agencia brasil -27/11/2024 16:07
Mais da metade dos pacientes diagnosticados com alguns tipos
de câncer tabaco-relacionados no Brasil não sobrevivem à doença. Em alguns
casos, a letalidade chega a mais de 80%, como o câncer de esôfago. A lista
inclui ainda cânceres de cavidade oral, estômago, cólon e reto, laringe, colo
do útero e bexiga.
Os dados fazem parte do estudo Impactos do tabagismo além do
câncer de pulmão, divulgado nesta quarta-feira (27), Dia Nacional de Combate ao
Câncer, pela Fundação do Câncer. A publicação analisou a incidência,
mortalidade e letalidade de sete tipos de câncer tabaco-relacionados e reforça
que o cigarro se mantém como um dos maiores causadores de câncer e mortes
evitáveis no país.
Em entrevista à Agência Brasil, o consultor médico e
coordenador do estudo, Alfredo Scaff, destacou que o objetivo é chamar a
atenção da população, mostrando que o tabagismo segue como principal
responsável pelo câncer de pulmão, mas também é responsável por outros tipos de
cânceres, de grande importância.
“Fomos atrás de saber quais são esses cânceres e qual é essa
importância. Estudamos sete tipos de câncer que apresentaram fortíssima
correlação com o tabagismo e com alta mortalidade e letalidade”, disse, ao
explicar que a mortalidade se refere à quantidade de óbitos dentro de uma
população, enquanto a letalidade abarca a força com que uma determinada doença
leva os pacientes à morte.
O câncer, atualmente, representa a segunda maior causa de
morte no Brasil, somando 239 mil óbitos em 2022 e 704 mil novos casos estimados
para 2024, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Os cânceres
tabaco-relacionados analisados no estudo foram responsáveis por 26,5% das
mortes por câncer em 2022 e representam 17,2% dos novos diagnósticos estimados
para este ano.
Incidência, mortalidade e letalidade
Para chegar à letalidade, os pesquisadores fizeram o cálculo
com base nas taxas ajustadas, tanto de incidência quanto de mortalidade, dos
Registros de Câncer de Base Populacional (RCBP) e do Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM).
Para o câncer de cavidade oral, a letalidade é 43% nos
homens e 28% nas mulheres, com destaque para a Região Nordeste, que apresenta
maior letalidade entre os homens (52%). Já entre as mulheres, o Norte alcançou
a maior letalidade, atingindo 34%.
Para o câncer de esôfago, foi observada alta letalidade
estimada em ambos os sexos – acima de 80% para a maioria das regiões
brasileiras, com destaque para o Sudeste, onde o índice, entre homens, é 98%.
Para o câncer de estômago, a letalidade é 71%, sendo que a
Região Norte apresentou o maior índice (83%). Já no caso do câncer de cólon e
reto, a letalidade estimada entre homens foi 48% e, entre as mulheres, 45%.
Já a letalidade estimada para o câncer de laringe no Brasil,
entre homens, foi 65%. O estudo aponta alta relevância em relação à letalidade
da doença entre o sexo feminino, variando de 48% a 88% em todas as regiões
brasileiras. Os valores das taxas de incidência mostraram que a ocorrência
desse tipo de câncer é cinco vezes maior em homens do que em mulheres.
Em relação ao câncer do colo do útero, a letalidade da
doença é 42%. O estudo destaca a contribuição do tabagismo para taxas de
incidência e de mortalidade na Região Norte, sendo que a doença tem prevenção
primária disponível também por meio da vacinação contra o HPV, além de um
programa de detecção precoce.
Para o câncer de bexiga, a letalidade estimada em homens e
mulheres foi 44% e 43%, respectivamente. A letalidade, segundo Scaff, é um
indicador que impacta na mortalidade da doença, além de um reflexo da
agressividade dessas doenças e da dificuldade no diagnóstico precoce e no
tratamento.
Alerta
“Todos esses cânceres têm uma forte atribuição ao tabagismo.
A gente não pode dizer que o tabagismo é a única causa de nenhum deles, mas é uma
causa muito, muito forte para o desenvolvimento deles. De modo geral, todos os
cânceres que acometem células epiteliais, que recobrem superfícies, são
afetadas pelos compostos do tabaco. A nicotina e milhares de outras substâncias
agridem o desenvolvimento dessas células”, alertou Scaff.
O pesquisador destacou que as substâncias contidas em
produtos derivados do tabaco passam, num primeiro momento, pela boca, pela
orofaringe e pela laringe, sendo que uma parte deglutida vai para o esôfago – e
segue em diante. “Existe uma correlação forte e vários estudos que demonstram a
associação do tabagismo, por exemplo, com o câncer do colo do útero,” informou.
“As substâncias do cigarro agem sobre o epitélio – e a
vagina é um órgão com epitélio que se renova com muita frequência. Essas
substâncias podem levar à uma diminuição da imunidade local, ocasionando
abertura maior para infecções como pelo HPV, que se manifesta de forma muito
mais intensa nesses casos, levando ao desenvolvimento do câncer de colo do
útero,” explicou Scaff.
“Há toda uma cadeia de eventos que pode estar
potencializando o desenvolvimento desse câncer. E o tabagismo participa de
forma muito ativa dessa cadeia”, concluiu.