metropoles -13/08/2024 00:00
O Brasil está enfrentando o maior surto de febre oropouche da história. Até o
final de julho foram confirmados 7,5 mil casos em 21 estados no país e há
suspeita de subnotificação pelo baixo acesso aos exames.
Além disso, a doença anteriormente endêmica da Amazônia se espalhou por todo o país e os médicos
documentaram novas complicações que surgiram com o aumento de casos: pela
primeira vez na história foram confirmados óbitos relacionados à oropouche e oito
casos de transmissão mãe-filho estão em investigação, incluindo ocorrências de
morte fetal e malformações congênitas como a microcefalia.
Entre seus sintomas, a oropouche causa febre, mal-estar,
fadiga, dores musculares e desconfortos intestinais, quadro bem parecido com o
da dengue. Em casos raros, o paciente pode evoluir para meningite e febre
hemorrágica.
A doença viral tem um vetor que até este ano não estava no
radar de preocupações, o Culicoides paraensis, o maruim ou
mosquito-pólvora, inseto transmissor da doença.
Como é o mosquito da oropouche?
O maruim tem asas com pontos brancos circulares (de onde vem
o nome pólvora) e vive especialmente em regiões com muitas árvores frutíferas.
“Apesar de ser conhecido como mosquito-pólvora, na prática o
maruim não é um mosquito, é um inseto”, afirma o pesquisador Felipe Gomes
Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto
Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que estuda a doença desde 2008. O vetor pertence
aos dípteros, grupo de animais onde está a mosca.
Embora a diferença pareça apenas uma questão de
nomenclatura, isso impacta diretamente no controle da doença. Uma nota técnica para orientar equipes de saúde publicada
em agosto pelo IOC indica que os métodos tradicionais de controle de doenças
por picadas de insetos podem não funcionar contra o maruim.
Como evitar o maruim?
O maruim é muito pequeno e tem cerca de 1,5 mm, menor que
outros insetos transmissores de doenças que já conhecemos, como o Aedes
aegypti, que chega a 7 mm quando cheio de sangue. O pernilongo comum fica entre
3 e 4 mm. Por isso, as redes de proteção e os mosquiteiros podem ser pouco
eficazes contra o mosquito-pólvora — ele é tão pequeno que passa por dentro da
trama.
“As telas mais indicadas seriam as feitas de malhas muito
finas, como as de tecido voil (semelhante ao tule)”, indica a pesquisadora
Maria Clara Alves Santarém, uma das curadoras da nota técnica, ao lado de Maria
Luiza Felippe Bauer. Em entrevista à Fiocruz, elas abordaram as principais
características do inseto.
Além disso, por não se tratar de um mosquito, o maruim é
imune aos repelentes e à maioria dos inseticidas. Para proteção individual,
portanto, os especialistas indicam usar roupas longas, especialmente no fim de
tarde. Outro método eficiente é passar óleo corporal na pele, já que o inseto
acaba ficando grudado no óleo e incapacitado de voar por sua pequena dimensão.
Outra diferença importante que caracteriza o maruim é que
ele se reproduz em matéria orgânica em decomposição, não em água. O inseto não
se alimenta preferencialmente de sangue e o faz apenas no período reprodutivo.
Sua picada é mais dolorosa que a dos outros insetos, sendo geralmente sentida.
Pernilingo também pode ser ameaça
Além do maruim, o pernilongo ou muriçoca também podem ser
vetores secundários da oropouche, especialmente em ambientes urbanos. O maruim
pode se infectar a partir de baixa carga viral, ou seja, não precisa ter muito
contato com o vírus, enquanto o pernilongo precisa de alta carga viral. Os
estudos recentes não indicaram ainda, porém, se os pernilongos têm papel no
surto atual da doença.