noticias ao minuto -24/03/2025 18:49
Segundo o Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS (2022), uma em cada oito pessoas no mundo vive com algum transtorno mental, sendo a ansiedade e a depressão os mais comuns, representando 60% dos casos.1 No Brasil, cerca de 9,3% da população convive com ansiedade, enquanto a depressão afeta 5,8%.2,3 Esses transtornos não apenas comprometem o bem-estar mental, mas também podem impactar gravemente a saúde do coração.
A médica Patrícia Oliveira, do Centro de Cardiologia do
Hospital Sírio-Libanês, área liderada pelo médico cardiologista Roberto Kalil
Filho, explica que, para além de uma questão comportamental, o coração e o
estado de espírito estão intimamente relacionados. “Transtornos mentais
desencadeiam alterações biológicas importantes, mudando as vias de sinalização
entre o sistema nervoso central e os órgãos. Além disso, podem levar à elevação
de citocinas inflamatórias, agravando condições como aterosclerose e isquemia
miocárdica”, afirma.
A especialista explica ainda que quadros de depressão e
ansiedade se caracterizam pela hiperativação do sistema simpático (que prepara
o organismo para reagir em situações de medo, estresse e excitação) e liberação
de cortisol. “Como resultado, os indivíduos podem sofrer com vasoconstrição e
aumento da pressão arterial e frequência cardíaca”, conta.
Um dos maiores exemplos do impacto das doenças mentais na
saúde do coração tem nome conhecido: a ‘síndrome do coração partido’ é uma
cardiopatia induzida por estresse, que se manifesta de maneira similar ao
infarto agudo do miocárdio, mas sem lesões ateroscleróticas obstrutivas,
caracterizadas pelo estreitamento e enrijecimento das artérias causado pelo
acúmulo de gordura em suas paredes. Neste caso, segundo a especialista, o
estresse e a depressão ativam o sistema neuro-hormonal, levando a liberação de
substâncias que reduzem o fluxo sanguíneo no músculo cardíaco (vasoconstrição)
e possível lesão celular.
Cuidados multidisciplinares
A abordagem multidisciplinar é essencial para prevenir os
efeitos negativos da ansiedade e depressão no coração. "O acompanhamento
por uma equipe que inclui cardiologistas, psicólogos e psiquiatras é
fundamental, especialmente em pacientes que já passaram por eventos
cardíacos", explica Patrícia.
Entre as abordagens estão:
Terapias psicológicas e psiquiátricas: ajudam a tratar os
transtornos mentais, reduzindo o risco cardiovascular.
Exercícios físicos regulares: promovem bem-estar
emocional e melhoram a saúde cardiovascular.
Medicação apropriada: quando indicada, pode controlar
sintomas emocionais e prevenir complicações cardíacas.
Além disso, protocolos clínicos específicos permitem o
rastreio precoce de transtornos mentais em pacientes cardíacos, melhorando
tanto a qualidade de vida quanto a sobrevida. "O equilíbrio emocional é
tão importante quanto o controle de fatores tradicionais, como colesterol e
pressão arterial. Ao cuidar da saúde mental, estamos cuidando também do
coração", conclui a cardiologista.