cnn -16/09/2024 23:09
O Zimbábue autorizou um massacre de elefantes para alimentar
cidadãos famintos na pior seca no país em décadas.
Com quase metade da população do país enfrentando o risco de
fome aguda, “estamos mirando em abater 200 elefantes”, disse Tinashe Farawo,
porta-voz da Autoridade de Parques e Vida Selvagem do Zimbábue, à CNN nesta
segunda-feira (16).
A medida segue uma decisão na Namíbia de abater elefantes e outros
animais selvagens para aliviar a insegurança alimentar alimentada por
uma seca prolongada. Os abates atraíram críticas de ativistas dos direitos dos
animais e conservacionistas.
O Zimbábue abriga mais de 84 mil elefantes, disse Farawo,
cerca do dobro de sua “capacidade de 45 mil”, acrescentou.
A população de elefantes do Zimbábue é a segunda maior
do mundo, superada apenas pela de Botsuana.
A ministra do Meio Ambiente Sithembiso Nyoni disse aos
parlamentares na semana passada que “o Zimbábue tem mais elefantes do que
precisamos e mais elefantes do que nossas florestas podem acomodar”.
Ela acrescentou que a superpopulação de elefantes “causa
falta de recursos” para seu sustento, o que alimenta o conflito entre humanos e
animais selvagens no país.
“Estamos discutindo com a Zim Parks (Autoridade de Parques e
Vida Selvagem do Zimbábue) e algumas comunidades para fazer como a Namíbia fez
para que possamos contar os elefantes, mobilizar as mulheres para talvez secar
a carne e embalá-la para garantir que chegue a algumas comunidades que precisam
da proteína”, disse Nyoni.
“Quando há uma superpopulação de animais selvagens em um
parque específico, eles então procuram sair do parque para procurar outros
recursos, como água ou vegetação. Quando isso acontece, eles entram em contato
com os humanos e os conflitos começam”, acrescentou.
Na Namíbia, 700 animais selvagens, incluindo elefantes,
foram aprovados para abate no mês passado e para que sua carne fosse
distribuída a pessoas que enfrentam insegurança alimentar.
Mais de 150 animais já foram mortos, disse o Ministério do
Meio Ambiente, Silvicultura e Turismo da Namíbia, com mais de 125 mil libras de
carne divididas.
Zimbábue e Namíbia são apenas dois dos muitos países no sul
da África sofrendo uma seca severa causada pelo El Niño — um padrão climático
natural que resultou em pouca chuva na região desde o início do ano. Os países
também são vulneráveis a secas agravadas pelas mudanças climáticas.
Farawo, o porta-voz dos parques, disse à CNN que o
abate começará assim que a autoridade concluir a papelada necessária.
“Estamos fazendo a papelada… para que possamos começar o
mais rápido possível”, ele disse, acrescentando que o abate planejado teria
como alvo áreas com uma grande população de elefantes.
Os abates de elefantes propostos no Zimbábue e na Namíbia
foram fortemente criticados.
“O abate de elefantes deve ser interrompido”, Farai Maguwu,
que lidera o grupo de advocacia sediado no Zimbábue, o Center for Natural
Resource Governance, disse em um post no X.
“Os elefantes têm o direito de existir”, ele escreveu,
acrescentando que “as gerações futuras têm o direito de ver os elefantes em seu
habitat natural”.
O biólogo conservacionista e consultor de recursos naturais
Keith Lindsay também expressou seu desconforto em usar a vida selvagem para
aliviar a insegurança alimentar, dizendo à CNN que é “muito provável
que isso leve a uma demanda mais regular e contínua por carne de caça, o que
seria insustentável”.
Farawo, no entanto, disse que a decisão do Zimbábue de
abater elefantes — seu primeiro abate desde 1988 — foi parte de medidas mais
amplas para reduzir o conflito entre elefantes e humanos, após uma série de
ataques de elefantes a humanos.
“Os animais estão causando muita devastação nas comunidades,
matando pessoas. Na semana passada, perdemos uma mulher na parte norte do país
que foi morta por um elefante. Na semana anterior, a mesma coisa aconteceu.
Então (o abate) também é uma forma de controle”, disse ele.
Pelo menos 31 pessoas morreram no Zimbábue este ano como
resultado do conflito entre humanos e animais selvagens, informou a mídia
local.