CNN -02/09/2025 13:38
O uso intenso de redes sociais entre adolescentes tem sido
associado ao agravamento de diversos problemas de saúde mental. Um consenso
internacional, apoiado por entidades como a OMS (Organização Mundial da Saúde)
e a Academia Americana de Pediatria, alerta que a exposição prolongada e sem
controle a essas plataformas pode ampliar quadros de ansiedade, depressão,
distúrbios do sono, transtornos alimentares e dificuldades de concentração.
Segundo Gustavo Yamin Fernandes, coordenador de psiquiatria
do Hospital Samaritano Higienópolis, o risco é maior entre os 12 e 17 anos,
fase em que o cérebro ainda está em desenvolvimento. “O uso problemático não se
resume ao tempo de tela, mas à perda de controle, ao sofrimento emocional e aos
prejuízos nas atividades diárias. A comparação constante com padrões
idealizados, a busca por validação e a exposição a conteúdos irreais impactam
diretamente o bem-estar dos jovens”, afirma.
Paula Gibim, psiquiatra do Hospital Samaritano Barra, no Rio
de Janeiro, também aponta efeitos como cansaço diurno, dificuldade de manter a
atenção e sinais de abstinência quando o adolescente é impedido de acessar o
celular. “A presença constante das redes afeta o sono, os hábitos alimentares, a autoestima e até a
qualidade dos relacionamentos fora do ambiente digital”, diz.
Transtornos surgem ou se intensificam com o uso contínuo
Estudos indicam que o uso excessivo das redes pode favorecer
o surgimento ou agravamento de quadros como TDAH,
transtornos alimentares, depressão e ansiedade.
A exposição prolongada a imagens filtradas e estilos de vida idealizados
contribui para insegurança corporal, frustração e sentimentos de inferioridade.
“Adolescentes passam a se comparar não com a realidade, mas com versões
editadas de outras pessoas. Isso distorce a percepção e eleva as cobranças
internas”, explica Fernandes.
Gibim destaca que essa comparação também afeta o
comportamento de meninas, mais expostas a conteúdos que incentivam dietas
extremas ou padrões estéticos inatingíveis. Além disso, há o risco de contato
com comunidades que estimulam práticas autoagressivas, como desafios perigosos
ou grupos que promovem transtornos alimentares. “Muitos desses sinais surgem de
forma sutil e podem ser confundidos com mudanças naturais da adolescência, o
que exige atenção redobrada dos pais”, afirma.
Supervisão ativa e rotina fora das telas são parte da
prevenção
Ambos os especialistas defendem que o uso das redes seja
monitorado por responsáveis e discutido em casa. A recomendação da OMS e da Academia
Americana de Pediatria é que adolescentes tenham, no máximo, duas horas diárias
de lazer com telas e que o uso de dispositivos seja evitado antes de dormir. O
Ministério da Saúde orienta que o acesso às redes sociais seja evitado antes
dos 12 anos e controlado até os 17.
Gibim afirma que ações simples, como estabelecer momentos
“offline” durante refeições ou viagens, ajudam a reequilibrar a rotina e
favorecem o diálogo. “O comportamento online precisa ser supervisionado,
incluindo o tempo de uso, os tipos de conteúdo acessados e as interações
mantidas. A resistência à supervisão também pode ser um sinal de alerta”, diz.
Fernandes reforça que a escola tem papel complementar nesse
processo. Além de adotar políticas de uso consciente da tecnologia, pode
incentivar práticas esportivas e atividades presenciais para reduzir o tempo de
tela e ampliar os vínculos sociais. “O exemplo dos adultos também pesa. Pais e
professores precisam refletir sobre como usam a tecnologia, porque adolescentes
tendem a repetir esses modelos.”