r7 -09/08/2023 12:27
Um estudo publicado nesta semana, na revista
científica Proceedings of the National Academy of Sciences, trouxe
informações inéditas sobre como a pressão
alta causa alterações nas artérias do cérebro que, com o passar do
tempo, podem provocar demência
vascular, o segundo tipo mais comum de declínio cognitivo.
As artérias do cérebro são capazes de se estreitar e dilatar
em resposta às mudanças na pressão sanguínea.
No entanto, pesquisadores do Centro de Pesquisa Cerebral
Geoffrey Jefferson, da Universidade de Manchester, no Reino Unido, mostram que
a hipertensão pode fazer com que as artérias permaneçam estreitas, restringindo
o fluxo sanguíneo para o cérebro, o que aumenta o risco de uma série de
problemas que incluem derrame e
demência.
O estudo foi realizado em camundongos, mas os autores
reforçam que esses processos de estreitamento e dilatação dos vasos sanguíneos
são muito semelhantes em humanos.
Os cientistas queriam entender o que acontece quando os
vasos sanguíneos ficam mais apertados. Para fazer isso, usaram algumas
ferramentas especiais.
Uma delas é a eletrofisiologia, que é como colocar pequenos
sensores nos vasos sanguíneos para ver como os músculos que os rodeiam estão
trabalhando.
Outra ferramenta é a imagem de cálcio, que ajuda a ver como
o cálcio (um elemento importante) está agindo dentro dos músculos.
Por último, eles usaram a miografia, que é como tirar fotos
dos músculos para ver como eles estão se movendo. Eles descobriram que quando
os vasos sanguíneos ficam mais apertados, isso acontece porque partes
importantes das células musculares que os cercam não estão se comunicando
corretamente.
Essas partes são chamadas de retículo sarcoplasmático e
membrana plasmática. São como peças que ajudam os músculos a saber quando devem
se apertar ou relaxar.
Quando essas peças se afastam umas da outras, os músculos
não conseguem receber o sinal para relaxar.
Sem que esse relaxamento muscular ocorra, os canais de
potássio de grande condutância, que normalmente ajudam a alargar os vasos
sanguíneos (processo chamado de vasodilatação), não funcionam adequadamente.
Em resumo, nas pessoas hipertensas, há um estreitamento dos
vasos sanguíneos permanente porque parte das células musculares que os cercam
não estão se comunicando bem.
Essa descoberta abre caminhos para tratamentos
medicamentosos que possam restaurar essa sinalização, explica o professor Adam
Greenstein, cientista clínico especializado em hipertensão, membro da
Universidade de Manchester e um dos líderes da pesquisa.
"Ao descobrirmos como a pressão alta faz com que as
artérias no cérebro permaneçam contraídas, nossa pesquisa revela um novo
caminho para a descoberta de medicamentos que podem ajudar a encontrar o
primeiro tratamento para a demência vascular. Permitir que o sangue retorne
normalmente às áreas danificadas do cérebro será crucial para interromper essa
condição devastadora."
O cientista ressalta que eventuais achados podem beneficiar
também pacientes com Alzheimer, outra causa de demência, sendo esta a mais comum.
"Quaisquer medicamentos que sejam descobertos para
melhorar o suprimento sanguíneo no cérebro também podem abrir uma nova linha de
ataque no tratamento da doença de Alzheimer, que causa danos muito semelhantes
aos vasos sanguíneos como na demência vascular. Medicamentos para restaurar o
fluxo sanguíneo saudável podem tornar os tratamentos atuais, que se concentram
na remoção de placas de amiloide prejudiciais no cérebro, mais eficazes."
Segundo a Alzheimer's Association, cerca de 5% a 10% das
pessoas com demência têm apenas demência vascular, sendo frequentemente
diagnosticada com outras demências simultaneamente.
Muitos especialistas acreditam que a demência vascular
permanece subdiagnosticada – como a doença
de Alzheimer – embora seja reconhecida como comum.
O impacto das condições vasculares nas habilidades
cognitivas varia dependendo da gravidade dos danos nos vasos sanguíneos e das áreas
específicas do cérebro afetadas.
A perda de memória pode ou não ser um sintoma significativo,
dependendo das áreas específicas do cérebro onde o fluxo sanguíneo é reduzido.
Danos nos vasos sanguíneos que começam em áreas do cérebro
responsáveis pelo armazenamento e recuperação de informações podem causar perda
de memória muito semelhante à doença de Alzheimer.
Os sintomas da demência vascular podem ser mais evidentes
imediatamente após um acidente vascular cerebral grave, incluindo confusão,
desorientação, dificuldade em falar ou entender a fala, e sintomas físicos,
como dores de cabeça súbitas, dificuldade para caminhar, desequilíbrio ou
dormência ou paralisia de um lado do rosto ou corpo.
Múltiplos derrames pequenos ou outras condições que afetam
os vasos sanguíneos e as fibras nervosas dentro do cérebro podem causar
mudanças mais graduais no pensamento à medida que os danos se acumulam.
Sinais comuns precoces de doença de pequenos vasos
generalizada incluem planejamento e julgamento prejudicados, riso e choro
incontroláveis, diminuição da capacidade de prestar atenção, função prejudicada
em situações sociais e dificuldade em encontrar as palavras certas.
A hipertensão mata
por dia 388 pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. Embora seja uma
doença hereditária, em 90% casos, há fatores de risco que podem influenciá-la.
Dentre eles estão o tabagismo, consumo de bebidas
alcoólicas, obesidade, estresse, ingestão elevada de sal, colesterol alto e
falta de atividade física.
"Além desses fatores de risco, sabe-se que a incidência
da pressão alta é maior na raça negra, em diabéticos, e aumenta com a
idade", acrescenta o Ministério da Saúde.
Esta é uma doença silenciosa, mas quando há picos de
pressão, os pacientes podem sentir dores no peito e/ou na cabeça, tontura,
zumbido, fraqueza, visão embaçada e sangramento nasal.
Uma vez que o indivíduo seja diagnosticado com hipertensão
por um médico, há uma série de medicamentos disponíveis para manter a pressão
arterial em níveis normais. Mudanças no estilo de vida também fazem parte do
tratamento.