metropoles -08/03/2024 11:34
A endometriose é uma doença que atinge uma em cada dez
mulheres no Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Caracterizada pela
proliferação do tecido endometrial fora do útero, a condição causa dores
intensas e irregularidade na menstruação, impactando a vida da mulher em vários
aspectos, inclusive na carreira.
Um estudo da Academy of Managed Care Pharmacy, de 2017,
chama atenção para a importância do diagnóstico e controle dos sintomas, bem
como para a necessidade das empresas oferecerem acolhimento e alternativas de
cuidado às funcionárias.
Os pesquisadores da organização norte-americana analisaram
dados de aproximadamente 1,4 mil mulheres diagnosticadas com endometriose em 10
países, incluindo o Brasil. Segundo eles, uma mulher com endometriose perde, em
média, seis horas de produtividade no trabalho por semana.
A conta dos pesquisadores levou em conta as faltas
provocadas pela dor incapacitante e os momentos em que a paciente está
trabalhando acometida pelos sintomas da endometriose.
Endometriose
A endometriose é uma doença genética, crônica e
progressiva. O útero é revestido pelo endométrio, um tipo de tecido que é
expelido do corpo conforme o ciclo menstrual. O diagnóstico ocorre quando o
tecido cresce fora do útero, em regiões da cavidade abdominal, como os ovários
e a bexiga.
A maioria das pacientes desenvolve a doença durante a
puberdade e os sintomas se intensificam de forma progressiva com cólica persistente no período menstrual, dor nas
pernas e ao evacuar.
“Estima-se que 70% das pacientes com a doença sejam
sintomáticas e tenham como principais sinais a cólica e a dor lombar”, afirma o
ginecologista Luís Otávio Manes, especialista em endometriose.
Diagnóstico e tratamento
De acordo com o médico, o diagnóstico da endometriose é
feito tardiamente, levando em média 10 anos para ser realizado. Esse tempo tem
impactos significativos na qualidade de vida das mulheres.
“Faz com que elas passem por situações que afetam
diretamente a produtividade no trabalho. Pesquisas recentes mostram que cerca
de 70% das mulheres que têm endometriose acabam tendo algum tipo de problema no
ambiente profissional e, na maioria das vezes, desenvolvem sintomas depressivos
como ansiedade, alteração do humor e fadiga crônica”, relata.
Em casos mais graves, a dor intensa pode ocasionar faltas ao
trabalho por conta de consultas médicas, exames, cirurgias ou, simplesmente,
pela incapacidade de realizar as tarefas devido aos sintomas.
A endometriose pode dificultar ainda a participação em
treinamentos, viagens de trabalho e outras atividades importantes para o
desenvolvimento profissional.
O diagnóstico precoce e o tratamento adequado ajudam a reduzir
os sintomas e a melhorar a qualidade de vida das pacientes, o que se reflete na
vida profissional.
“É necessário um esforço conjunto da sociedade, empresas e
governo para garantir que as mulheres com a doença tenham acesso ao diagnóstico
e tratamento adequados, além de um ambiente de trabalho inclusivo e livre de
discriminação”, ressalta o especialista.
Licença menstrual
As empresas podem oferecer apoio às pacientes com a
flexibilização da jornada de trabalho, possibilidade de trabalho remoto e licenças
médicas para tratamento. “É importante conscientizar a sociedade sobre a
endometriose e seus impactos, para que as mulheres com a doença sejam
compreendidas”, avalia o ginecologista.
A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) promulgou,
na quarta-feira (6/3), a Lei Complementar nº 1.032/2024, que garante “licença menstrual” para servidoras públicas do
Distrito Federal. O projeto de lei prevê o distanciamento do trabalho por até
três dias consecutivos por mês em caso de “sintomas graves associados ao fluxo
menstrual, após homologação pela medicina do trabalho ou ocupacional”.