metropoles -21/10/2023 23:36
Os antidepressivos são fundamentais no tratamento de
alguns transtornos de saúde mental. No entanto, muitas vezes, eles demoram
semanas para fazer efeito e a ciência ainda não sabe muito bem por que isso
acontece.
Para responder a essa pergunta, psiquiatras da Universidade
de Copenhague, na Dinamarca, realizaram um estudo com pacientes sem depressão.
Os resultados foram apresentados no Congresso Europeu de Neuropsicofarmacologia, em 8 de
outubro, em Barcelona, Espanha, e sugerem que a resposta está na própria
estrutura do cérebro.
Durante os testes, os pesquisadores deram antidepressivos
para 32 voluntários que não tinham a doença. O objetivo era avaliar apenas a
atividade fisiológica do órgão e não o efeito relacionado ao sintomas.
“Descobrimos que quem tomou antidepressivos teve um aumento
gradual na atividade cerebral, mas esse aumento foi aparecendo ao longo do
tempo. As sinapses se acumularam ao longo de semanas, o que explica as razões
dos efeitos dessas drogas demorarem”, explicou a neurocientista Gitte Knudsen,
do Hospital Universitário de Copenhague, em comunicado à imprensa.
Como foi a pesquisa?
Os antidepressivos usados pelos voluntários durante a
pesquisa são os que menos causam efeitos adversos: os inibidores seletivos da
recaptação da serotonina (ISRS).
A medicação bloqueia um processo natural do organismo
de reciclagem de serotonina no cérebro. A serotonina é a
substância que regula a comunicação entre os neurônios e é renovada
periodicamente.
Metade do grupo tomou o remédio indicado, enquanto o outro
tomou um placebo. Os voluntários foram avaliados com o uso de tomografias para
observar o volume de atividade cerebral deles.
Remédios levam o cérebro a acumular serotonina e ter maior
atividade cerebral
Como os antidepressivos funcionaram?
Ao longo do primeiro mês de uso dos remédios, não houve
nenhuma diferença entre os grupos, sugerindo que o processo de estabilização
precisa ser construído com o tempo.
Depois das cinco semanas, os voluntários que tomaram
antidepressivos tinham um deslocamento de atividade cerebral – marcada pelas
sinapses, que são as comunicações entre neurônios – para as regiões do cérebro
responsáveis pelo trato das emoções (neocórtex) e da memória (hipocampo).
Os cientistas acreditam que a reciclagem de serotonina
precisa ser interrompida por um grande período até que ocorra uma mudança
química que estimule a formação de sinapses em outras áreas. “Comprovamos que o
remédio foi capaz de aumentar as sinapses das áreas mais afetadas pela
depressão”, conclui Knudsen.