New York Times -30/07/2023 11:50
O impacto econômico da onda de calor impiedosa que atinge o sul da Europa, os
EUA e boa parte do Hemisfério Norte pode ser breve na maioria dessas áreas, com
o fechamento temporário de locais turísticos, o cancelamento das refeições ao
ar livre e o aumento nos gastos de energia por causa do ar-condicionado, mas é
bem provável que, em longo prazo, os problemas causados pela mudança climática
sejam bem graves.
A tendência é que incêndios, cheias e secas dominem as
manchetes; outras consequências, mais insidiosas, podem chamar menos atenção,
mas, ainda assim, causar estragos. Segundo os especialistas, as temperaturas
extremas reduzem a produtividade laboral, causam danos à agricultura, elevam a
taxa de mortalidade, atrapalham o comércio mundial e diminuem os investimentos
Uma análise feita por estudiosos associados ao Centro para
Pesquisas de Políticas Econômicas concluiu que a França, a Itália, a Espanha, a
Romênia e a Alemanha foram os países europeus mais afetados pelos desastres de
origem climática dos últimos 20 anos. Entretanto, as nações da porção central e
oriental do continente vêm enfrentando cada vez mais problemas dessa ordem.
Tais ocorrências representam ainda mais pressão nos gastos
públicos, pois os governos se veem obrigados a substituir a infraestrutura
danificada e a fornecer subsídios e auxílio aos prejudicados. O estudo observa
que a arrecadação fiscal também encolhe quando as mudanças climáticas afetam a
atividade econômica.
De acordo com as estimativas da União Europeia, há a
expectativa de que as perdas financeiras relacionadas ao aquecimento global
aumentem significativamente no futuro, ainda que a maioria dos Estados-membros
não tenha mecanismos de coleta e estudo para avaliar esses prejuízos.
Os analistas do Barclays estimam que o custo de cada
desastre climático tenha aumentado quase 77 por cento nos últimos 50 anos.
Em âmbito global, as perdas se ampliarão. Um estudo
publicado em 2022 com o objetivo de medir o impacto das ondas de calor causadas
pelo homem no crescimento econômico global concluiu que as perdas acumuladas
entre 1992 e 2013 ficaram entre 5 trilhões de dólares e 29,3 trilhões de
dólares. "Pensamos no calor extremo como um fenômeno localizado, mas o
mais assustador das ondas que estamos enfrentando no momento, além da
magnitude, é o número absurdo de pessoas atingidas ao mesmo tempo", afirma
Justin Mankin, climatologista do Dartmouth College e um dos autores do estudo.
Segundo ele, só nos EUA há 32 milhões de pessoas que
trabalham ao ar livre. "Mas essa proporção é muito mais alta nos países em
desenvolvimento. O calor extremo também exige mais das usinas de produção de
energia, causando apagões em série, e às vezes até o comprometimento do asfalto
viário. Construímos a economia e uma série de práticas com base no clima como
ele era antes, e não no que está acontecendo agora."