fiel a Deus e à
sua aliança, com garantia de que Deus lhe daria uma casa segura, uma dinastia
sucessória bem-sucedida. Ao saber dessa profecia, Salomão tentou matar
Jeroboão, que precisou buscar asilo político, sob as asas de Sisaque, rei do
Egito. Ao tomar conhecimento da morte de Salomão e coroação de seu filho
Roboão, Jeroboão retorna a Israel e lidera as dez tribos do norte, com
reivindicações ao novo monarca. Queriam alívio dos pesados tributos e a
suspensão de trabalhos forçados. Prometeram em contrapartida que se submeteriam
ao rei. Roboão, entrementes, seguindo a inclinação de seu coração soberbo, não
apenas deixou de atender os rogos do povo, mas prometeu ser ainda mais severo
de que seu pai. Essa foi a gota d’água para o rompimento das dez tribos do norte
com a dinastia davídica e a consequente coroação de Jeroboão como rei sobre
eles.
Jeroboão ao assumir o governo, com medo de seus súditos voltarem a Jerusalém para adorar e temendo pela sua própria sobrevivência, caso seu povo se voltasse para a dinastia davídica, cria em Israel uma nova religião, com uma nova divindade (bezerros de ouro), com novos templos, com novos locais de adoração (Betel e Dã), com novos sacerdotes, com nova liturgia e com novo calendário religioso. Essa inovação foi feita segundo o bel-prazer do rei. Era a religião da conveniência, para garantir os interesses políticos do monarca. Essa falsa religião inventada por
Jeroboão foi a estrada escorregadia por onde todos os
demais reis do reino do norte caminharam e caíram. Todos eles andaram nos
caminhos de Jeroboão. Todos se tornaram idólatras e jamais se voltaram para o
Senhor. Essa falsa religião idólatra e sincrética foi a causa principal do
declínio vertiginoso desse reino e a razão determinante de sua queda em 722
a.C., nas mãos do império assírio. Jeroboão tornou-se o patrono dos políticos
que usam a religião para se beneficiarem e alcançar seus interesses
inconfessos.
A falsa religião é, ainda hoje, uma ameaça aos governantes e aos governados; é
a causa da decadência dos povos e a da manifestação da justa ira de Deus.
Falsos deuses, falsos templos, falsos cultos, falsos sacerdotes, falsas
liturgias, falsos calendários religiosos produzem falsos adoradores. A falsa
religião é uma religião humanista, inventada pelo homem e não revelada por
Deus; procede do coração humano e não das Escrituras Sagradas; produz idolatria
e depravação moral e não santidade; provoca a ira de Deus e não o seu agrado. A
falsa religião pode ser popular, mas jamais verdadeira; pode ser funcional, mas
jamais agradável a Deus; pode reunir multidões, mas jamais oferecerá
esperança.
A verdadeira religião não é criada pelo homem, mas revelada por Deus. O
verdadeiro Deus não é feito pelas mãos humanas, mas é o criador, provedor e
redentor. O verdadeiro culto não é mediado por imagens fabricadas pelo engenho
humano, mas em espírito e em verdade. Os verdadeiros sacerdotes não são
constituídos por vontade humana, mas separados por Deus para essa sacrossanta
vocação. A liturgia do culto não é realizada segundo a criatividade do homem,
mas conforme as prescrições da palavra de Deus. O calendário religioso não é
alterado segundo a conveniência humana, mas determinado pelo próprio Deus. A
falsa religião é uma estupidez. Dela devemos fugir para adorar ao único Deus
vivo e verdadeiro, digno de toda adoração e louvor.