folhapress -02/09/2025 12:19
O primeiro medicamento destinado a tratar o
comprometimento cognitivo ou demência leve no início do Alzheimer, o Kisunla
(donanemabe), começará a ser disponibilizado no Brasil. O tratamento é indicado
para pacientes com estágio inicial da doença e será encontrado somente em
algumas clínicas e hospitais particulares, sem previsão para chegada ao Sistema
Único de Saúde (SUS).
Em abril, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) aprovou o medicamento indicado para o tratamento de comprometimento
cognitivo leve ou demência leve associados ao Alzheimer sintomático inicial.
Trata-se de um anticorpo monoclonal fabricado pela
farmacêutica Eli Lilly, que atua na redução de placas beta-amiloide no cérebro.
É o terceiro medicamento capaz de alterar o curso da doença a longo prazo; são
medicamentos anti-amiloide -o primeiro, Aducanumab, foi descomercializado e
nunca chegou ao Brasil e o outro é o Lecanemabm que não possui aprovação da
Anvisa. O Kisunla não trata sintomas como perda de memória, desorientação,
mudanças na personalidade e no comportamento, mas pode ajudar a retardar a
progressão da doença.
Segundo a farmacêutica, foram investidos US$ 8 bilhões
(cerca de R$ 43, 5 bilhões) nesse medicamento.
Em estudo feito em oito países com 1.736 pacientes em estado
inicial, os que usaram dosagem de 700 mg e 1.400 mg a cada quatro semanas
resultaram em menor progressão da doença em comparação ao placebo. Outros
estudos apresentados pela Eli Lilly mostraram que o tratamento retardou o
declínio clínico em 35% e reduziu o risco de progressão da doença em até 39%,
além de remover placas amiloides em 76% dos pacientes após 18 meses.
Especialistas ouvidos pela Folha afirmam que o efeito clínico é
estatisticamente significativo, mas ainda modesto.
O produto injetável, administrado uma vez por mês, será
comercializado em embalagem de ampola com doses de 20 mililitros sob prescrição
médica. A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), que estabelece
os valores dos medicamentos, determinou que o frasco pode chegar a um preço
máximo de R$ 5.495,76, de acordo com a alíquota estadual de 22% de ICMS. Mas as
clínicas podem aumentar o valor por outros serviços prestados.
Unidades do Alta Diagnóstico, da rede Dasa, comercializarão
o medicamento em São Paulo e no Rio de Janeiro a partir de R$ 8.000. O preço
inclui a medicação, o neurologista que vai acompanhar o paciente antes e depois
da aplicação, materiais e todo o atendimento. A rede Mater Dei também
comercializará o medicamento.
"A gente ficou muitos anos sem aprovação de novos
medicamentos para a doença de Alzheimer, praticamente 20 anos, e realmente a
aprovação desse tipo de medicamento causa otimismo", diz Raphael Spera,
neurologista do Hospital Sírio-Libanês.
Em relação aos efeitos colaterais, os pacientes podem
apresentar mal-estar, tremores, calafrios, alterações, por exemplo,
pressóricas, mas que são transitórios e, em geral, leves, melhorando às vezes
até espontaneamente. No entanto, os efeitos que mais preocupam os médicos se
chamam ARIA, que vem do inglês Amyloid Related Imaging Abnormalities, que são
as alterações de imagens relacionadas ao tratamento anti-amiloide.
Spera explica que existem dois tipos de ARIA: o edema, como
se fosse uma inflamação relacionada à retirada dessa proteína beta-amiloide, e
o H, de hemorragia, que na maior parte das vezes está relacionado a
microssangramentos no cérebro. "A gente tem que estimar o risco disso para
evitar ao máximo que o paciente tenha esses efeitos", diz. O medicamento
não é recomendado para pacientes de Alzheimer portadores do gene da
apolipoproteína E ?4 (ApoE ?4), que possuem risco maior de apresentar esses
efeitos.
Essas alterações, afirma o neurologista, muitas vezes são
assintomáticas, o que faz necessário um exame de imagem para ver se o paciente
apresenta tais alterações. "Isso tem que ser monitorizado de forma muito
criteriosa pelo médico que está acompanhando o paciente em tratamento. Essas
alterações ocorrem principalmente no início do tratamento", diz.