r7 -15/12/2023 07:59
O CEO da farmacêutica Moderna, Stéphane Bancel, disse à AFP
que a vacina experimental contra o melanoma, desenvolvida pela empresa, poderá estar
disponível em apenas dois anos, marcando um passo histórico contra a forma mais
grave de câncer de pele.
Estima-se que em 2020 tenham ocorrido 325 mil novos casos e
57 mil mortes pela doença em todo o mundo.
“Acreditamos que em alguns países o produto poderá ser
lançado com aprovação acelerada por volta de 2025”, disse ele em entrevista.
Ao contrário das vacinas convencionais, as chamadas vacinas
terapêuticas tratam uma doença em vez de preveni-la. Mas também atuam treinando
o sistema imunológico do corpo humano contra o agente invasor.
As vacinas terapêuticas representam hoje uma verdadeira
esperança na oncologia, uma “imunoterapia 2.0”, segundo Bancel.
O pipeline da Moderna recebeu um impulso na quinta-feira,
com os últimos resultados dos ensaios clínicos que mostram uma melhoria nas
chances de sobrevivência graças à vacina.
A tecnologia utilizada é o mRNA (RNA mensageiro), que se
mostrou muito eficaz contra formas graves da Covid-19.
Num estudo que envolveu 157 pessoas com melanoma avançado, a
vacina da Moderna, em combinação com o medicamento imunoterápico Keytruda, da
Merck, reduziu o risco de recorrência ou morte em 49% durante um período de
três anos, em comparação com a administração apenas de Keytruda.
Em 2022, a Moderna já havia anunciado resultados de
acompanhamento de dois anos que mostraram uma redução de 44% de risco de
recorrência ou morte.
"A diferença na sobrevivência está aumentando. Quanto
mais o tempo passa, mais você vê essa vantagem", disse Bancel, observando
que a taxa de efeitos colaterais não aumentou.
“Temos uma em cada duas pessoas, em comparação com o melhor
produto do mercado, sobrevivendo”, disse ele, “o que em oncologia é enorme”.
Procurando aprovação antecipada
Os ensaios clínicos existentes poderiam, assim, constituir a
base para a aprovação condicional da vacina, conhecida por agora como
mRNA-4157, disse Bancel.
Nesse cenário, um estudo maior de fase 3, que envolverá mil
pessoas e que a Moderna vai realizar em 2024, poderá confirmar a autorização
condicional anterior.
Tanto a FDA (Food and Drug Administration) dos EUA como a
Agência Europeia de Medicamentos colocaram a terapia num processo de revisão
acelerada.
O desenvolvimento da vacina começa com o sequenciamento do
genoma do tumor de cada paciente e a identificação de mutações específicas a
serem codificadas.
É, portanto, um exemplo de medicina “individualizada”
adaptada “apenas à pessoa tratada”, afirmou Bancel.
Para se preparar para levar a vacina ao mercado, a Moderna está
construindo uma nova fábrica em Massachusetts para ter um abastecimento
abundante, uma exigência da FDA.
A empresa também anunciou na segunda-feira o início de um
ensaio de fase 3 para uma vacina de mRNA contra o câncer de pulmão e está
estudando outros tipos de tumor.
A esperança de Bancel é combinar essas vacinas contra o
cancro com “biópsias líquidas”, testes inovadores que detectam sinais de
tumores por meio de análises do sangue e que começaram a ser disponibilizados
nos Estados Unidos.
Quanto mais rápido o câncer for detectado, melhor
funcionarão os novos medicamentos da Moderna, acredita Bancel.
Outras empresas, como a BioNTech, também estão trabalhando
em vacinas terapêuticas individualizadas contra o cancro.