globo.com -04/05/2021 22:15
O ator e comediante Paulo Gustavo morreu, nesta terça-feira,
aos 42 anos, por complicações da Covid-19. O humorista travou uma
longa batalha contra a doença desde a sua internação, no dia 13 de
março, no hospital Copa Star, na Zona Sul do Rio. No dia 2 de abril, seu estado
de saúde se agravou e a equipe médica decidiu iniciar terapia
por ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorpórea), que funciona como um
pulmão artificial.
Ele estava intubado desde o dia 21 de março e vinha
apresentando melhoras discretas em seu quadro. Entre domingo e segunda-feira,
porém, o ator teve sua situação agravada em decorrência de uma fístula
bronquíolo-venosa, que permitiu a passagem de bolhas de ar na corrente
sanguínea, causando uma embolia, incluindo o sistema nervoso central.
Nas últimas semanas, amigos, familiares e fãs do comediante
se mobilizaram na torcida pela sua recuperação. O marido de Paulo Gustavo, o
médico Thales Bretas, fez
um desabafo em seu perfil no Instagram, afirmando que estava passando
por "dias difíceis" e pedindo orações para o comediante. Nos
comentários, ele recebeu muitas palavras de apoio de artistas como Larissa
Manoela, Bruna Marquezine, Monique Alfradique, Giovanna Lancellotti e Ludmila
Dayer.
Ao longo de todo período da internação, a humorista Tatá
Werneck foi uma das mais ativas na corrente de oração pela saúde do amigo. No
Twitter, ela compartilhou dezenas de histórias de recuperação de pacientes
graves para enviar força ao comediante.
A morte foi confirmada pela assessoria do ator. Paulo
Gustavo deixa o marido, Thales Bretas, com quem era casado desde dezembro de
2015, e dois filhos, Romeu e Gael, de um ano e meio.
A primeira vez que Paulo Gustavo pensou que gostaria de ser
ator foi ainda criança. Ao assistir uma montagem da peça "O gato de
botas" — baseada no conto de Charles Perrault e adaptada por Maria Clara
Machado —, ele teve a sensação de que queria estar no palco, e não na plateia.
Aquele "estalo" se tornou a semente de um desejo que ele foi
amadurecendo, até decidir ingressar no curso da Casa das Artes de Laranjeiras,
a CAL, em 2002.
No espaço, um dos mais tradicionais da formação de atores no
Rio, ele foi colega de turma de Fabio Porchat e Marcus Majella. Os três se
tornaram grandes amigos e parceiros na profissão. Dois meses após terminarem o
curso, em 2005, Porchat e Paulo Gustavo estrearam a peça
"Infraturas", que tinham escrito juntos — Porchat lembra que a
empreitada dos dois foi um fracasso de público.
Ali, entretanto, já tinha surgido a personagem que viria a
consagrá-lo. No ano anterior, Paulo Gustavo foi convidado por sua amiga, a
atriz Samantha Schmütz, a fazer uma participação especial na peça "O
surto", que vinha tendo sucesso. Foi nessa ocasião que o ator apresentou
pela primeira vez Dona Hermínia para o público. O esquete de oito minutos fez
com que o ator sentisse o potencial da personagem. A recepção do público foi
tão boa que a participação especial virou um quadro fixo na peça.
Assim, após encerrar a temporada de "Infraturas",
"sem um puto no bolso, sem dinheiro de passagem", Paulo Gustavo sabia
que precisava trabalhar. Daí veio a ideia de transformar Dona Hermínia na
protagonista de um monólogo. Após três meses de trabalho, nascia "Minha
mãe é uma peça", inspirada na
sua mãe, Dona Déa Lúcia.
Sem dinheiro para montar o espetáculo, ele procurou a
diretora do Teatro Candido Mendes, onde tinha encenado "Infraturas".
Apresentou o projeto, pediu uma oportunidade e levou. Com o teatro, mas sem
equipe, marcou uma reunião com o diretor João Fonseca e outras pessoas. Sua
proposta era: pago 2% da bilheteria para cada um até fechar o dobro do valor
que eles receberiam por aquele trabalho, tamanha era sua convicção no monólogo.
O cenário foi todo parcelado com cheques de familiares.
A aposta arriscada se revelou um gol de placa. Em menos de
dois meses, já havia sessões extras e o espetáculo se tornou um fenômeno visto
por mais de 2 milhões de espectadores, além de render ao ator o Prêmio Shell em
2006.
O sucesso nos palcos abriu as portas da TV para Paulo
Gustavo, que em 2011 passou a apresentar o "220
volts" , programa de esquetes do canal Multishow. Nos anos
seguintes, protagonizou os humorísticos "Vai que cola" e "A
vila". No ano passado, a TV Globo confirmou a adaptação em série
"Minha mãe é uma peça" para o Globoplay.
As histórias de Dona Hermínia (interpretada por Paulo
Gustavo) e seus dois filhos, Juliano (Rodrigo Pandolfo) e Marcelina (Mariana
Xavier), chegaram ao cinema em 2013, com "Minha mãe é uma peça — O
filme", que também foi sucesso de público, visto por mais de 4 milhões de
espectadores.
Outras duas sequências vieram em 2016 e 2019, também batendo
recordes de bilheteria. O segundo longa levou
9,3 milhões de pessoas ao cinema, e a terceira parte da franquia é
considerada a recordista de bilheteria do cinema nacional, com 11,6
milhões de espectadores — "Nada
a perder" (2018), cinebiografia do bispo Edir Macedo chegou à marca
de12,1 milhões de ingressos vendidos, mas paira a suspeita de que parte
deste total tenha sido adquirida pela Igreja Universal do Reino de Deus e
distribuída entre os fiés, diante
de relatos de sessões esgotadas mas quase sem público. Em sua estreia, em
dezembro de 2019, "Minha
mãe é uma peça 3" chegou a bater “Star Wars — Ascensão Skywalker”,
que estava em sua segunda semana em cartaz.