noticias ao minuto -02/12/2024 13:42
Pesquisadores brasileiros anunciaram a descoberta de um gene
que pode conferir proteção contra a Covid-19. O estudo foi realizado com base
na análise de seis casais em que os homens foram infectados pelo vírus
SARS-CoV-2, enquanto suas esposas permaneceram resistentes à doença, mesmo
convivendo de forma próxima. A pesquisa foi conduzida pelo Centro de Estudos do
Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL) e recebeu apoio da Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Os cientistas investigaram o material genético de 86 casais,
dos quais apenas seis permaneceram 'sorodiscordantes' ao longo da pandemia. O
termo se refere a situações em que apenas um dos cônjuges foi infectado,
enquanto o outro permaneceu assintomático, mesmo sem medidas de proteção
especiais no convívio.
A partir de análises de células sanguíneas realizadas em
laboratório, os pesquisadores identificaram que as mulheres resistentes
apresentavam níveis elevados do gene IFIT3. Esse gene está associado à resposta
antiviral e já havia sido relacionado à proteção contra outras doenças, como
dengue, hepatite B e adenovírus.
O IFIT3 codifica uma proteína que se liga ao RNA do vírus,
bloqueando sua replicação e impedindo que ele invada novas células. Isso
interrompe a progressão da infecção, conferindo proteção às mulheres portadoras
dessa característica genética.
“Essa é a primeira vez que conseguimos provar o efeito
protetor do gene em uma situação prática. É muito improvável que essas mulheres
não tenham sido expostas ao SARS-CoV-2 enquanto conviviam e cuidavam dos
maridos infectados”, explicou Mateus Vidigal, autor principal do estudo
publicado na revista Frontiers in Cellular and Infection Microbiology.
O estudo acompanhou os casais desde 2020, no início da pandemia,
e incluiu análises do genoma e de amostras de sangue coletadas logo após a
primeira infecção dos homens e, posteriormente, em 2022, após uma segunda
infecção. Os resultados mostraram que as mulheres resistentes tinham expressão
significativamente maior do gene IFIT3, em comparação aos maridos e ao grupo
controle.
Os pesquisadores acreditam que o gene IFIT3 pode ser um alvo
terapêutico promissor para o desenvolvimento de novas estratégias antivirais.
Segundo Vidigal, essas terapias poderiam potencializar a resposta imunológica
inata, não apenas contra a Covid-19, mas também contra outros patógenos.
Essa descoberta representa um avanço significativo na
compreensão das variações genéticas que podem influenciar a resistência ao
SARS-CoV-2 e abre caminhos para novas abordagens no combate a doenças virais.