agencia brasil -03/12/2024 18:52
Cerca de 40% das gestantes ouvidas em uma pesquisa sobre
imunização não sabiam da existência de um calendário de vacinas específico para
a gravidez. Seis em cada dez achavam que os imunizantes são voltados
apenas para a mãe, ignorando a proteção que também é transmitida para os bebês.
O levantamento encomendado pela farmacêutica Pfizer ao Instituto de
Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Idec) mostra ainda que 11%
das entrevistadas das classes A e B receberam dos próprios médicos a
recomendação de não se imunizar durante a gravidez. Além disso, 11% dos
profissionais de pré-natal não falaram sobre vacinas com as pacientes.
Outros dados mostram a importância do trabalho educativo dos
profissionais de saúde. Entre as gestantes que receberam a recomendação de
tomar os imunizantes adequados, 96% seguiram a indicação. Por outro lado,
dúvidas perigosas ainda contaminam as gestantes brasileiras: 10% delas
confessaram acreditar que os imunizantes podem causar autismo nos bebês,
uma das mentiras mais antigas sobre as vacinas, já refutada pela comunidade
científica. E ainda 14% achavam que as vacinas podem provocar alterações genéticas
nos fetos, algo impossível, mas bastante alardeado em discursos antivacina.
Imunizantes
Atualmente, as gestantes brasileiras devem tomar cinco
vacinas, disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). A tríplice bacteriana
acelular do tipo adulto, ou DTPa, é praticamente exclusiva para grávidas e deve
ser tomada em todas as gestações, pois protege a mãe contra a difteria, o
tétano, impede que ela transmita coqueluche ao feto e também possibilita a
passagem de anticorpos, protegendo os bebês nos primeiros meses de vida, até
que eles possam ser vacinados contra a doença. Além disso, gestantes que não
tiverem comprovante de vacinação contra difteria e tétano devem receber
estas doses antes da DTPa. A difteria pode ser transmitida pela mãe
para o bebê e o tétano pode ser adquirido por contaminação durante o parto.
Ambas as doenças tem alta taxa de mortalidade entre recém-nascidos.
Também é importante que a gestante tenha sido imunizada com
pelo menos três doses da vacina contra a hepatite B, doença viral que pode ser
transmitida para o bebê e aumenta o risco de parto prematuro. O esquema deve
ser completado mesmo após o parto, já que a hepatite pode ser transmitida até
pelo leite materno. Além disso, gestantes e puérperas fazem parte do grupo
de risco de influenza e covid-19. A vacina contra a gripe deve ser tomada
durante a campanha anual, já o imunizante contra a covid-19 agora faz parte do
calendário básico e pode ser aplicado a qualquer tempo.
Para a vice-presidente da Sociedade Brasileira de
Imunizações, Melissa Palmieri, as entidades de saúde precisam se engajar em um
trabalho contínuo e coordenado de formação dos profissionais, para que eles
recomendem e cobrem a vacinação das pacientes.
"A grande dificuldade é que às vezes a gente sente que
está pregando pra quem é totalmente convertido. E nós precisamos chegar àquele
ginecologista, obstetra que ainda não tem um conhecimento tão grande sobre a
importância de ele colocar dentro do pré-natal, como um item essencial em toda
a consulta. E é um trabalho contínuo porque novos médicos se formam todos os
anos. E quando a gente fala de médicos que atendem gestantes, não são só
ginecologistas, tem a medicina de família e comunidade que precisa saber da
importância da sensibilização. E cada vez mais as famílias também procuram
pediatras antes do nascimento."
Vírus sincicial
A pesquisa também fez algumas perguntas específicas sobre a
imunização contra o vírus-sincicial respiratório - VSR, o principal causador da
bronquiolite, doença do aparelho respiratório que pode se tornar grave
principalmente em bebês. Os dados mostram que 94% das gestantes já ouviram
falar sobre a doença, mas apenas 22% sabem que o principal causador dela é um
vírus. De acordo com dados da plataforma Infogripe, da Fundação Oswaldo Cruz,
até novembro, foram registrados 26 mil casos de Síndrome Respiratória Aguda
Grave causados por VSR, 4 mil a mais do que em todo o ano passado. A maior
parte desses pacientes eram crianças pequenas.
Atualmente, há duas vacinas contra o VSR autorizadas para
uso no Brasil, a Arexvy, da farmacêutica GSK, recomendada para idosos, e a
Abrysvo, da Pfizer, que também pode ser aplicada em gestantes. Elas não fazem
parte do Programa Nacional de Imunizações, mas estão disponíveis na rede
privada.