cnn -25/07/2025 15:41
O luto é um processo comum e uma resposta natural à perda de
um ente querido. No entanto, para uma parcela dos enlutados, o sentimento pode
ser tão avassalador que pode desencadear doenças físicas e mentais, como
depressão, ansiedade e condições cardiovasculares. Estudos já mostraram que
pessoas enlutadas utilizam serviços de saúde com mais frequência em comparação
com quem não passou por uma perda recente.
Agora, um novo trabalho realizado por pesquisadores da
Dinamarca mostra que pessoas que sofreram um luto intenso tinham maior probabilidade de morrer em 10
anos. Os resultados foram publicados nesta sexta-feira (25) na revista
científica Frontiers in Public Health.
Para realizar o estudo, os pesquisadores acompanharam 1.735
mulheres e homens enlutados, residentes na Dinamarca, com idade média de 62
anos. Entre eles, 66% tinham perdido recentemente o parceiro, 27% um dos pais e
7% outro tipo de relação amorosa.
Trajetórias de luto
Anteriormente ao estudo, os pesquisadores identificaram
cinco "trajetórias" de luto, com base na intensidade dos sintomas nos
primeiros três anos após a perda de um ente
querido.
Pessoas na trajetória baixa (38%) apresentaram níveis
persistentemente baixos de sintomas de luto, enquanto 6% tinham uma trajetória
alta, com níveis persistentemente elevados. Três outras categorias situaram-se
entre esses extremos: 18% e 29% seguiram uma trajetória "alta, mas
decrescente" e uma "moderada, mas decrescente", respectivamente,
e 9% uma trajetória de "início tardio", com um pico de sintomas cerca
de seis meses após o luto.
No atual estudo, os pesquisadores estenderam o
acompanhamento dos participantes para 10 anos, até 2022. Eles utilizaram dados
do Registro Nacional de Saúde da Dinamarca para avaliar a frequência com que
cada participante recebeu "terapia da fala" de um clínico geral ou
especialista, ou recebeu prescrição de algum medicamento psicotrópico.
Segundo o estudo, os participantes na trajetória alta de
luto tinham uma taxa 88% maior de risco de morrer em 10 anos do que os
participantes na trajetória baixa. Além disso, os enlutados que passaram por sentimentos
mais intensos tinham maior probabilidade de receber serviços de saúde
adicionais, além de três anos após o luto.
Por exemplo, esse grupo tinha 186% mais chances de receber
terapia da fala ou outros serviços de saúde mental, 463% mais chances de receber
prescrição de antidepressivos e 160% mais chances de receber prescrição de
sedativos ou ansiolíticos.
As diferenças na frequência de uso desses serviços de saúde
entre as cinco trajetórias não foram mais significativas após os primeiros oito
anos, mas o excesso de mortalidade dos participantes na trajetória
"alta" permaneceu pronunciado ao longo dos 10 anos completos de
acompanhamento.
"Já havíamos descoberto uma conexão entre altos níveis
de sintomas de luto e maiores taxas de doenças cardiovasculares, problemas de
saúde mental e até suicídio. Mas a associação com a mortalidade precisa ser
investigada mais a fundo", afirma Mette Kjærgaard Nielsen, pesquisadora de
pós-doutorado na Unidade de Pesquisa de Clínica Geral em Aarhus, Dinamarca, e
autora correspondente do estudo, em comunicado.