terra -09/12/2023 12:09
Um novo estudo, publicado na revista científica Science,
afirma que caso não consigamos limitar o aquecimento global a 1,5 °C — como
combinado pelo acordo de Paris —, podemos chegar pontos críticos, ou pontos de
inflexão, quando as mudanças climáticas já não poderão ser revertidas, mesmo
que todas as emissões de carbono cessem.
No estado de aquecimento atual, já estamos à beira de 5
grandes pontos de inflexão, incluindo o derretimento dos gelos antárticos e da
Groenlândia. Os pontos de inflexão acontecem quando um sistema é tão perturbado
que a mudança se torna autossustentável, ou seja, uma geleira que continua
derretendo sem aquecimento adicional ou uma floresta que continua se tornando
uma savana.
Pontos de inflexão climáticos e seus perigos
Estimativas anteriores punham as temperaturas mínimas para
mudanças desse calibre entre 3 °C a 5 °C, mas observações climáticas, modelos
matemáticos e reconstruções de aquecimento do paleoclima antigo descobriram
números bem menores. O estudo sintetiza mais de 200 pesquisas na área para fazer
suas próprias estimativas acerca dos pontos de inflexão.
Foram identificados 9 elementos-chave para pontos de
inflexão climática no mundo todo, contribuintes ao funcionamento do planeta, e
7 pontos regionais que podem modificar consideravelmente a vida humana,
totalizando 16. Destes, 5 podem ser causados nas temperaturas de hoje: colapso
do gelo antártico e gronelandês, degelo generalizado do permafrost, colapso da
convecção do Mar do Labrador, e morte dos recifes de coral tropicais.
Passar dos pontos de inflexão da Groenlândia e Antártica já
significa um aumento de 10 metros no nível do mar, mesmo que leve centenas de
anos para atingir seu pico. Alguns recifes de coral já estão morrendo em
profusão por conta do branqueamento causado pela temperatura, mas a mudança
ainda é reversível. Passando do ponto de inflexão, os corais seriam devastados,
afetando 500 milhões de pessoas que dependem deles no mundo todo.
O Mar do Labrador, na costa canadense, é responsável pelo
aquecimento europeu, e mudanças nele podem causar invernos muito severos, como
a Pequena Era do Gelo entre os séculos XIV e meados do XIX. O degelo do
permafrost da Rússia, Escandinávia e Canadá aumentaria as emissões de carbono e
deformaria as paisagens drasticamente.
A partir de mdanças de 2 °C, as chuvas de monção no oeste
africano e no Sahel seriam severamente afetadas, e a floresta amazônica
entraria no processo de se tornar savana. Mesmo um aumento de 1,5 °C, no
entanto, tem um impacto dependente de quanto tempo permanecerá afetando o clima
— nos piores casos, o aumento teria de continuar por 5 ou 6 décadas
Por enquanto, ainda há tempo de agir, e é esse tipo de aviso
que os cientistas responsáveis pelo estudo trazem com ele. É possível reverter
o avanço de aumentos de 1,5 °C caso as emissões sejam cortadas quanto antes
possível, o que os autores chamam de "pontos de inflexão positivos",
ou seja, mudanças incrementais causadas por ações coletivas societais.