hernandes dias lopes -03/11/2024 12:34
A falsa religião é engendrada no laboratório do enganoso coração humano. Como declarou João Calvino, nas Institutas da Religião Cristã, o coração do homem é uma fábrica de ídolos. Um exemplo clássico dessa triste realidade é o rei Jeroboão. Ele foi escolhido por Deus para ser o agente da disciplina divina ao rei Salomão.
Este, a despeito de sua notória sabedoria e afamada riqueza;
inobstante ter construído o templo de Jerusalém e liderado o povo na adoração a
Deus, deixou o seu coração se corromper e acabou erigindo capelas aos deuses de
suas mulheres estrangeiras e ele mesmo se prostrou diante de divindades
pagãs.
O profeta Aías encontra o jovem Jeroboão, servo de Salomão, e revela a ele que
Deus lhe daria dez das doze tribos de Israel. Exortou-o a ser fiel a Deus e à
sua aliança, com garantia de que Deus lhe daria uma casa segura, uma dinastia
sucessória bem-sucedida.
Ao saber dessa profecia, Salomão tentou matar Jeroboão, que
precisou buscar asilo político, sob as asas de Sisaque, rei do Egito. Ao tomar conhecimento
da morte de Salomão e coroação de seu filho Roboão, Jeroboão retorna a Israel e
lidera as dez tribos do norte, com reivindicações ao novo monarca.
Queriam alívio dos pesados tributos e a suspensão de
trabalhos forçados. Prometeram em contrapartida que se submeteriam ao rei.
Roboão, entrementes, seguindo a inclinação de seu coração soberbo, não apenas
deixou de atender os rogos do povo, mas prometeu ser ainda mais severo de que
seu pai.
Essa foi a gota d’água para o rompimento das dez tribos do norte
com a dinastia davídica e a consequente coroação de Jeroboão como rei sobre
eles.
Jeroboão ao assumir o governo, com medo de seus súditos voltarem a Jerusalém
para adorar e temendo pela sua própria sobrevivência, caso seu povo se voltasse
para a dinastia davídica, cria em Israel uma nova religião, com uma nova
divindade (bezerros de ouro), com novos templos, com novos locais de adoração
(Betel e Dã), com novos sacerdotes, com nova liturgia e com novo calendário
religioso.
Essa inovação foi feita segundo o bel-prazer do rei. Era a
religião da conveniência, para garantir os interesses políticos do monarca.
Essa falsa religião inventada por Jeroboão foi a estrada escorregadia por onde
todos os demais reis do reino do norte caminharam e caíram.
Todos eles andaram nos caminhos de Jeroboão. Todos se
tornaram idólatras e jamais se voltaram para o Senhor. Essa falsa religião
idólatra e sincrética foi a causa principal do declínio vertiginoso desse reino
e a razão determinante de sua queda em 722 a.C., nas mãos do império assírio.
Jeroboão tornou-se o patrono dos políticos que usam a religião para se
beneficiarem e alcançar seus interesses inconfessos.
A falsa religião é, ainda hoje, uma ameaça aos governantes e aos governados; é
a causa da decadência dos povos e a da manifestação da justa ira de Deus.
Falsos deuses, falsos templos, falsos cultos, falsos sacerdotes, falsas
liturgias, falsos calendários religiosos produzem falsos adoradores.
A falsa religião é uma religião humanista, inventada pelo
homem e não revelada por Deus; procede do coração humano e não das Escrituras
Sagradas; produz idolatria e depravação moral e não santidade; provoca a ira de
Deus e não o seu agrado.
A falsa religião pode ser popular, mas jamais verdadeira;
pode ser funcional, mas jamais agradável a Deus; pode reunir multidões, mas
jamais oferecerá esperança.
A verdadeira religião não é criada pelo homem, mas revelada
por Deus. O verdadeiro Deus não é feito pelas mãos humanas, mas é o criador,
provedor e redentor. O verdadeiro culto não é mediado por imagens fabricadas
pelo engenho humano, mas em espírito e em verdade.
Os verdadeiros sacerdotes não são constituídos por vontade
humana, mas separados por Deus para essa sacrossanta vocação. A liturgia do
culto não é realizada segundo a criatividade do homem, mas conforme as
prescrições da palavra de Deus.
O calendário religioso não é alterado segundo a conveniência
humana, mas determinado pelo próprio Deus. A falsa religião é uma estupidez.
Dela devemos fugir para adorar ao único Deus vivo e verdadeiro, digno de toda
adoração e louvor.