cnn -20/11/2023 19:17
A temperatura da Terra subiu brevemente acima de um limite
crucial que os cientistas alertam há décadas que poderia ter impactos
catastróficos e irreversíveis no planeta e em seus ecossistemas, segundo dados
compartilhados por uma proeminente cientista climática.
Pela primeira vez, a temperatura média global na sexta-feira
passada (17) foi mais de 2º C mais quente do que os níveis antes da
industrialização, de acordo com dados preliminares compartilhados no X por
Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço
de Mudança Climática Copernicus, da União Europeia.
O limite foi ultrapassado apenas temporariamente e não
significa que o mundo está em um estado permanente de aquecimento acima de 2
graus, mas é um sintoma de um planeta ficando cada vez mais quente, e se
movendo em direção a uma situação climática em que os impactos da crise serão
difíceis – em alguns casos impossíveis – de reverter.
“Nossa melhor estimativa é que este foi o primeiro dia em
que a temperatura global foi superior a 2º C acima dos níveis de 1850-1900 (ou
pré-industrial), a 2,06º C”, escreveu ela.
Burgess disse em seu post que as temperaturas globais na
sexta-feira em questão foram médias de 1,17º C acima dos níveis de 1991-2020,
tornando-se o mais quente de 17 de novembro já registrado. Mas, em comparação
com os tempos pré-industriais, antes dos seres humanos começarem a queimar
combustíveis fósseis em larga escala e a alterar o clima natural da Terra, a
temperatura era 2,06º C mais quente.
A quebra de dois graus ocorreu duas semanas antes do início
da conferência climática da ONU, a COP 28 em Dubai,
onde os países farão um balanço de seus progressos em direção ao Acordo
Climático de Paris, que promete limitar o aquecimento global a 2 graus
acima do pré-níveis industriais, com a ambição de limitá-lo a 1,5º C.
Um dia acima de dois graus de aquecimento “não significa que
o Acordo de Paris tenha sido violado”, disse Burgess à CNN, “mas destaca
como estamos nos aproximando desses limites acordados internacionalmente.
Podemos esperar para ver o aumento da frequência de 1,5º C e 2º C nos próximos
meses e anos.”
O mundo já olha no caminho para romper 1,5º C de aquecimento
em uma base de longo prazo nos próximos anos, um limiar além do qual os
cientistas dizem que os seres humanos e os ecossistemas terão dificuldades para
se adaptar.
Um relatório da ONU publicado nesta segunda-feira (20)
mostrou que, mesmo que os países realizassem seus compromissos atuais de
redução de emissões, o mundo atingiria entre 2,5º C e 2,9º C de aquecimento em
algum momento deste século.
A marca de 1,5º C não representa o pior cenário, mas a cada
fração de um grau de aquecimento acima disso, piores serão os impactos. O
aquecimento a dois graus coloca muito mais da população em risco de condições
meteorológicas extremas e aumenta a probabilidade do planeta de atingir pontos
de inflexão irreversíveis, como o colapso das camadas de gelo polares e a morte
em massa dos recifes de coral.
Richard Allan, professor de ciência climática da
Universidade de Reading, no Reino Unido, chamou a violação de um “canário na
mina de carvão” que “ressalta a urgência de combater as emissões de gases de
efeito estufa.”
Mas ele acrescentou que era “inteiramente esperado que os
dias individuais ultrapassem dois graus acima do nível pré-industrial bem antes
que o alvo real de dois graus Celsius seja violado ao longo de muitos anos.”
Os dados vêm na esteira dos 12 meses mais quentes já
registrados, e depois de um ano de eventos climáticos extremos, sobrecarregados
pela crise climática, incluindo incêndios no Havaí, inundações no norte da
África e tempestades no Mediterrâneo, todos os quais custaram vidas.
Os cientistas estão cada vez mais expressando alarme de que
os dados sobre as temperaturas estão excedendo suas previsões.
Uma série de relatórios verificando a saúde do clima da
Terra e as ações dos seres humanos para combatê-lo nas últimas semanas mostram
que o planeta está se aproximando de um nível perigoso de aquecimento, e não
fazendo o suficiente para mitigar ou se adaptar aos seus impactos.
Um relatório da ONU na semana passada mostrou que, de acordo
com os planos climáticos dos países, a poluição por aquecimento do planeta em
2030 ainda será 9% maior do que em 2010.
De acordo com o Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, o mundo precisa diminuir as
emissões em 45% até o final desta década em comparação com 2010 para ter
qualquer esperança de limitar o aquecimento global a 1,5º C acima dos níveis
pré-industriais. Um aumento de 9% significa que a meta está muito longe.
Outro relatório da ONU também verificou que o mundo está
planejando explodir o limite de produção de combustíveis fósseis que manteria
uma tampa no aquecimento global. Até 2030, os países planejam produzir mais do
dobro do limite de combustíveis fósseis que limitariam o aquecimento em 1,5º C.